quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Haddad é o candidato de Lula e do PT - Ao lado de Dilma Rousseff, Gleisi Hoffman e Manuela D'Ávila, em um palco erguido a poucos metros dos portões da sede da Polícia Federal em Curitiba, Haddad escutou a leitura da mensagem pública de Lula da Silva, na qual o líder histórico do PT pede que ele seja o candidato que o representará nestas eleições.

Haddad, Manuela e Dilma fazem a letra 'L' com os dedos, depois da leitura da carta de Lula



“Nós já somos milhões de Lulas, de hoje em diante Fernando Haddad será Lula para milhões de brasileiros. Até a vitória, um abraço do companheiro de sempre, Luiz Inácio Lula da Silva”. Essas foram as últimas palavras da Carta ao Povo Brasileiro escrita pelo líder máximo do Partido dos Trabalhadores (PT), para expressar sua bênção à candidatura presidencial de Fernando Haddad para as eleições do dia 7 de outubro. “Quero pedir de coração, a todos os que votariam por mim, que votem no companheiro Fernando Haddad”, expressou Lula.

De paletó cinza e camisa branca, o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, escutou a leitura da mensagem, em um palco erguido a poucos metros dos portões que dão acesso à Superintendência da Polícia Federal de Curitiba. Ao seu lado estavam a ex-presidenta Dilma Rousseff, a senadora Gleisi Hoffmann, presidenta do PT, e a deputada Manuela D´Ávila, do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), que será a candidata à vice pela nova chapa.

Horas antes desse ato, a Executiva do partido havia oficializado a substituição do nome de Lula da Silva pelo da chapa Haddad-D´Ávila, decisão nascida de uma reunião na capital paranaense – cidade de maioria branca que se transformou numa fortaleza da ultradireita brasileiras, fanática pelo juiz Sérgio Moro e pelo ex-militar Jair Bolsonaro.

O capitão da reserva Bolsonaro – internado após receber uma punhalada no abdômen, na semana passada, durante um ato de campanha – está em segundo lugar nas pesquisas onde Lula da Silva ainda aparece como opção: ele tem entre 19 e 22%, enquanto o líder histórico do petismo aparece próximo dos 40%. Vale destacar que essas pesquisas incluindo o nome de Lula deixaram de ser publicadas por boa parte da imprensa hegemônica brasileira, por decisão das próprias empresas jornalísticas, a começar pela Rede Globo.

O grande desafio de Haddad – que apareceu com 9% das intenções na última pesquisa, Datafolha onde seu nome apareceu substituindo o de Lula – será o absorver os votos lulistas para poder se aproximar do patamar de Bolsonaro, e terá que fazer isso até o dia 7 de outubro, quando acontece o primeiro turno – lembrando que o segundo será no dia 28 do mesmo mês.

Para isso, terá que persuadir o gigantesco eleitorado de 147 milhões de votantes, espalhados por um país de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, e convencê-los de que ele é o herdeiro de Lula da Silva. Não será uma tarefa fácil, mas tampouco é impossível: várias sondagens indicam que uma porcentagem considerável dos eleitores está disposta a votar em alguém que tenha a bendição do líder preso.

“Vamos às ruas para que, no dia 28 de outubro, possamos celebrar a democracia. Lula livre! Viva o povo brasileiro!”, propôs Haddad, com seu estilo sóbrio ao falar diante dos militantes, que responderam entoando o coro de “Lula livre” e “Brasil urgente, Haddad presidente”.

A carta de Lula da Silva, lida ontem ao final da tarde, também foi, de algum modo, um manifesto político de longo alcance. Como foi o discurso que pronunciou no dia 7 de abril, no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, antes de se entregar à Polícia Federal e ser levado a Curitiba. O texto foi escrito dentro daquela pequena cela, sem janelas para o lado de fora do edifício, à qual os jornalistas não podem ter acesso – há dezenas de pedidos de entrevistas, do Brasil e do exterior –, devido a um regime especial aplicado a Lula, mais rigoroso que o dedicado a chefes do narcotráfico nas prisões de segurança máxima.

Depois de meses de infrutíferas exigências à Justiça para permitir sua participação nas eleições, o torneiro mecânico de 72 anos não conseguiu a autorização para disputar pela sexta vez a corrida para o Palácio do Planalto. “Os tribunais proibiram a minha candidatura à Presidência, proibiram o povo brasileiro de votar livremente, nunca aceitei as injustiças, e nem as aceitarei agora, venho defendendo há mais de 40 anos a igualdade e a transformação do Brasil”.

“Peço ao juiz Moro somente uma prova”, completa Lula. Os magistrados não acataram nenhuma das apelações dos advogados petistas, respaldadas pelo Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas. Esse organismo demonstrou estar advertido sobre o fato de que, no atual sistema político brasileiro – instituído a partir de agosto de 2016, depois da queda de Rousseff – se violam as garantias que caracterizam as democracias.

Essa recomendação do Comitê foi desqualificada por alguns juízes das cortes superiores brasileiras, com argumentos falsos – entre eles o de que o Brasil não tem porque se sujeitar aos termos do Pacto Internacional dos Direitos Políticos e Civis. Em rigor, esse Pacto tem força de lei interna, uma vez que o Brasil o assinou em 1992, e o revalidou com um decreto parlamentar em 2009.

No domingo passado, a candidatura de Lula da Silva e o Pacto da ONU foram novamente vilipendiados pelo comandante-chefe do Exército brasileiro, o general Eduardo Villas Boas. Em extensa entrevista, o líder militar deu a entender que não será permitida uma vitória de Lula nestas eleições, e também insinuou que tampouco se aceitará um triunfo de Haddad.

Pelo visto, o candidato Fernando Haddad, mesmo com a vantagem do aval de Lula, terá outros desafios pela frente. Terá não só que vencer nas urnas, mas também superar uma guerra política deflagrada contra o seu partido.

*Publicado originalmente no Página/12 | Tradução de Victor Farinelli


CARTA MAIOR


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