quarta-feira, 13 de junho de 2018

O Médici que Temer não será.

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OS DIVERGENTES.


Presidentes e ditadores, e não só aqui no Brasil, sempre tentaram fazer do esporte plataforma para seus projetos de poder, gangorras para sua (im) popularidade e trampolins festivos para fases críticas da vida nacional. Claro, desde que o time ganhe. Alguns clássicos são Pelé erguendo a taça Jules Rimet ao lado do General Emílio Garrastazu Médici após vencer a Copa de 1970; Jorge Rafael Videla com os jogadores argentinos, em 1978, com o país dividido entre a cruel ditadura militar e o êxtase por sediar uma Copa do Mundo; e Hitler e os Jogos Olímpicos de 1936, inaugurados pelo próprio Führer, em Berlim, com um imenso potencial como arma de propaganda, mas que não contava com a superioridade do negro do Alabama Jesse Owens, que bateu quatro recordes olímpicos. No Brasil de Temer 3% – não, não é a série da Netflix, essa é a popularidade residual do nosso estadista -, o país vive, como no paradoxo de 70, uma relação curiosa. (Quase) todos querem que o Brasil ganhe o Hexa, qualquer que seja a camisa que se vista, mas ninguém acredita que o escrete, por mais protocolar que seja, vá fazer, no pós-Copa, um mise en scène no parlatório do Planalto ao lado de Temer, Padilha, Moreira, Marun e a república tosquiada do MDB.

Por mais que tenha sido perdulária a geração anterior, a começar por Ronaldo Fenômeno, amigão de Aécio Neves, pago para ver Tite e Neymar posando ao lado de Temer e deixando ele erguer a taça da Copa. Tite – Adenor Leonardo Bachi – já se antecipou e declarou que mesmo se ganhar o torneio não irá à Brasília se encontrar com o presidente Michel Temer. A declaração foi feita em entrevista ao jornalista Cosme Rímoli, do portal R7. “Eu não vou para Brasília antes ou depois da Copa do Mundo. Já estou decidido. Nem se for campeão”, afirmou. É uma postura decente. Espero que se cumpra. Neymar e mais jogadores terão muito o que pensar – e uma boa assessoria de imprensa.
Não apenas por aqui, mas a visita da seleção brasileira vencedora de uma Copa do Mundo virou tradição desde a dobradinha Médici-Pelé-Jules Rimet. Só sobrou a reputação de Pelé nessa história, felizmente. A Jules Rimet foi roubada e derretida e Médici e os generais ditadores só remanescem em sonhos de bolsominions. Em 1994, não se fugiu da regra: a seleção tetracampeã visitou Itamar Franco. E em 2002, o técnico Felipão levou a seleção brasileira que conquistou o pentacampeonato mundial ao então presidente Fernando Henrique Cardoso. Vestindo um casaco verde, uma calça azul e uma camisa xadrez amarela, FHC autografou algumas bandeiras levadas pelas dezenas de torcedores que aguardavam o pronunciamento. Na memória, ficou a cambalhota de um jogador mediano, Vampeta, autor da manobra a la Cirque du Soleil na rampa do Palácio do Planalto. Melhor lembrar dos gols – mesmo que de pênalti.
Então, torçam, brasileiros, torçam com vontade, com a amarelinha, a azulzinha, a branquinha – hoje tão esquecida -, a vermelhinha – que parece a camisa do América do Rio do grande Trajano -, com a camisa do Flamengo, líder do Brasileirão, do Barcelona ou a velha camisa russa CCCP – como alguns amigos pretendem homenagear a pátria soviética. Ninguém vai torcer menos para o Brasil, independente da segunda pele que veste. Entender isso é, nesses tempos cascudos, apenas praticar o bom esportismo, a tolerância e o respeito ao próximo. Mas isso, reconheço, anda difícil. Se você quer vestir a camisa amarela, vista. Danem-se os “patos paneleiros”. Dane-se a Cristiane Brasil – impedida de assumir Ministério do Trabalho e alvo de processo trabalhista, que votou sim para derrubar a Dilma com a camisa do Brasil nessa Copa do Mundo. Sinta vergonha alheia, mas não sinta vergonha da nossa seleção. Enfim, recomponha-se.

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