segunda-feira, 11 de junho de 2018

Governo frouxo e batalha naval.





Os divergentes


Mensagens cifradas de militares não são mais coisa do passado. Outro resgate da Era Temer. A novidade é o vazamento antecipado e nada gratuito de mensagens de comandantes militares. Nesse caso, não é uma má notícia. Na próxima segunda, 11, o presidente Michel Temer ouvirá, em evento público, do comandante da Marinha, o almirante de esquadra Eduardo Bacellar Leal Ferreira, que o Brasil hesita em busca de um rumo para a estabilidade. O comandante, que deve ter um ghost writer da própria armada, usará metáforas ligadas ao mar para descrever a crise política brasileira e a proximidade das eleições de outubro, cercada de indefinições quanto a candidatos e propostas. O que a Marinha tem a ver com eleições, eu não sei. Mas militares adoram senhas. E a pusilanimidade do governo Temer tem encorajado, e até incentivado, os homens de farda e medalhas no peito a falar acima do tom que se espera deles numa democracia.

A declaração, chamada no mundo militar de Ordem do Dia – que na ditadura e até no alvorecer da redemocratização tinham mais importância do que qualquer manchete de jornal -, está prevista para ser dada em solenidade em Brasília em homenagem ao 153º Aniversário da Batalha Naval do Riachuelo, comemorado em 11 de junho, considerada data magna da Marinha. “Nesses tempos incertos e nebulosos, a pátria navega em mar encapelado, hesitando na busca de um rumo que nos traga maior estabilidade interna e um mínimo de coesão em torno dos grandes objetivos de desenvolvimento econômico e social”, afirmará. O comandante da Marinha dirá, então, que a Força “tem fundamental contribuição a dar para superar a crise que se abate sobre a nação, a exemplo do que fizeram aqueles heróis de Riachuelo”. Seja lá o que isso signifique.
Lembrando a Batalha do Riachuelo, o almirante reforçará que somente uma conduta “irrepreensível, refletida nas pequenas atitudes cotidianas e no maduro acatamento do conjunto de princípios e valores morais que nos governam”, poderá criar a sociedade harmônica e ordeira sonhada pelos brasileiros. Não sou tradutor de metáforas militares, mas ele parece estar falando do barata voa na política brasileira. “Cerrar sobre o inimigo e atacar o mais próximo possível!’, bem representa a coragem e a determinação de vencer e de jamais vacilar na defesa dos interesses maiores da nação. O destemor ao enfrentar os problemas e adversidades, por maiores que sejam, deve estar incutido em cada um de nós”, diz. Quem é o inimigo o almirante não especifica, mas certamente não seria deselegante de se referir ao convidado ilustre, que se prepara para enfrentar uma terceira denúncia da Procuradoria-geral da República, desta vez por participação em esquema de corrupção no Porto de Santos.
Que o Brasil vive tempos nebulosos, não há dúvida, e não é preciso o comandante da Marinha lembrar. Acrescentaria ainda, me permitindo o dito popular, que em rio que tem piranha, jacaré nada de costas. Mas em um momento de ascensão de grupos idiotizados que clamam pelo retorno da ditadura militar – gente que não sabe o que é tortura e censura -, não deixa de ser uma boa notícia que o almirante destaque o respeito pelas vias institucionais, quando fala em “atuação pautada nos preceitos constitucionais, fiel aos pilares da hierarquia e disciplina”.
Sobre o Brasil hesitar em busca de rumos, numa eleição que tem um ex-capitão do Exército na dianteira, não dá para não concordar. Faltando pouco mais de seis meses para o fim de seu mandato, Michel Temer conseguiu criar no país um clima de insegurança generalizada – na economia, na política, até nas rinhas de galo. A solução, porém, está, literalmente, numa cela.
Ah, aulinha de história. A Batalha do Riachuelo aconteceu na Argentina com brasileiros e paraguaios em lados opostos, quando o Paraguai buscava uma saída para o mar por meio do controle da Bacia do Prata. Em resumo, na ocasião, a Marinha do Brasil afundou quatro embarcações inimigas e pôs fim à disputa.
O Santo
Geraldo Alckmin, o Santo, não passará, de novo, de Pindamonhangaba. Manterá a candidatura, como um picolé de chuchu ao sol, mas morrerá na praia de Santos, ou de qualquer balneário paulista ou de Miami. Ele teve sua chance em 2006, no revezamento tucano dos últimos anos entre ele, José Serra e Aécio Neves, este último eliminado hoje até de disputa para síndico do Edifício Acaiaca. Dessa vez, Alckmin é o Covas da disputa – estou falando do pleito de 1989. Com todo respeito a Mário Covas.

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