quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Ainda é possível - Não se trata mais de partidos ou de lideranças neste momento, o que existe é um gigantesco movimento de resistência. Não é mais o PT, mas a História que nos convoca.

 



Gravemente atingido por décadas de perseguição midiática e, desde 2005, perseguição política e judicial, o PT se apresenta à sociedade brasileira neste segundo turno eleitoral, como uma via de centro-esquerda, em defesa da institucionalidade e da democracia, visando angariar o apoio de setores da centro-direita. A composição do verde-amarelo junto ao vermelho e a característica estrela em seu material de campanha, concorde-se ou não, passa uma mensagem clara.

Sejamos realistas. Embora ainda possamos ouvir “Paz, Pão e Terra!” e “Todo o poder aos Sovietes!”, um século nos distancia do Partido Operário Social Democrata da Rússia (POSDR) de Lênin e seus camaradas que conseguiram mobilizar uma massa de trabalhadores e camponeses, denunciando o latifúndio como o baluarte da opressão feudal e monárquica. “Terra para todos”, não é preciso dizer o quanto estamos distantes dessa realidade e da estratégia revolucionária, embora jamais tenhamos deixado de vislumbrar o horizonte da igualdade e da justiça social. 

Disso, ao contrário de muitos que desertaram, nós não arredamos pé.

A questão é que estamos muito mais próximos do nazismo que da revolução socialista. Devastada pela I Guerra Mundial e sugada pelas exigências do Tratado de Versalhes, a Alemanha tornou-se o palco da tragédia nazista, calcada, desde sua primeira hora, em radical anticomunismo. Goebbels soube, como ninguém, fazer do anticomunismo e, posteriormente, do antissemitismo, uma espécie de amálgama macabro das insatisfações populares. 

A banalidade do mal, identificada por Hannah Arendt e traduzida na incapacidade das pessoas de pensarem; a obediência cega à autoridade; a totalidade do discurso emocional a ponto de confundir as referências entre o bem e o mal, ecoam nestas nossas eleições dramaticamente. Em 1945, enquanto os russos entravam em Berlim, os nazistas se embebedavam, entocados em um bunker fedorento, segurando suas pistolas e pílulas de cianureto. Com anéis de judeus, retirados dos dedos de prisioneiros nos campos de concentração, Hitler e Eva Braun se casariam e depois cometeriam suicídio, seguido de Goebbels que também se mataria junto a sua esposa e filhos, crianças assassinadas pelos pais fanáticos. Como se recuperar de tamanho e macabro legado?

A Declaração dos Direitos Humanos de 1948, tão vilipendiada pelos apoiadores da extrema-direita brasileira, foi uma das tentativas neste sentido. O Estado de Bem-Estar Social que reergueu a Europa, também. Não sejamos ingênuos, o colonialismo e a hipocrisia do impedimento, hoje, de que refugiados entrem na Europa contam outra história não menos macabra. E o que dizer da Guerra Fria? O imperialismo norte-americano que se estendeu sobre a América Latina e sobre o nosso Brasil, mergulhando-nos em 21 anos de uma ditadura violenta e profundamente corrupta?

No Brasil, do Partido Comunista Brasileiro (PCB) fundado em 1922, passando boa parte de sua existência na ilegalidade, com Prestes entre suas lideranças, surgiu o Partido Comunista do Brasil (PC do B), em 1958, com João Amazonas, Maurício Grabois e Pedro Pomar entre suas lideranças e de onde várias tendências de esquerda, marxistas e não marxistas, foram gestadas e desligadas do partido nos anos 1960/1970. O PT, por sua vez, fundado oficialmente em fevereiro de 1980, nunca foi um partido comunista ou revolucionário, mas o amálgama de anseios profundamente democráticos, das forças do movimento sindical e social, da intelectualidade, da igreja e dessas várias tendências de esquerda. 

A experiência da governabilidade nunca foi fácil. Em 1982, a esquerda dentro do PT vencia as eleições de Porto Alegre, com a liderança de Olívio Dutra. Foram dezesseis anos de governos ininterruptos na capital gaúcha, mais quatro anos de hegemonia no Rio Grande, com Olívio Dutra Governador, que acompanhei de perto, com direito a atos memoráveis como a criação do Fórum Social Mundial de Porto Alegre e com a construção do orçamento participativo, para trazer apenas dois exemplos.

Trinta anos depois, a partir do imenso aprendizado das experiências parlamentar e dos governos municipais e estaduais que conquistou, o PT chegou ao Governo Federal apresentando-se – como hoje se apresenta – como um partido de centro. Todos sabemos que nunca foi fácil. Desde sempre, o PT teve de lidar com a criminalização de suas lideranças, por uma mídia que nunca foi democrática. Quase ganhamos em 1989. Amargamos oito anos de neoliberalismo tucano e vencemos em 2002, transformando o país, a partir da adoção do neoliberalismo e do possível em termos de bem-estar social. 

O capitalismo, porém, mudou radicalmente ao expulsar a democracia do seu horizonte. O neoliberalismo não se sustenta mais na apropriação do nosso dinheiro. Os especuladores querem também os nossos direitos. E todos os direitos, sobretudo os democráticos, porque nenhum projeto neoliberal se sustenta nas urnas, vide o fracasso tucano nas últimas quatro eleições. Basta ver como a extrema-direita impede, com ajuda pesada dos marqueteiros de Trump, o debate programático e qualquer tipo de argumento lógico. Como os nazistas, eles se aproveitam do bode expiatório; estimulam a violência nas ruas; criam mentiras que são disseminadas pelas novas tecnológicas a milhões de brasileiros.

Os direitos democráticos, sociais, trabalhistas, individuais e coletivos correm sério risco hoje no Brasil. Caso Haddad não consiga angariar o apoio dos setores da centro-direita e da direita civilizada, eles serão entregues, embalados para presente, por Paulo Guedes nas mãos de poderes que estão muito além das fronteiras nacionais. Os avanços dos treze anos do PT, não tivessem sido ofuscados pelo antipetismo no jogo sujo da política midiática, nos dariam total possibilidade de angariar o voto da maioria, vide a profunda adesão a Lula nas pesquisas de intenção de voto. No domingo, 7 de outubro de 2018, porém, as urnas tornaram muito concretas as ameaças que sofremos. 

A tática de Bolsonaro de confundir os discursos, de criminalizar qualquer argumento minimamente razoável, vem dando certo. Daí sua recusa em participar de qualquer debate. Sua campanha se baseia na mentira, em confundir o leitor, apoiada não apenas nas fake news, mas em outra rede muito poderosa: as igrejas neopentecostais dos pastores midiáticos, agregados na TV Record, que investidos de autoridade religiosa influenciam o voto de milhões de pessoas. Impossibilitado de garantir que “a terra será de todos”, o PT, caso vença (e estamos todos nesta trincheira), terá de lidar com um aumento expressivo dos representantes da bancada do boi, da bala, da bíblia dos bancos e da mídia, mas este é outro problema que ansiosamente esperamos enfrentar em 2019.

Antes disso, precisamos vencer as eleições do dia 28 de outubro. E isso depende, agora, da atuação de cada um de nós dentro de nosso círculo de ação. A tarefa é hercúlea, mas é a única esperança que temos. Ninguém sabe o que acontecerá sob uma possível vitória fascista. Não se trata mais de partidos ou de lideranças neste momento, o que existe é um gigantesco movimento de resistência. Não é mais o PT, mas a História que nos convoca.

A luta não termina no próximo dia 28 de outubro, vencendo ou sendo derrotados. Em ambos os casos, teremos que nos unir e debater um pacto de convivência entre a esquerda, os progressistas e os sociais democratas, sabendo que todos os partidos do nosso campo, com assento no Congresso Nacional, não lutam pelo socialismo, mas por um estado de bem estar social, em outras palavras, para a ciência política, somos sociais democratas e creio que está na hora de assumirmos essa responsabilidade.

O povo brasileiro não pode pagar o preço de um discurso vazio. 

Viva a aliança democrática! 

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Joaquim Ernesto Palhares
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