quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Meu ódio será sua herança: os 10 mandamentos do novo aecista.


aecismo


A ascensão de Aécio Neves nas eleições trouxe à tona um tipo desde já inesquecível: o neoaecista.
Ele — ou ela — ia votar em Marina porque Marina podia derrotar o Mal. Marina perdeu fôlego, o neoaecista viu que era legião e que podia cumprir seu destino.
O neoaecista é antes de tudo um antipetista. Mas com um toque a mais de, vamos dizer, perversidade trazido com a possibilidade da vitória.
Há agora um ódio libertador. Ele sente o cheiro de medo. De repente, ninguém mais precisa fingir ser relativamente civilizado. Ser racista ou xenófobo está na moda.
Se Fernando Henrique chama quem votou em petistas de “menos informados”, “os mais pobres” — por que quem vota em Aécio não pode simplificar e soltar a lenha na plebe ignara?
A estratégia básica do neoaecista é acusar os outros daquilo que ele é. Mas ele não para aí.
O neoaecismo tirou do armário a intolerância e o preconceito e os esfrega na cara de família, amigos, conhecidos, taxistas, feirantes, crianças, adultos e velhos.
Eis os 10 mandamentos do neoaecista:
1) Xingue nordestinos. Chame-os de ignorantes. Vagabundos que vivem do Bolsa-esmola. Proponha o separatismo. Lembrando que Lula é que iniciou o ódio de classe no país.
2) Denuncie a nossa ditadura bolivariana. Não esqueça dos milhões para construir portos em Cuba e dos empréstimos para países da África.
3) Nunca houve na história da humanidade um governo tão corrupto. Se alguém mencionar o trensalão em São Paulo, o mensalão tucano, o aeroporto do tio de Aécio, diga que é fichinha. Se o interlocutor insistir, afirme que o PSDB pode roubar porque, ao contrário do PT, nunca empunhou a bandeira da ética (sim, eu ouvi isso).
4) Culpe o governo por todos os males do planeta. Da Aids ao Croc, da seca ao Taumaturgo Ferreira. Não esqueça do ebola, trazido pelo PT para desviar o foco do noticiário da Petrobras. Veja um excelente exemplo abaixo:

Valeu a pena ter importado um cara fingindo ter ebola, Dilma! Ele já está na capa dos jornais enqto as suas mega corrupções foram pra baixo!

5) Bicicletas são coisa de comunista safado. Haddad faz ciclofaixas. Logo, Haddad é comunista safado. Ciclovias podem ser utilizadas em Nova York, Paris, Amsterdã, Londres — mas lá os comunistas safados são limpinhos.
6) Bolsa-família é esmola. Aécio promete manter o Bolsa-Família? Mude de assunto. Sugestão: Dilma quer dialogar com os terroristas do Estado Islâmico. Aécio vai bombardear os terroristas do Estado Islâmico.
7) Diga que o PT quer cercear a liberdade de expressão e acabar com a imprensa livre. Vivemos num estado totalitário. Aécio censurou a imprensa mineira? Isso é conversa de esquerdopata. O vídeo do “Helicoca” saiu do ar por causa de perfil fake da internet? Paranoia, Aécio é um democrata, a mídia de Minas Gerais é das mais combativas do mundo.
8) Estimule e dissemine a calúnia, o enxovalhamento, a cólera, a divisão, a crítica rasteira, o ressentimento e o racismo nas redes sociais. Depois queixe-se da “vibe ruim” do Twitter, como o neoaecista de primeira hora Danilo Gentili.

Só uma coisa: esses 2 dias que passei mais distante do twitter minha vida e alegria melhorou em 60% É muita vibe ruim q rola aqui.

9) O Foro de São Paulo. O Foro de São Paulo. O Foro de São Paulo. O Mais Médicos. O Foro de São Paulo.
10) Sinta saudade da ditadura militar. Aquela tinha um projeto de país, segurança nas ruas e dono. E faça como Aécio: chame de revolução. O amigo do Facebook não gostou? É um petralha. O neoaecista não precisa de petralhas. O neoacista não precisa de ninguém porque ele sabe que nunca mais estará sozinho.


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Marina, o PSDB e a nova política.



Marina declara que não subirá em palanque do PSDB.



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Meritocracia à Aécio.


Aécio com o avô Tancredo
Aécio com o avô Tancredo.

Meritocracia.
Uma das palavras mais pronunciadas por Aécio nesta campanha é esta, meritocracia.
Faz parte, se entendo, de um esforço de se colocar como um grande gerente. No jargão corporativo, meritocracia é uma palavra muito empregada, bem como outra do repertório de Aécio: previsibilidade.
Como todos sabemos, meritocracia é escolher alguém pelos seus méritos, e apenas por eles.
Num mundo menos imperfeito, a mídia teria tratado de verificar a trajetória de Aécio para ver como, no caso pessoal dele, se manifestou a meritocracia.
Convenhamos: ele é um forte candidato à presidência, e informações sobre sua carreira profissional têm, mais que nunca, um torrencial interesse público.
Mas este mundo é muito imperfeito – e a mídia mais ainda.
A inépcia — ou má fé — de jornais e revistas não impediu, no entanto, que viralizassem na internet documentos que mostram a rápida ascensão de Aécio.
Examinemos o papel da meritocracia em sua jornada, iniciada cedo. As informações estão no site da Câmara dos Deputados. Nenhum repórter teria que suar, portanto, para prestar um serviço relevante aos eleitores. (Aqui, o link.)
Aos 17 anos, Aécio foi nomeado secretário de gabinete parlamentar na Câmara dos Deputados. Seu pai, Aécio Cunha, era deputado federal pela Arena.
Segundo o site da Câmara, Aécio permaneceu nesta posição até os 21 anos.
Há, aí, um fato intrigante: conforme perfil feito pela insuspeita revista Época, Aécio fazia faculdade no Rio no mesmo período em que era secretário de gabinete.
Algum jornalista se interessou em esclarecer essa suposta ubiquidade meritocrática?
Mundo imperfeito, mundo imperfeito.
Aos 23 anos, de volta a Minas depois da estada no Rio, foi nomeado assessor pelo avô, o governador Tancredo Neves. Como avós sempre encontram méritos nos netos, Aécio poderia hoje dizer que ganhou o cargo graças à meritocracia.
Tancredo morreria em 1985, pouco antes de tomar posse como primeiro presidente civil depois da ditadura militar. (Ele vencera, ao lado do vice Sarney, eleições indiretas.)
Com Sarney na presidência, Aécio deu um salto. Aos 25 anos, era diretor da Caixa Econômica Federal.
O que o candidato Aécio diria, hoje, de um neto de político indicado para uma diretoria da Caixa aos 25?
Aparelhamento?
Como os jornais, que jamais trataram disso, falariam do caso se fosse um neto de Lula?
No Brasil, aparelhamento é quando os adversários fazem nomeações.
Quando você mesmo faz, é meritocracia. FHC nomeou seu genro diretor-geral da Agência Nacional de Petróleo, e o desnomeou depois do divórcio.
Serra deu emprego a Soninha e família na máquina estadual do PSDB.
Mas nada disso é aparelhamento.
A irmã de Aécio ocupa alto cargo público em Minas. O marido dela é peça-chave na campanha de Aécio. Um primo também. Cheque aqui, se tiver dúvida.
Tudo é meritocracia, naturalmente.
Graças à meritocracia à Aécio, Minas sob seu governo ficou em 22.o lugar entre os 27 estados brasileiros em crescimento econômico entre 2002 e 2010, segundo o IBGE.
O silêncio da mídia permite bravatas meritocráticas a Aécio. E não só meritocráticas: ele se sente protegido o suficiente para falar em “decência” mesmo depois de construir, com dinheiro público, um aeroporto numa fazenda da família.
Este silêncio é obsequioso, mas não gratuito. Caso Aécio se eleja, as grandes empresas de mídia podem se preparar para as copiosas quantidades de dinheiro público que choverão nelas em anúncios governamentais.
E em resposta à chuva de publicidade, o Brasil subitamente melhorará nas análises de Jabor, Merval, Míriam Leitão. A corrupção desaparecerá dos telejornais, dos jornais, das revistas. Se nem a compra da reeleição de FHC foi notícia, o que haverá de ser?
Como disse um genial economista conservador, “não existe almoço grátis”.

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A BBC foi ao Piauí investigar porque Dilma foi tão votada lá.
Publicado na bbc.
Antes das cisternas, mulheres saiam de madrugada para buscar água com cabaças
Antes das cisternas, mulheres saiam de madrugada para buscar água com cabaças.
“Esses aí tinham vida dura”, diz o agricultor Francisco dos Santos Nascimento ao apontar para quatro jumentos que repousam na sombra de um cumaru, uma das raras árvores frondosas do Semiárido.
Ali, no povoado Contente, sertão do Piauí, o equídeo costumava passar os dias com cangalhas no lombo carregadas de água ou lenha.
Então a luz elétrica chegou às 47 famílias do povoado. Depois, as cisternas, as motos e os ônibus escolares. A vida em Contente mudou, e os jumentos perderam funções. “Hoje, até eles estão mais gordos”.
Não por acaso, foi no Piauí que Dilma Rousseff obteve seu melhor resultado proporcional no primeiro turno: 70,6% dos votos, ante 14% de Marina Silva e 13,8% de Aécio Neves.
No Semiárido, que se estende por nove Estados e onde cerca de 40% da população ainda vive no campo, sua vantagem foi ainda mais folgada. No município de Paulistana, que abriga o povoado Contente, Dilma foi escolhida por 80% dos 11,5 mil eleitores, seguida por Marina, com 13%, e Aécio, com 5%.
“Se falar mal de Dilma aqui, periga apanhar”, brinca a mulher de Francisco, Erismar Celestina dos Santos, de 34 anos.
E se Aécio vencer a eleição? “Não quero nem pensar, me dói o estômago.”
Em três dias de viagem pelos “interiores”, os povoados rurais da região, a BBC Brasil não topou com qualquer sinal da campanha de Aécio e encontrou um único pôster de Marina.
Já adesivos de apoio a Dilma e ao também petista Wellington Dias, reeleito ao governo piauiense no primeiro turno, eram avistados a cada instante nas portas das casas.
Dilma deve grande parte de sua força ali ao laço com Luiz Inácio Lula da Silva, cujo governo é tido como um marco na história da região. Nos povoados, cada um tem na ponta da língua os programas federais lançados pelo ex-presidente.
Maior marca de sua gestão, o Bolsa Família costuma ser o primeiro da lista. “É uma ajuda sagrada”, define Erismar, mãe de um filho e que recebe R$ 184 ao mês pelo programa.
A iniciativa, no entanto, é considerada apenas um ponto de partida para várias outras melhorias ocorridas nos anos seguintes.
As mudanças, conta a líder comunitária Jucélia Xavier, se intensificaram a partir de 2007, quando o governo federal reconheceu Contente e várias comunidades vizinhas como áreas remanescentes de quilombos.
Há muito, os mais velhos contavam histórias de antepassados vindos da África, e a comunidade ainda guarda os utensílios que embasaram o reconhecimento: objetos pontiagudos usados para mutilar escravos e fechaduras que, segundo se conta, pertenciam a uma senzala.
Segundo o Ministério da Cultura, há hoje 2,5 mil comunidades quilombolas no país, onde moram 130 mil famílias.
Como comunidades tradicionais e beneficiários do Bolsa Família passaram, nos anos Lula, a ter prioridade na aplicação de várias políticas públicas, logo os programas começaram a chegar.
Em pouco tempo, o Luz para Todos ligaria o povoado à rede elétrica. Hoje quase todas as casas de Contente têm TV, geladeira e máquina de lavar.
Cada residência também ganhou uma cisterna. Com o equipamento, que armazena a água das chuvas, as famílias garantem seu abastecimento até a estação chuvosa seguinte.
Nas secas mais severas, os reservatórios são reabastecidos pelo Exército, sem a intermediação de políticos locais. A prática golpeou a chamada indústria da seca, pela qual autoridades trocavam favores por votos.
Antes das cisternas, lembra Jucélia, todas as madrugadas as mulheres deixavam suas casas em carroças para buscar água com cabaças. “Tinha de cavar na cacimba com picareta e levar na cabeça”.
Com Lula, contam os moradores, também surgiram os primeiros programas de proteção a agricultores. O mais citado é o Seguro Safra, que em anos de colheita fraca, como este, efetua cinco pagamentos mensais às famílias. Em 2014, eles dizem que as parcelas foram de R$ 170.
Segundo os moradores, Dilma não só manteve os programas de Lula como lançou outras três iniciativas que beneficiaram a comunidade.
Pelo Brasil Sem Miséria, extensão do Bolsa Família, cada família recebeu neste ano a fundo perdido R$ 2.400 para investir em atividades rurais. A maioria das famílias optou por construir nos fundos das casas abrigos para rebanhos ou ampliar suas criações de porcos, ovelhas ou galinhas.
E, para garantir a oferta permanente de água para os animais e pequenas lavouras, estão sendo construídas na comunidade 16 cisternas-calçadões. Nesse sistema, grandes placas de cimento canalizam a água para os reservatórios, capazes de armazenar 52 mil litros, três vezes mais que as cisternas comuns.
Segundo Jucélia, antes dessas ações, o agricultor “ia trabalhar nas roças dos outros para conseguir R$ 15 por dia para comprar o leite pro filho”.
“Era o tempo da proteção de Deus e do braço pra cuidar da gente”, lembra Maria de Jesus Nascimento, 76 anos e mãe de 11 filhos. “Era uma escravidão.”
Agora, como os repasses do governo garantem as compras básicas do mês, os agricultores passaram a investir seu tempo nas roças próprias.
Também foi no governo Dilma que as crianças do povoado passaram a ser buscadas na porta de casa por ônibus escolares amarelos, como os usados nos Estados Unidos.
O vaivém dos veículos, entregues às prefeituras pelo programa federal Caminho da Escola, chega a causar pequenos congestionamentos nas cidades da região.
Apesar dos avanços, moradores dizem que uma das principais vitrines eleitorais de Dilma, o Mais Médicos, não teve qualquer impacto ali. Alguns ouviram falar da chegada de médicos cubanos a municípios próximos, mas não notaram melhorias. Eles dizem que há imensa dificuldade para agendar consultas e exames.
A crítica ao sistema de saúde é o único ponto a unir eleitores de Dilma e os raros apoiadores de Aécio na região, em geral jovens assalariados das áreas urbanas.
Moradora de Paulistana, a garçonete Valdene de Souza, 27 anos, afirma que uma falha médica ameaça deixar sua filha de três anos com sequelas para o resto da vida.
Há três meses, ela levou a menina ao hospital para examinar uma fratura no braço. O médico, diz Valdene, avaliou que não era necessário engessá-lo. Passado um mês, porém, o cotovelo da menina entornou.
Ao levá-la ao hospital regional de Picos, a 120 quilômetros dali, Valdene ouviu que a menina deveria ter sido operada e que o dano talvez não pudesse mais ser revertido.
Ela diz que, em vez de financiar obras de calçamento e a construção de quadras esportivas na cidade, o governo federal deveria ter priorizado os gastos com saúde. “Prefiro andar em buraco a ver minha filha com braço torto pro resto da vida”.
Valdene afirma que votará em Aécio em protesto contra o sistema médico e contra o Bolsa Família, que considera injusto.
Ela diz que, entre os moradores de Paulistana, há “pessoas muito bem de vida” na lista de beneficiários do programa. “Tenho que trabalhar para sobreviver e não quero que no fim do mês 30% do meu salário seja descontado (em impostos) para sustentar os outros”.
Já o governo afirma que fraudes no programa são raríssimas.
Em Contente, a agricultora Maria Aparecida Nascimento Nunes, 40 anos, foi na última quarta-feira ao posto de saúde mais próximo para tratar uma dor na coluna e uma inflamação nos olhos.
Ela esperou pelo único dia da semana em que há atendimento médico no posto – nos outros dias, só há enfermeiros. Mas o médico faltara, e ela perdeu viagem.
“A saúde aqui é péssima”, ela desafaba.

A avaliação, porém, não borra a admiração que Aparecida nutre por Lula e Dilma por causa das ações de seus governos. “Quando eu vejo ela na televisão, eu só me contento quando digo ‘benção, mamãe Dilma’.”
Além de melhorar a vida dos moradores, ela diz que os programas das gestões petistas conscientizaram os moradores do sertão sobre seus direitos. “A gente estava tudo dormindo com o olho aberto. Hoje temos respeito.”


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O caso dos vídeos sobre Aécio Neves que estão sendo censurados no YOUTUBE.


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O documentário “Helicoca — o helicóptero de 50 milhões de reais”, produzido pelo DCM, foi retirado do YouTube por causa de uma reivindicação de direitos autorais.
O responsável pelo pedido, um certo “Jorge Scalvini”, não existe. É um perfil fake da internet. Recorremos ao Google há uma semana, mas até agora nada. Isso é resultado de uma prática kafkiana chamada “notice and take down”, em que o autor é obrigado a provar ao YouTube que existe, enquanto o denunciante só necessita de um CPF.
A derrubada do “Helicoca” está longe de ser um episódio isolado. Há pelo menos dois casos similares. Ambos envolvem Aécio Neves.
O primeiro é o do instigante “Liberdade, Essa Palavra”, filme sobre o qual já falei aqui. Foi o trabalho de conclusão do curso de jornalismo de Marcelo Baêta. “Liberdade…” trata da relação da imprensa mineira com o governo de Aécio em seu primeiro mandato (2003/2006).
São várias histórias sobre a pressão da administração aecista sobre jornalistas e as demissões que decorreram dela. Andrea Neves, irmã e braço direito, é um dos personagens principais. Na época, o PSDB mineiro colocou no ar uma resposta acusando Baêta de “petista” e seu trabalho de “manipulação” e “fraude”.
O original de “Liberdade, Essa Palavra” (um verso de Cecília Meireles) foi abatido do YouTube por causa de — adivinhe — reivindicação de direitos autorais.
A trajetória de “Gagged in Brazil” (“Amordaçados no Brasil”) não é muito diferente. Foi escrito e dirigido por Daniel Florêncio para a Current TV, canal por assinatura e portal da web criado por Al Gore.
Tema e período são os mesmos da obra de Baêta. Daniel mostra a cumplicidade da mídia com o projeto de poder de Aécio. Uma editora da TV Globo aparece, sem ser identificada, relatando que a emissora esperava que Aécio estivesse “do lado da Globo”.
Uma matéria no Jornal Nacional elogiava o “déficit zero” nas contas públicas do estado. Logo após a “notícia” narrada por Fátima Bernardes, entrava nos comerciais um anúncio do governo de MG repetindo quase ipsis verbis o que a âncora relatara.
“Gagged” foi ao ar na Current TV no Reino Unido e nos EUA em maio de 2008. Uma semana mais tarde, foi postado no YouTube, com legendas, e bombou em pouco tempo.
Quatro meses depois, sairia da Current.com. Florêncio — que mora em Londres há dez anos — escreveu no Observatório de Imprensa que sua editora lhe esclareceu o seguinte: “Os executivos seniors do canal nos EUA receberam cartas com severas considerações e críticas sérias em relação ao filme. As cartas foram enviadas pelo PSDB de Minas Gerais. O PSDB afirmava que meu filme tinha caráter político-partidário, que não representava a realidade no estado e questionava minha conduta ética”.
Por desejo do diretor de programação David Newman, o gerente de jornalismo Andrew Fitzgerald deu início a uma investigação. “Elaborei dossiês, contatei minhas fontes no Brasil, e escancarei meus procedimentos para Andrew Fitzgerald”, diz Daniel. Fitzgerald o avisaria, afinal, que “Gagged in Brazil” estava de volta à Current TV.
No YouTube, porém, o desfecho foi outro. No dia 3 de fevereiro deste ano, Florêncio recebeu um alerta de um desconhecido, querendo saber o que houve com o filme. Quando clicou no link, pumba!: infração de copyright, requisitado por um certo Gabriel Amâncio. Ganha um pão de queijo quem acredita que Gabriel Amâncio é um cidadão de carne, osso, miolos e músculo.
Como no caso de “Liberdade”, outras versões estavam disponíves. Mas a eliminada contava com quase meio milhão de visitas, além dos links em sites, blogs e nas redes sociais. Na internet, a relevância varia de acordo com o número de links e visitas. O objetivo era fazer com que o documentário se tornasse irrelevante no Google, Bing, Yahoo etc.
O PSDB perpetrou um vídeo-resposta a “Gagged” que explodiu milagrosamente no YouTube. Os comentários, veja só que curioso, eram de países da Ásia, África, Europa. Todos falsos. Daniel explicou a ciência por trás dessa façanha num outro filme curto, que eu posto abaixo. Basicamente, é um spam. Assista enquanto Jorge Scalvini não dá as caras.
Aécio tem processos contra Facebook, Twitter e Google. Quem o representa é o escritório de advocacia Opice Blum, tido como autoridade em direito digital. Segundo um perfil do candidato na Piauí, seu contrato é como pessoa física.
Uma advogada afirmou à revista que as ações contra buscadores fazem referência a “uma mentira que espalharam na rede dizendo que o senador é acusado em ação judicial promovida pelo Ministério Público de ter desviado 4,3 bilhões de reais”.
Foi o Opice Blum que moveu a ação contra o Twitter para descobrir os dados cadastrais de 66 contas que, supostamente, fariam parte de uma “rede virtual de disseminação de mentiras e ofensas”. Uma dessas contas é a do DCM.
Noves fora a onda de repulsa que essas arbitrariedades causam, a cada vídeo retirado aparecem outros, num efeito multiplicador. O “Helicoca”, por exemplo, tem cinco versões no YouTube no momento em que digito estas maltraçadas. Sem contar as do Vimeo e as do Daily Motion. Existem outras tantas de “Gagged” e de “Liberdade, Essa Palavra”.
Já dizia a fabulosa Hannah Arendt: “Somente quando as coisas podem ser vistas por muitas pessoas, numa variedade de aspectos, sem mudar de identidade, de sorte que os que estão à sua volta sabem que vêem o mesmo na mais completa diversidade, pode a realidade do mundo manifestar-se de maneira real e fidedigna”.
Marina Silva citava Hannah Arendt com frequência. Não sei se Aécio Neves tem ideia de quem se trata.

Gagged in Brazil Censura a Imprensa



Aécio Neves e o Spam



Liberdade, essa palavra - Parte 1 - Marcelo Baêta



Liberdade, essa palavra - Parte 2 - Marcelo Baêta



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É moralmente aceitável um governador colocar dinheiro público em rádios da família ?

A peculiar ética do candidato
A peculiar ética do candidato.

Gostei muito de Luciana Genro, no primeiro turno, pela sinceridade em suas colocações.
Sinceridade é uma das virtudes que mais me tocam.
Pelo lado inverso, hipocrisia me incomoda terrivelmente. Não conhecia a fundo, antes da campanha, Aécio Neves.
O que mais me aborrece nele é exatamente sua desfaçatez, aliás esplendidamente exposta por Luciana Genro num debate presidencial.
Hoje, por exemplo.
Vejo no site da Folha que o governo de Minas não informa quanto dinheiro colocou em publicidade nas rádios de Aécio.
Alguém aí falou em transparência?
O que se sabe é que, sob Aécio, os gastos com publicidade do governo de Minas cresceram três vezes.
Um momento: Aécio tem uma rádio? Mais precisamente: três? E um jornal?
Tudo bem um político ter veículos de mídia? A Constituição veda, como lembrou em sua campanha Luciana Genro. Ela prometia acabar com a farra.
Mas de novo: é decente isso, ainda que dando o controle a laranjas possa ser legal?
É decente você, como governador, colocar dinheiro público em rádios e num jornal de sua família?
Se Aécio fosse um prodígio como empreendedor, poderíamos discutir com um pouco mais de complexidade este assunto. Mas ele ganhou sua primeira rádio aos 25 anos, uma cortesia de Sarney. Caiu em seu colo de neto de Tancredo.
Em que mundo vivemos? Sei que não estamos na Suécia, onde muito menos que isso é socialmente inaceitável, mas também não temos que exagerar no lado contrário.
A mídia – sempre tão pronta a se indignar com qualquer coisa – acha normal isso? É uma pergunta que eu gostaria de fazer aos donos das empresas jornalísticas.
E os colunistas campeões da moralidade: o que pensam disso? Gostaria também de saber a opinião de sumidades jurídicas como Joaquim Barbosa e Gilmar Mendes.
A Folha diz que o governo mineiro não diz quanto colocou nas empresas de mídia da família Neves.
Mas é claro que com algum esforço de reportagem essa informação seria obtida. Alguém, cansado de tanto despudor, vazaria a cifra.
Mas a Folha sabe até onde ir. O que mais interessa a ela é manter a imagem de pluralismo, e não propriamente elucidar escândalos de gente como Aécio.
Quanto a mim, gostaria de saber quanto dinheiro foi posto também na Globo nestes anos de Minas sob Aécio.
Quantos milhões?
Isso ajuda a entender por que a Globo jamais cobriu, com honestidade jornalística, Aécio.
As grandes empresas jornalísticas não mamam apenas do governo federal. Mamam também de governos estaduais e de prefeituras.
Se Alckmin perdesse, o lote de assinaturas da Veja para escolas – os alunos desprezam, naturalmente, e nem tiram da embalagem – não seria renovado. Livros didáticos da Abril não seriam comprados.
Aí está um paradoxo: se você desplugar as empresas de comunicação do Estado, elas desabam. Elas são Estado dependentes. Não caminham pelas próprias pernas.
Nem competir elas competem: há uma reserva de mercado que veda a entrada de empresas estrangeiras.
Um choque de capitalismo: é isto que as empresas deveriam receber, e não verbas de todos os lados que as fazem depender do “Estado Babá”.
Claro que, num choque capitalista, políticos não poderiam ser donos de veículos de mídia pelo óbvio, brutal, intolerável conflito de interesses.
Pela indecência, em suma — um atributo que se torna ainda mais sinistro quando associado a alguém que diz defender a decência.
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