sexta-feira, 2 de novembro de 2018

"Verás que um filho teu não foge à luta!": Nós vamos para as ruas, que é o nosso lugar - A guerra que enfrentaremos transcende os partidos. Sigamos juntos, com muita coragem e a certeza de que estamos no caminho certo. Nós estamos aqui.

(Rodrigo Soares)


Em primeiro lugar, estamos juntos. 

Sim, perdemos a eleição. Jair Bolsonaro foi eleito no último domingo, 28 de outubro de 2018, com 57,7 milhões de votos (55% dos votos válidos) ante os 47 milhões (44%) de Haddad. 

Sim, a soma de brancos e nulos foi a maior registrada desde 1989. Observando a totalidade dos votos, dos 147,3 milhões de eleitores, votos brancos (2,14%), nulos (7,43%) e abstenções (21,3%) somaram 30%. 

Números que levantam múltiplas questões que demandarão, a seu tempo, sólidas e profundas análises, considerando as várias forças envolvidas nesta disputa eleitoral, inclusive, as questões geopolíticas que não podem ser ignoradas.

O importante, neste momento, é focarmos nas conquistas desse período eleitoral. Não foram poucas. Nos meus 73 anos, eu desconheço outro momento histórico, em que a esquerda e os progressistas tenham alcançado tão elevado grau de união. E, tudo indica, ela só tende a aumentar daqui para frente.

Foi emocionante acompanhar Manu e Boulos, ao longo de toda campanha, demonstrando tamanho compromisso político e ideológico. Com toda vida política pela frente, eles deram outra estatura à candidatura Haddad que, sem sombra de dúvidas, sai desta campanha como um dos principais líderes desse novo momento pós-eleitoral. 

Não estamos saindo do zero. Não estamos em terra arrasada. Estamos unidos e temos com quem dialogar: são 47 milhões de brasileiros que votaram no nosso campo, que compactuam com as nossas ideias e que querem um Brasil mais justo e igualitário. E ainda temos 31 milhões de pessoas que, ao se recusarem a votar, estão em disputa. 

Outro ganho indiscutível dessas eleições foi a demarcação do nosso campo. Em síntese: os que não estiveram conosco neste segundo turno, simplesmente, NÃO SÃO DESTE CAMPO... Não há máscaras que se sustentem diante dos fatos. Sérgio Moro, possivelmente futuro ministro da Justiça, que o diga.

Consideradas as urnas, tivemos a confirmação de que o Nordeste conhece o Brasil, sabe o que quer e tem certeza do futuro que este país precisa. O PT conseguiu eleger a maior bancada do Congresso Nacional e o maior número de governadores. 

Também ocorreu um crescimento do PSOL durante a eleição, o partido passou de 6 deputados para 10 federais; e elegeu 18 deputados estaduais em onze estados, portanto, ultrapassando a cláusula de barreira. Lamentavelmente, o mesmo não ocorreu com o PCdoB que elegeu menos parlamentares e não conseguiu ultrapassar a cláusula de barreira; assim como o PCB, PSTU e PCO. 

Esses dados e todas as questões que teremos de enfrentar demandam calma e, insisto, sólidas análises. Uma tarefa para os nossos intelectuais, cientistas políticos, economistas, historiadores etc. que, diariamente, ao longo de toda a campanha, alertaram sobre os riscos que corríamos.

Como afirma Pepe Mujica, “’a única luta que se perde é a que se abandona”. Não vamos recuar. 

A questão agora é “como avançar?”  Eu só vejo duas possibilidades:

A construção da Frente Democrática, com um programa claro, que seja levado para o Congresso Nacional, unificando as bancadas dos partidos que a comporão. Um programa fartamente disseminado, discutido, acordado e apropriado pela imensa parcela da população brasileira que esteve junto no segundo turno.

Essa Frente Democrática é, também, de suma importância para que possamos enfrentar os ataques que certamente virão e avançar na nossa proposta de Brasil. O fascismo é ardiloso, ele brota da mesquinhez das relações cotidianas. Todo cuidado é pouco, mas isso não significa paralisia ou contenção das nossas atividades, pelo contrário. 

Movimentos e lideranças populares e sociais, movimentos e lideranças sindicais e partidárias, ativistas e entidades da sociedade civil, profissionais da cultura, da comunicação precisarão do nosso apoio e sustentação. Professores e acadêmicos em meio a ataques da Escola Sem Partido, tendo em colegas e alunos verdadeiros “olheiros” que tanto nos lembram os tempos do CCC. E o que dizer do povo brasileiro? Dos jovens negros das periferias? Dos índios? Dos LGBTs? Das mulheres? Dos militantes de esquerda e dos progressistas?

A todos, Haddad passou um forte recado no último domingo. “Um professor não foge à luta”, afirmou, ciente de que nós também não fugiremos. Sua mensagem foi clara: “Não tenham medo. Nós estaremos aqui. Nós estamos juntos. Nós estaremos de mãos dadas com vocês. Nós abraçaremos a causa de vocês! Contem conosco! Coragem! A vida é feita de coragem!”

Na terça-feira, 30 de outubro, frente à multidão de manifestantes na Av. Paulista, Guilherme Boulos também passou o seu recado:  

"Nós reconhecemos o resultado das eleições, agora, Bolsonaro se elegeu presidente do Brasil, não imperador do Brasil. E um presidente tem que respeitar as liberdades democráticas, a liberdade de expressão, tem que respeitar as oposições e não dizer que elas vão ou para a cadeia ou para o exílio. Nós não vamos para a cadeia, nem para o exílio. Nós vamos para as ruas que é o nosso lugar de lutar pelos nossos direitos e pela democracia".

Aos nossos leitores, garantimos: Carta Maior não arredará o pé. Estaremos aqui, enquanto portal de disseminação das ideias de esquerda, destinado à formação política e cultural do nosso povo, formando quem forma a opinião. Trazendo a voz das nossas lideranças sociais, sindicais e partidárias; e as questões levantadas pelos ativistas e militantes dos mais diversos movimentos. 

A construção de uma rede da legalidade virtual, para a disseminarmos questões de fundo necessárias tanto ao enfrentamento das ameaças deste momento, quanto ao fortalecimento da oposição que faremos nos próximos quatro anos.

Não podemos parar. Não podemos retroceder nenhum milímetro. Precisamos encontrar as alternativas possíveis para contribuir, da melhor forma possível, com a luta pelos nossos direitos. Uma luta diuturna contra a violência, a ignorância crassa e a corrupção que marcarão o próximo governo.

O desafio é imenso, como já alertávamos em editorial de julho deste ano, quando avaliamos como principal problema da Mídia Alternativa, o fato de falarmos para o mesmo público e para alguns democratas dispersos. A Rede da Legalidade, única alternativa em 1961, até agora não foi recriada na dimensão necessária. Na prática, nossa internet é uma Ethernet. Urge, portanto, formarmos uma REDE DA LEGALIDADE VIRTUAL colaborativa, com a participação ativa de militantes e democratas.  

Precisamos reestruturar o ambiente virtual com suficiente capacidade de disseminação de conteúdo (textos, vídeos, memes etc.), produzidos por militantes dispersos em todo o país, preferencialmente, a partir de uma linha editorial prévia, a ser criada e distribuída pela atual rede de imprensa alternativa. Para isso funcionar é fundamental a concordância e apoio dos quadros da esquerda que se destacaram nesta eleição.  

A guerra que enfrentaremos transcende os partidos. 

Sozinha, a Mídia Alternativa não dará conta da missão que detém nesse momento. Nós precisamos da colaboração de todos, até porque, as pessoas engajadas e as querem se engajar daqui por diante vão precisar de orientação. 

Sigamos juntos, com muita coragem e a certeza de que estamos no caminho certo. Nós estamos aqui.

Abraços,
Joaquim Ernesto Palhares
Diretor da Carta Maior

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