terça-feira, 2 de setembro de 2014

Não posso votar em quem não sabe em quem votaria.

marina-silva-sao-paulo-20110707-12-size-598


Por Ana Helena Tavares, editora do QTMD? e colunista do Direto da Redação.

Neste ano de 2014, a opção de voto dos direitistas e de parte daqueles que são contra “tudo isso que está aí” já não parece mais ser Aécio Neves. Marina Silva é a bola da vez, após a trágica queda do avião de Eduardo Campos.
Com discurso de agregação, mas um histórico de falta de apoios, juntando-se à notória inconstância, Marina poderá ser derrubada no primeiro sopro de um verdadeiro membro da elite. E o seringueiro Chico Mendes não estará aqui para ver.

Mas André Lara Resende, que está na campanha de Marina, verá. Segundo o ex-presidente Fernando Collor conta em livro, foi Lara Resende uma de suas inspirações para confiscar poupanças. Na mão dele, de Neca Setúbal, e de um time barra pesada, Marina é mero fantoche.

É à ausência de convicções de Marina que se agarram, até a última gota de veneno, esses banqueiros e economistas que a sustentam. Não é preciso ser nenhum crânio para assistir ao tal veneno sendo destilado em pleno horário nobre. Até mesmo em propagandas disfarçadas nos jornais impressos.

E o que dizer da menina dos olhos da família Civita? Aquela revista semanal que seria capaz de malabarismos para provar por ‘a mais b’ que o Tietê é limpo se disso dependesse a derrubada da reeleição de Dilma.

É claro que o mau-cheiro exalado pela ‘high society’ não interessa à Veja. Interessa colocar um quilo de maquiagem e photoshop na candidata escolhida – pela Veja e pela “providência divina” – moldar nela um sorriso de Monalisa, fazer uma capa que pergunta mas já responde e decretar que ela tem “ideias inatacáveis”. Inatacável nem Cristo foi, mas, para a Veja, Marina é.

O maior pecado do jornalismo não é ser parcial, já que a imparcialidade total nenhum ser humano é capaz de alcançar. O maior pecado é a arte da cara de pau. A daqueles que se vendem como imparciais sem ser. Que sorriem para o povo e o apunhalam pelas costas.

Mas eles têm um problema. O que seria de Boris Casoy sem “os mais baixos na escala do trabalho”? O que seria de Carlos Lacerda sem Getúlio Vargas? Durante os ‘anos dourados’ de Juscelino Kubistchek, um presidente ‘bossa nova’ que estava mais preocupado com a construção de Brasília do que com as porradas que levava diariamente da imprensa, Lacerda murchou.

Todo candidato diz querer um país que “dê certo”. O que é “dar certo”? É repetir o entreguismo dos golpistas de nossa história e dar o Pré Sal de bandeja ao Tio Sam como quer Marina, a candidata ‘bossa velha’?

Uma real independência não é feita de um grito em cima de um cavalo. Independência para valer requer longos e dolorosos processos históricos para ser concretizada. A nossa, sem dúvida, está até hoje em construção. Avançou muito nos últimos 12 anos e, ao mesmo tempo em que isso fere aos amantes da submissão, é essa ferida que os move.

‘Ah, o PT cometeu erros’! Muitos. Muitos mesmo. Mas se você viu muita corrupção, é porque ela foi investigada, punida, e não houve censura. Mais: nem o PT nem nenhum grande partido nega a política da forma como Marina, a quase-Rede, nega. Marina nem sabe o que nega.

Em debate na TV Bandeirantes deixou claro o seu plano fatal: unir figuras como José Serra, Pedro Simon e Eduardo Suplicy. Como é possível que alguém acredite em tamanho delírio, ainda mais vindo de alguém que criou divergências por todos os lugares que passou?

O filósofo romano Sêneca definiu a raiva como “loucura temporária”. Marina tem raiva da política e não nos oferece novidades. Tem uma equipe econômica que pretende devastar o Banco Central e voltar aos tempos de arrocho, tem visões antiquadas sobre questões sociais que já avançaram em vários países do mundo. Seu problema não é ser evangélica. Meu irmão era diácono e tinha ideias firmes. Jamais foi enquadrado por pastores, como Marina parece ter sido por Silas Malafaia.

O problema de Marina, acima de todos os listados e que se possa listar, é nem saber quem é. Como votar nela se nem ela sabe em quem votaria?

Ana Helena Tavares, jornalista, conhecida por seu site de jornalismo político Quem tem medo da democracia?, com artigos publicados no Observatório da Imprensa e na extinta revista eletrônica Médio Paraíba. Foi assessora de imprensa e repórter dos Sindicatos dos Policiais Civis e dos Vigilantes. Universitária, entrevistou numerosas pessoas que resistiram à ditadura e seus relatos (alguns publicados na Carta Capital e Brasil de Fato serão publicados brevemente num livro.


http://quemtemmedodademocracia.com/2014/08/31/nao-posso-votar-em-quem-nao-sabe-em-quem-votaria/?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+qtmdemocracia+%28Quem+Tem+Medo+da+Democracia%3F%29

Nenhum comentário: