segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Caso Queiroz: está ruim e pode piorar.





Os Divergentes


Há pouco mais de um mês, o senador eleito Flávio Bolsonaro dedicava-se, com desenvoltura, à escalação do próximo presidente do Senado. Começou vetando Renan Calheiros. Quem seria o candidato ainda seria discutido, mas Renan, jamais.

Depois das revelações sobre as movimentações financeiras do ex-assessor Fabrício Queiroz, claramente incompatíveis com a renda, Flávio perdeu o interesse na presidência do Senado e dedica-se a tentar minimizar e postergar os desdobramentos do caso. Dizia nada ter a ver com o que seu assessor fazia, mas atestou que as explicações dele recebidas eram plausíveis. “Não sou investigado”, completava.


Na semana passada, Flávio Bolsonaro mudou de estratégia e foi ao Supremo pedir a suspensão das investigações por ter descoberto que era, sim, investigado, o que considera ilegal, já que teria foro privilegiado como senador eleito e diplomado. Obteve liminar do ministro Fux, que remeteu ao relator, ministro Marco Aurélio, que deve alterar novamente o rumo do caso — provavelmente suspendendo a suspensão e remetendo de volta ao Rio — no dia 1º de fevereiro, quando Flavio toma posse como senador e participa da eleição da nova Mesa diretora do Senado, incluindo o novo presidente.
Hoje está claro que a estratégia do deputado estadual Flávio Bolsonaro foi uma rajada de tiros no pé. O assunto virou um problema para o governo, não só porque Flavio é filho do presidente, mas porque há uma ex-assessora de Jair Bolsonaro envolvida e recursos da conta de Queiroz foram depositados na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
Nessa sexta-feira, a situação de Flávio piorou muito, com a divulgação, no Jornal Nacional, de que ele recebeu depósitos em sua conta, no total de 96 mil reais, em apenas um mês, em 2017. O depositante não foi ainda identificado e os depósitos foram feitos em valores pequenos para evitar o rastreamento. O senador eleito, que deu  entrevista à Record reclamando por estar sendo investigado mas nada explicou sobre nada, também não se manifestou a esse respeito.
Até aqui, a principal explicação que jornais e outras mídias dão para o caso é de que havia esquema para que servidores do gabinete de Flávio devolvessem parte dos salários para a conta controlada por Queiroz. Esse tipo de ação é muito usada, especialmente em assembleias legislativas e em câmaras de vereadores, para financiar atividades políticas dos parlamentares ou simplesmente para engordar o patrimônio. Por si só, já é crime e pode levar a condenações pela Justiça. Segundo o MP do Rio, apenas nesse caso da Alerj, há 22 gabinetes de deputados sendo investigados.
Mas o problema pode ser ainda maior para Flávio Bolsonaro. Segundo o relatório do COAF, oito assessores depositavam recursos na conta do assessor, geralmente em dias próximos ao pagamento. Só que os depósitos em questão somam cerca de R$ 230 mil, já contados aqueles feitos pelo próprio Queiroz. Ou seja, se servidores depositaram 230 mil reais numa conta que recebeu mais de R$ 1,2 mi, de onde vieram os recursos restantes? Pode até ser que tenham vindo do comercio de carros usados, claro. Mas também pode ser que a resposta já esteja em algum outro relatório do COAF…
Por último, se Flávio Bolsonaro recebeu em sua própria conta R$ 96 mil em um único mês, conforme divulgado e não desmentido ou explicado, pode-se imaginar que essas coisas se repetiram em outros meses. Isso botaria em xeque a história do comércio de carros usados e jogaria todo o clã Bolsonaro na obrigação de explicar de maneira muito convincente e rápida esse imbróglio.
Tudo isso pode levar a um efeito colateral ainda não foi discutido: Flávio Bolsonaro pode mudar de ideia e, no dia 1º de fevereiro, apoiar a candidatura de Renan Calheiros – que, por sinal, já saiu providencialmente em defesa do filho de Bolsonaro nessa sexta…

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