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1º/6/2018, Dmitry Orlov, Russia Insider
Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu
A enlouquecedora paciência dos russos… Por que a Rússia não revida quando atacada?
Vários comentaristas observaram um fato estranho: durante o desfile de 9 de maio na Praça Vermelha em Moscou, Putin apareceu em presença de Netanyahu, primeiro-ministro de Israel. Mais ou menos no mesmo momento, a força aérea de Israel atacava com foguetes alvos sírios e iranianos na Síria (foguetes que, na grande maioria, as defesas sírias derrubaram), e os sírios revidavam contra posições de Israel nas Colinas do Golan (que são território sírio ocupado por Israel; portanto, trata-se de resistência contra força ocupante, não de ataque contra Israel).
Por que a Rússia não se levantou em defesa da Síria, sua aliada? Sobretudo, houve conversas sobre vender à Síria o poderoso sistema S-300 de defesa aérea, oferta posteriormente retirada. Seria essa a melhor atitude de um aliado?
Ou ainda outro exemplo: relações entre Rússia e Ucrânia estão em espiral descendente desde o putsch de 2014 em Kiev, que derrubou o governo constitucional. Há um impasse militar, em rápida putrefação, na região do Donbass, no leste da Ucrânia, insistentes provocações contra a Rússia, e EUA e UE aplicam sanções econômicas e políticas contra a Rússia, alegadamente como “resposta” à “anexação” da Crimeia e ao conflito ainda não resolvido no Donbass, que já custou cerca de dez mil vidas.
Mesmo assim, a principal parceria comercial da Ucrânia ainda é com… a Rússia. A mesma não apenas continua a comercializar com a Ucrânia, mas também absorveu um êxodo de refugiados econômicos da economia ucraniana, hoje em colapso, que chega a milhões. A Rússia já proveu acomodações para esses refugiados, permitiu que encontrem trabalho e também que enviem dinheiro para as famílias que permanecem na Ucrânia. E a Rússia nunca garantiu reconhecimento político às duas repúblicas separatistas no leste da Ucrânia.
A única ação que a Rússia empreendeu relacionada à Ucrânia foi assumir a Crimeia como parte da Rússia. Mas não chega a ser propriamente novidade: a Crimeia sempre foi parte da Rússia desde 1783, e a transferência da Crimeia para a República Socialista Soviética da Ucrânia, que aconteceu em 1954, governo de Nikita Khrushchev, violava a Constituição da URSS então vigente.
Mais um exemplo: os EUA, com a União Europeia agindo servil e obedientemente, têm imposto vários tipos de sanções sobre a Rússia desde a Lei Magnitsky em 2012, promovida e impulsionada pelo fantasticamente corrupto oligarca William Browder. Essas sanções causaram algum dano, mas também ajudaram (estimularam a substituição de importações dentro da Rússia) e às vezes foram simples incômodo. A Rússia é grande demais, importante demais e poderosa demais para que alguém, mesmo uma entidade tão grande quanto EUA e UE somados, consiga isolá-la ou obrigá-la a se curvar pela imposição de sanções.
Em alguns casos, há poderoso efeito bumerangue, que causa mais dor aos sancionadores que aos sancionados. Mas fato é que a Rússia pouco ou nada fez como resposta ou reação – além de trabalhar na substituição de importações e para construir e estabelecer relações comerciais com outras nações mais amigáveis. A Rússia poderia ter atingido duramente os EUA bloqueando, por exemplo, a venda de peças de titânio sem as quais a empresa Boeing ficaria impossibilitada de construir aviões.
Ou poderia ter proibido a venda de motores de foguetes para os EUA, e os EUA teriam de suspender o lançamento de satélites. Mas a Rússia não fez nada disso. Em vez de revidar, a Rússia só continuou a repetir que sanções são improdutivas e não ajudam a obter coisa alguma.
Mais uma: em flagrante violação de acordos dos quais a Rússia e países da OTAN são signatários, a OTAN expandiu-se diretamente até a fronteira da Rússia, e recentemente converteu os pequenos estados do Báltico – Estônia, Letônia e Lituânia – numa espécie de cercadinho para bebês militares, onde se pôs a fazer manobras militares ao lado da fronteira da Rússia, estacionando lá milhares de soldados e pondo-se a treiná-los para… atacar a Rússia.
A Rússia protestou, mas continuou a comercializar com todos os países envolvidos. Em especial, continuou a fornecer energia elétrica aos países do Báltico e a usar os portos de lá como via de saída de seus produtos.
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Quando recentemente a Letônia proibiu o idioma russo nas escolas (1/3 da população de Letônia são russos) e Pôs-se a violar direitos dos russos lituanos que tentaram reagir àquela afronta, os russos não tomaram conhecimento sequer desse ato de flagrante discriminação contra russos. Na Letônia todas as lâmpadas continuam acesas e os trens cargueiros russos continuam a andar plenamente carregados e sem parar de cruzar a fronteira.
“Por que isso?”, alguém poderia perguntar. “Por que essa atitude passiva contra tantas provocações, ofensas e agressões?” Ninguém pode dizer que a Rússia seria grande demais para ser ferida. Em 2012 as sanções foram pífias, mas em 2014 a economia russa foi, sim, duramente atingida (embora mais pelos baixos preços do petróleo e do gás, do que pelas sanções). O rublo perdeu metade do valor e a taxa de pobreza da Rússia subiu. O que, então, está acontecendo?
Para compreender, é preciso tomar um passo de recuo e considerar o contexto geral.
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Nesse ambiente, responder gestos de hostilidade que venham do outro lado do oceano com mais gestos hostis daqui para lá (sobretudo gestos de hostilidade fútil) seria contraproducente: alguém sempre sairá ferido e é bem possível que seja os russos.
Assim, parte da abordagem dominante é simplesmente ‘tocar adiante’, mantendo as melhores relações alcançáveis com o maior número possível de países, especialmente com os vizinhos, conversando com os dois lados em todos os conflitos, sempre tentando diluir as tensões e balanceando atentamente os diferentes interesses de todos os envolvidos. A Rússia tem boas relações com o Irã e com a Arábia Saudita (dois estados inimigos entre si), e também com Síria e Israel que lutam a tiros um país contra o outro.
A outra parte da abordagem dominante para fazer frente a um lado de fora cada vez mais hostil é caminhar na direção de autarquia limitada; não se fechar em si mesmo fora do mundo, mas tomando medidas cuidadosas para se tornar relativamente invulnerável às vicissitudes do mundo exterior. A Rússia já é autossuficiente em energia, está tomando medidas para se tornar autossuficiente em alimentos, e o próximo desafio é alcançar a autossuficiência em tecnologia e nas finanças.
Considerados nesse contexto, os aparentes fracassos da Rússia – que parece ter-se deixado paralisar e estaria sem ação – devem ser vistos como etapas de atitude atentamente pensada:
Um terço dos israelenses são russos, e muitos deles sentiam-se muito orgulhosos de ser russos naquele dia, e participaram em grandes desfiles transmitidos pela televisão russa. Frente a uma crescente onda de antissemitismo na Europa, e com neonazistas crescentemente enlouquecidos e ativos na Ucrânia, Rússia e Israel mostram-se unidas.
E há também o fato de que Israel não gosta de que haja iranianos na Síria. Sem dúvida tem todo o direito de não gostar, dado que os iranianos continuam a repetir que Israel tem de ser destruída. Mas os iranianos foram convidados a entrar na Síria, o que significa que não é assunto russo. Ter Israel a bombardear a Síria não ajuda a Rússia, mas não é a primeira vez nem será a última.
A Síria derrubar mísseis israelenses e atacar israelenses em território sírio no Golan foi novo desenvolvimento, uma escalada, e escaladas são sempre más. Entregar o sistema S-300 aos sírios, teria dado à Síria capacidade para derrubar qualquer coisa em todo o espaço aéreo de Israel; dado que os sírios já escalaram, dar-lhes capacidade para escalar ainda mais não parece acertado.
Mas esses são fatos temporários que de modo algum se sobrepõem ao fato permanente de que russos e ucranianos são essencialmente o mesmo povo (com exceção de umas poucas tribos que habitam principalmente o oeste do país que durante séculos foi uma terra de ninguém na Europa Central – vizinha de porta da Transilvânia, de onde vêm os vampiros).
Russos e ucranianos são geneticamente indistinguíveis, e há numerosas nações dentro da Rússia que são muito mais diferentes, culturalmente, dos russos, que os ucranianos. A estratégia dominante nesse caso é evitar ferir a Ucrânia, porque já se está ferindo que chegue ele mesmo; e porque ferir a Ucrânia seria apenas, na essência, ferir russos.
Diferente disso, muito mais sentido faz ser simplesmente paciente e dar tempo ao tempo. Eventualmente, o povo na Ucrânia se cansará da ocupação e tomará o destino em suas próprias mãos, derrubará os bandidos locais e também os que mandam neles e manobram de longe os bandidos locais; e o relacionamento eventualmente será mais normal.
Acrescente-se a isso o fato de que os EUA querem agora sancionar as importações europeias de energia, forçando os europeus a comprar dos EUA, cujo produto é muito mais caro e muito menos confiável, e pode-se ver por que os europeus estão fartos das intromissões de Washington. Claro que, já tendo cedido grande parte da própria soberania há muito tempo, os europeus enfrentam dificuldades fantásticas para recuperá-la; mas, pelo menos, estão começando a pensar sobre isso.
Só até aí já é uma vitória para a Rússia: os russos precisam de nações independentes soberanas à sua volta, não um bando de vassalos acovardados de Washington. No que tenha a ver com impor contrassanções aos EUA diretamente, só causariam mais e maiores danos econômicos, sem garantir qualquer vantagem política.
Todos sabem que a OTAN é parte da gangue de defesa do establishment norte-americano. O objetivo da OTAN é roubar transatlânticos de dinheiro, não fazer armas que funcionem. nem treinar exércitos capazes de lutar. Há agora grande quantidade de blindados e soldados da OTAN preposicionados nos Bálticos, mas não em número ou qualidade suficientes para invadir a Rússia em qualquer acepção significativa.
E, se algum dia invadirem, muito rapidamente serão abandonados. Tem mais: os blindados da OTAN simplesmente não passam por baixo de muitas pontes e não conseguem cobrir grandes distâncias sobre terreno irregular – como os blindados russos conseguem. Os blindados da OTAN têm de ser levados por trem ou por rodovia, sobre a carroceria de caminhões adaptados, até o local de combate. Ou viajam por mar, até portos de águas profundas.
Assim sendo, basta que a Rússia dinamite algumas pontes nas rodovias ou ponha abaixo, com foguetes disparados de qualquer ponto, algumas instalações de portos. Depois, cercar e destruir contingentes relativamente pequenos de invasores, e será fim de jogo. A OTAN sabe disso, e toda essa atividade nos estados do Báltico tem o único objetivo de encaminhar algum dinheiro para os estados do Báltico – economicamente anêmicos e em rápido processo de redução das populações.
Aquelas populações já estão sofrendo; por que feri-los ainda mais? Quanto aos direitos dos russos na Letônia, pode-se pensar que eles realmente não se incomodam com ter direitos violados – ou voltariam para a Rússia, onde há lugar de sobra para recebê-los. Claro que merecem muito apoio moral, mas essa batalha é deles, não da Rússia.
Essa não é leitura excitante, carregada de emoções fortes, mas… ok. As pessoas vasculham a internet à procura de histórias sobre viradas dramáticas de eventos, sobretudo para espantar o tédio. Muitas vezes acontece de os mais importantes desenvolvimentos nada terem de emocionante, mas nem por isso deixam de ser importantes. Por exemplo, a Rússia está reduzindo seu gasto de defesa, porque em breve o país será completamente rearmado.
EUA e OTAN podem fazer a mesma coisa? Não. Se algum dia tentarem, que seja, o establishment da defesa dos EUA monta novo conjunto de deputados e senadores eleitos e o gasto desmedido recomeça. Significa que os russos podem sentar e esperar, de braços cruzados, apenas assistindo os EUA empurrarem-se a si próprios para a bancarrota. Essa sim, será virada dramática nos eventos. Basta esperar.
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Dmitry Orlov – que está no banner deste post – é um dos ensaístas favoritos sobre a Rússia e todos os tipos de outras coisas no Russia Insider. Ele é um dos teóricos que acreditam que a sociedade moderna está se preparando para uma desintegração violenta e dolorosa. Um autor prolífico em uma ampla gama de assuntos, e pode-se encontrar seus livros pesquisando na Amazon. Seu projeto atual é a coordenação de um projeto para produção de embarcações a preços acessíveis para se viver. Ele mesmo vive em um barco.
Se você ainda não conhece o trabalho dele, dê uma olhada no arquivo de artigos sobre o RI. Eles são um verdadeiro tesouro, repleto de informações valiosas sobre os EUA e a Rússia e como eles estão relacionados.
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TERRAS ALTAS DA MANTIQUEIRA = ALAGOA - AIURUOCA - DELFIM MOREIRA - ITAMONTE - ITANHANDU - MARMELÓPOLIS - PASSA QUATRO - POUSO ALTO - SÃO SEBASTIÃO DO RIO VERDE - VIRGÍNIA.
segunda-feira, 4 de junho de 2018
Por que a Rússia não revida quando atacada?
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