quarta-feira, 30 de maio de 2018

Mídia omissa e antipetismo crônico abriram espaço para pedidos de intervenção militar.



Mídia omissa e antipetismo crônico abriram espaço para pedidos de intervenção militar.
por Tiago Barbosa
O temor de uma metamorfose dos protestos dos caminhoneiros em adesão maciça a uma intervenção militar é exemplo notório de como a ignorância política produz um exército de alienados quando adubada, por anos, com seletividade e manipulação das notícias.
O clamor difuso por uma solução autoritária constatada agora nos para-brisas e asfaltos do Brasil expressa a continuidade de uma campanha difamatória sobretudo contra políticos do campo progressista, cultivada diuturnamente há mais de uma década sob a alcunha de antipetismo.
A engrenagem da idiotização coletiva tem sido propositadamente azeitada para distrair as massas com infundados ataques de ódio e patriotismo de araque enquanto viabiliza o sequestro do estado e dos bens públicos por forças políticas conservadoras e vassalas do capital financeiro internacional.
Às vésperas das eleições de 2002, revistas pintavam Lula – hoje, convenientemente preso e impedido de disputar as eleições – como ameaça demoníaca aos (poucos) direitos conquistados pela sociedade.
A debacle petista no mensalão, anos depois, serviu como teste para a direita tentar, sem êxito, usurpar o poder. A aversão à esquerda, no entanto, era gestada com manchetes capazes de escamotear e desvalorizar conquistas cidadãs advindas com o sucesso de programas públicos igualitários.
A sucessão das passeatas dos amarelos da CBF a partir de 2013 representou a etapa seguinte da degeneração política coletiva e da consolidação do ódio.
A pretexto de derrubar Dilma, manifestações de violência, exortações militares (puníveis pela lei brasileira) e ode ao fascismo foram deliberadamente escondidas pela mídia e a Justiça para não arranhar a imagem simbólica de “um país contra o PT”.
Cabia, ali, a crítica aos levantes fascistas sem a necessidade de endosso às políticas do governo. O vale tudo ideológico deveria ser freado pela conscientização do brasileiro e pelo estímulo à participação responsável na sociedade. Mas o oportunismo venceu.
A alienação travestida de combate à corrupção, noticiada como arqui-inimiga ao país, fiou a atuação parcial, seletiva e persecutória do judiciário, patrocinou o desmonte da Petrobras, respaldou o esfacelamento da engenharia nacional e atirou a atividade política na berlinda – nem os golpistas, chafurdados na lama, escaparam.
A súplica pela intervenção militar em 2018 como saída para a crise política e econômica é o triunfo dessa cegueira tão cortejada.
A face mais cruel dela é o paradoxo de pobres avessos a causas populares, empresários contrários a medidas de estímulo ao consumo, nacionalistas a favor da entrega da Petrobras e “democratas” entusiastas de um regime autoritário.
Não à toa, como evidencia o noticiário de hoje, militares de patente mais baixa ensaiam descumprir ordens em claro ato de insubordinação contra as chefias.
Não adianta se esconder no medo e culpar o acaso pela bagunça criada pelo cultivo da desinformação: a ignorância política, fertilizada anos a fio, apenas exibe os frutos de uma sociedade apodrecida.
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