segunda-feira, 14 de maio de 2018

O Brasil surreal ou “isto quer dizer alguma coisa”…

memo


No tempo em que ligávamos para os ditos populares, havia um que, mesmo inexistindo na Bíblia, era frequentemente atribuido ao próprio Jesus Cristo: “Dize-me com quem andas e te direi quem és”.
Mutatis mutandi, talzez se pudesse dizer  também: “dize-me quem fala e te direi o que é”.
Não há como fugir disso quando vejo as coberturas jornalísticas sobre os documentos da CIA que atribuem a Ernesto Geisel e a João Figueiredo a responsabilidade de ordenar assassinatos políticos nos anos 70.
Não há destaque maior que nos veículos das Organizações Globo, as grandes beneficiários do regime militar e seu cúmplice em todas as monstruosidades que se cometeram àquele tempo.
É evidente que a revelação é grave e os fatos, estarrecedores.
Mas não são pauta política, são história, a ser aprendida e evitada.
Os militares de hoje, na alta hierarquia das Forças Armadas, eram cadetes , aspirantes ou, no máximo, tenentes.
Não têm de responder pelos crimes de seus “antepassados” de caserna.
A única obrigação que têm sobre isso é a de impor tão profundamente nos quartéis o respeito à Constituição, às leis e à liberdade política que jamais possam se repetir aqueles crimes bárbaros.
Mas, contra isso, os jornais que se escandalizam contra aquilo que todos sabiam e fingiam não saber não abrem suas bocas e suas páginas.
É grave, gravíssimo o que está acontecendo na formação dos jovens militares sob o clima de golpismo que a mídia e o Judiciário implantaram no Brasil.
O circular escandaloso de Jair Bolsonaro por academias militares e quartéis com seu discurso brutal foi e é um absurdo contra o qual os chefes militares e a mídia jamais se indignaram.
O uso político das Forças Armadas – pelo menos mitigado pela postura sóbria do general Braga Neto – na “jogada de mestre” de Michel Temer foi quase um aperitivo para desejos latentes de intervenção sobre o governo civil, com resultados que já se vê, pífios.
É preciso que seus comandantes percebem e transmitam que seus compromissos com a soberania de nosso país e com sua afirmação como nação não são traídos pela esquerda, mas por aqueles que se apresentam como “muy amigos” quando interessa usar contra ela o poder militar, mas que os descartam quando não lhes convém.
Os governos progressistas, ao contrário, respeitaram e modernizaram as Forças Armadas, verdade que dentro das limitações econômicas de nosso país. Se a alguém pode se imputar cegueira ideológica é a quem não vê isso.
Os que querem demonizar as Forças Armadas, até agora autocontidas, embora com uma inexplicável tolerância com alguns de seus radicais falastrôes, apóiam outra ditadura, a única que se pode sustentar no mundo moderno, no qual as intervenções militares são “demodês”.
No Brasil de hoje, a aspiração de poder supremo, sem respeito à lei e aos seres humanos, é do Judiciário e são eles que produzem as “execuções sumárias” da reputação e da liberdade humana.
Na longa e hipócrita reportagem do Jornal Nacional, o trecho mais relevante e sábio é a fala da irmã de um dos executados, Suart Angel, a jornalista Hildegard Angel.  Hilde, que certamente tem mais sofrimentos pessoais do que qualquer um de nós com o assassínio de seu irmão e de sua mãe, prefere usar a dor para alertar sobre os nossos dramas de hoje:
-Nenhum país pode querer uma ditadura. Nenhum país pode querer um estado de exceção, porque quando não há respeito às leis, quando a Constituição não vigora, não prevalece, estes horrores ocorrem.
É preciso ter medo do presente e do futuro, porque o passado não pode ser mudado, mas o que existe e o que pode existir, sim.
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