sábado, 14 de janeiro de 2017

Conferência Internacional de Paris quer criar Estado palestino já - Dia 15, reunem-se em Paris os ministros das relações exteriores de 70 países na esperança de desbloquear o problema crônico da política internacional.

Wikimedia Commons


Leneide Duarte-Plon, de Paris*


A urgência ficou evidente. A posse de Trump pode enterrar todos os esforços feitos até hoje.

Ou se cria o Estado Palestino na Conferência Internacional de Paris ou adeus sonho de um Estado para solucionar definitivamente o « problema palestino » que se arrasta há quase 70 anos.

Dia 15, reunem-se em Paris os ministros das relações exteriores de 70 países na esperança de desbloquear o problema crônico da política internacional antes que seja tarde demais.

Em defesa desse objetivo, um coletivo de 12 embaixadores franceses assinou no jornal « Le Monde » de 10 de janeiro um artigo que dizia ser « evidente que um Estado palestino não poderá nascer sem pressão internacional. Ele já foi reconhecido por 137 Estados nas Nações Unidas mas não ainda pelos Estados ocidentais mais importantes, paralisados pela História ou muitas vezes por influências eleitorais ou partidárias. Esse Estado não tem provavelmente mais nenhuma chance de ser criado depois de 20 de janeiro, data da posse do novo presidente americano ».

Na abertura do texto, os representantes do Quai d’Orsay dizem que « a tomada sistemática das terras palestinas pela colonização israelense, o aumento crescente da posse de Jerusalém, o estado de sítio permanente de Gaza, deixam pouca margem ao projeto de um Estado palestino. »

A França é um dos Estados ocidentais de peso que ainda não reconheceram o Estado palestino. Essa posição pode mudar na própria Conferência de Paris. O texto dos embaixadores enfatiza que seria honroso para a França reconhecer o Estado palestino : « Tal gesto, cujo significado político e moral é incontestável, se inscreverá na sua política tradicional em favor da liberdade e dos direitos humanos. Reparemos rapidamente uma injustiça da Histo'ria. Israel, a cujo destino somos ligados, será  o primeiro beneficiário, tanto para sua segurança quanto pelo seu papel no desenvolvimento da região na qual é preciso perenizar sua presença"

O embaixadores sublinham que não se pode ver como Israel escaparia ao perigo de sanções. "Pedindo a etiquetagem dos produtos provenientes das colônias israelenses, a União Europeia, coerente com sua condenação das colônias, abriu a via das sanções. Essa é perigosa para Israel, aberto ao mundo exterior e, dessa forma, vulnerável. Deve-se lembrar do papel que desempenharam as sanções no fim do Apartheid na Africa do Sul".

Mas a Conferência Internacional de Paris será realizada sem a presença dos dois principais interessados, Israel e os representantes da Palestina pois Benjamin Netanyahu sempre se mostrou hostil a qualquer tentativa de solução internacional do conflito. E qualificou a Conferência Internacional pelo Oriente Médio como uma « impostura ».

E sabe-se que ele já conta com Trump para enterrar de uma vez o sonho de um Estado palestino.

O artigo coletivo responde a essa armadilha que Netanyahu coloca de uma suposta negociação a dois que nunca foi realizada.

« Nem a lei do mais forte nem o messianismo religioso podem ser considerados como fundadores de direitos territoriais em proveito do Estado de Israel. A apropriação progressiva de Jerusalém Leste e de uma parte crescente da Cisjordânia é inconciliável com a ideia de negociação. Uma partilha equitável não pode ser obtida por uma negociação bilateral em razão da desproporção das forças das duas partes implicadas ».

O ministro  das Relações Exteriores francês, Jean-Marc Ayrault, reconheceu em entrevista que a França quer ter um papel na solução do conflito:      

« A França tem interesse na reunião de Paris para relançar o processo de paz no Oriente Médio que se encontra bloqueado. Ela quer reafirmar a necessidade de dois Estados ».
        
As últimas tentativas de uma solução internacional para o conflito foram feitas na primavera de 2014, quando John Kerry encerrou as viagens ao Oriente Médio na tentativa de encontrar um acordo de paz.

Leneide Duarte-Plon é autora de « A tortura como arma de guerra-Da Argélia ao Brasil : Como os militares franceses exportaram os esquadrões da morte e o terrorismo de Estado » (Editora Civilização Brasileira, 2016)».

*

Nenhum comentário: