quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

GLOBO FEZ COM VANDRÉ EM 68 O QUE FAZ HOJE COM TUIUTI - MERCADANTE: TUIUTI É A VITÓRIA DA ESCOLA PÚBLICA - PARAÍSO NOW.



Creio que a palavra “Boicote” é a melhor forma de definir os minúsculos segundos assegurados pelo Jornal Nacional ao desfile da Escola Paraíso do Tuiuti, desde já a grande vitoriosa do carnaval carioca de 2018.

Num país onde as instituições políticas se encontram esfrangalhadas -- situação para a qual a Globo deu uma contribuição notória e insubstituível -- a Escola não só apresentou boa qualidade técnica e inegável originalidade. Também fez aquilo que se espera da boa arte popular – colocar o dedo na ferida dos problemas que incomodam a vida do povo.

Para resumir: se o tema eram os 130 anos de Abolição da Escravatura, a conclusão do desfile era uma denuncia do governo Temer e o retrocesso em estilo pré-13 de maio de 1888 no qual o país foi colocado. Simples, direto, exagerado e divertido – como convém a todo desfile de Escola de Samba, vamos combinar.

Ao minimizar a participação da Paraíso do Tuiuti, privilegiando apresentações convencionais, cujo maior destaque eram novidades de sempre em torno de celebridades homenageadas, a Globo repetiu um piores momentos de sua história cultural. 

Estou falando do Festival Internacional da Canção, realizado em 1968, em plena ditadura militar, excrescência que a Globo apoiou até o final. Na conjuntura de opressão e violência do período – o golpe dentro do golpe do AI-5 iria ocorreu no final do mesmo ano -- a música Caminhando, de Geraldo Vandré, dava voz e alma a uma juventude que não se rendia.

Logo adotada pela platéia que transformou os festivais num ambiente de protesto político -- normal em toda ditadura, como sabemos -- Caminhando também chamou a atenção do regime militar.

Conforme o executivo Walter Clark revelou ao jornalista Gabriel Priolli, o general Sizeno Sarmento, porta-voz da linha mais dura dos quartéis, comandante do I Exército, exigiu que a música de Vandré fosse vetada. Não poderia ganhar o primeiro lugar de forma nenhuma -- determinou. 

O final todos conhecem. Nascida e amamentada pela aliança com a ditadura, a Globo, que era a organizadora do Festival, ajoelhou-se. Enquanto a juventude e os trabalhadores resistiam e lutavam, ela abria o caminho para uma fase mais cruel do regime. 

Caminhando ficou em segundo lugar, resultado que produziu uma das mais longas e vergonhosas vaias da história do Rio de Janeiro mas ajudou a emissora a consolidar seu prestígio político único entre a cúpula militar.

Quarenta anos depois, terá havido algum telefonema do Planalto para a Venus Platinada, em nome de uma reaproximação com o Vampiro da avenida, há pouco realizada? Quem sabe?

Sabemos outra coisa. Ao tentar transformar o desfile da Paraíso do Tuiuti num asterisco do carnaval 2018, a Globo repete os piores momentos de sua história. Como todos já aprenderam em bons livros, há uma diferença essencial. Há 40 anos, o país vivia sob a tragédia de uma ditadura.

Em 2018, o que se assiste é uma farsa, na qual a Globo não apenas apoia o governo, mas funciona como o Big Brother de um projeto de estado de exceção.

Neste ambiente, a emissora age responsável pela novilíngua dos nossos tempos. Essa noção, criada pelo escritos britânico George Orwell, para denunciar o universo cultural do nazismo e do stalinismo, procura submeter a sociedade pela inversão de significados e sentidos nas coisas. Assim, Mentira vira verdade, Corrupção vira Honestidade, Alegria é Depressão, Jornalismo é Fraude e Carnaval, Manipulação. O boicote a Paraíso do Tuiuti é isso. 

Ao colocar-se nessa posição, o jornalismo da Globo se encaixa na crítica que, 30 anos atrás, o teatrólogo Arthur Miller, um dos mais respeitados do século XX, fez ao poder da imprensa norte-americana sobre o teatro de seu país.

Vamos acompanhar o raciocínio, que se encaixa muito bem neste debate sobre a TV brasileira: “em amplíssima medida, o teatro que temos é o teatro que os críticos permitiram que tivéssemos, posto que filtram e depuram o que segundo eles não devemos ver, aplicando leis jamais escritas, leis, entre outras, do gosto até do conteúdo ideológico”. 

Em outra passagem, Miller define a situação em termos diretos: “temos uma ditadura tão eficaz como qualquer dos mecanismos de controle cultural que existe hoje no mundo.”

Autor de ideias progressistas e posturas corajosas ao longo da vida, embora tenha se tornado mundialmente conhecido pelo casamento com Marilyn Monroe, Miller escreveu também que “o monopólio não é só uma enfermidade, mas uma enfermidade perniciosa”. 

Alguma dúvida?

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MERCADANTE: TUIUTI É A VITÓRIA DA ESCOLA PÚBLICA.
O ex-ministro da Educação Alozio Mercadante repercutiu o desfile da escola Paraíso do Tuiuti, que trouxe para a Sapucaí um enredo repleto de críticas à escravidão, ao golpe de de 2016 e a retirada dos direitos dos trabalhadores; "A Tuiuti denunciou a manipulação dos meios de comunicação e a Globo, com uma ousadia e coragem rara na cultura brasileira. Denunciou a manipulação golpista e a volta da exclusão", disse Mercadante ao 247; "A luta contra a descriminação é também parte da luta contra a desigualdade", acrescentou

SP 247 - O ex-ministro da Educação Alozio Mercadante repercutiu o desfile da escola Paraíso do Tuiuti, que trouxe para a Sapucaí um enredo repleto de críticas à escravidão, ao golpe de de 2016 e a retirada dos direitos dos trabalhadores. 

"A Tuiuti denunciou a manipulação dos meios de comunicação e a Globo, com uma ousadia e coragem rara na cultura brasileira. Denunciou a manipulação golpista e a volta da exclusão", disse Mercadante ao 247. "A luta contra a descriminação é também parte da luta contra a desigualdade", acrescentou. 

Mercadante lembrou que foram os governos do PT que criaram um Ministério contra a descriminação e assumiram políticas concretas afirmativas como as cotas na universidade e nos empregos públicos. "História da África e movimentos negros que nós introduzimos na escola pública. Por isto a Tuiuti é a vitória da escola pública, verdadeiramente sem partido", disse ele.

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"Irmão de olho claro ou da Guiné 
Qual será o seu valor? 
Pobre artigo de mercado 
Senhor, eu não tenho a sua fé e nem tenho a sua cor
Tenho sangue avermelhado
O mesmo que escorre da ferida".
(Paraíso do Tuiuti. "Meu Deus, Está Extinta a Escravidão?
Samba-enredo 2018. Composição: Claudio Russo, Moacyr Luz, Dona Zezé, Jurandir e Aníbal)

Caramba... Não era só uma escola de samba; não foi apenas um enredo; não foi uma noite. O que a Paraíso do Tuiuti fez no desfile do carnaval do Rio de Janeiro já é o principal acontecimento artístico do ano. Mais até, é marco definitivo na própria história do carnaval do país. Combinou com primazia absolutamente única e singular, enredo, harmonia, cadência, organização e originalidade com o fundamental: arte!

Fez mais... Misturou ao melhor do brilho dos seus quesitos uma coragem poucas vezes vista; na delicadeza tocante do desenvolvimento de sua apresentação deu a maior 'bofetada' na TV Globo desde o ontológico direito de resposta e que fora concedido a Leonel Brizola no ano da graça de 1994.

"Bons tempos quando havia censura", sentenciaram os donos da golpista TV. A Paraíso do Tuiuti traduziu em miúdos o próprio sentimento do povo brasileiro; suas tristezas, angústias, decepções, sofrimentos e esperanças e lançou, espraiou na Marquês de Sapucaí; arrebatando os sentidos de toda a população para um incrível e mágico padrão superior de percepção do real, o que seja, o fiar delicado e sofisticado entre arte e política! Carnaval não é brincadeira!

A Tuiuti mostrou que não e provocou engulhos no 'donos do poder'. As câmeras mostravam e não mostravam; os enquadramentos eram ligeiros, cirúrgicos e politizados a fim de minimizar o 'estrago' causado pela ousadia cidadã da Escola. Os comentaristas falavam como se carregassem cadeados nos dentes! Quase uma comédia!

Paulinho da Viola dirá: "Foi um rio que passou em minha vida!". Foi um rio sim e foi um mar, um oceano de alegrias ver a resistência popular acontecendo; Conseguem imaginar a Europa, os Estados Unidos, a China e o Japão assistindo ao desfile daquelas mulheres lindas? Aquele hipnótico festival de cores? Aquela gente teimosamente alegre e, de repente... Pimba! As tripas do golpe são mostradas com uma clareza, com uma pedagogia tal só comparável com os áudios de Romero Jucá.

Muito bom! Quem vai ganhar o desfile de 2018? E isso tem alguma importância? Nós ganhamos! Nós, o povo, já ganhamos um dos melhores carnavais da história desse país. Os quase vinte milhões de desempregados podem soltar um sorriso, mesmo que de 'canto de boca'; os precarizados podem se abraçar; os aposentados e os que querem se aposentar tomem uma cervejinha bem gelada... Ganhamos essa!

E para os golpistas de plantão, aos que bateram panelas, aos que dançaram suas coreografias patéticas e inominavelmente bizarras, aos que se vestiram de CBF vejam o inacreditável, contemplem aquilo que jamais viram, se assustem, se espantem, tenham medo... Isso se chama POVO e para vossos pecados e arrependimentos, ele está mais vivo do que nunca!

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