segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Sobre a entrevista de Dilma com os blogueiros.

A entrevista
A entrevista.

O jornalista Ricardo Noblat, da Globo, tem perdido boas chances de não falar nada.
Primeiro, na sabatina do Globo com Dilma, Noblat sugeriu a ela que falasse menos porque assim os entrevistadores poderiam falar mais.
Agora, ele em sua conta no Twitter caluniou os blogueiros independentes que entrevistaram Dilma ontem. Disse que eles são pagos pelo PT.
O DCM, que participou da entrevista com o diretor-adjunto Kiko Nogueira, só não processa Noblat porque sabe como as coisas funcionam na Justiça brasileira.
Nos orgulhamos de nosso absoluto apartidarismo, ao qual se junta uma transparência inexpugánel. Sem isso, você não faz jornalismo decente.
Jamais recebemos nada – repito: nada – do PT. Nossas reportagens mais custosas, como a do helicoca, foram bancadas pelos nossos leitores.
Com mais de 2 milhões de visitantes únicos por mês, e na condição de um dos mais florescentes sites de notícias brasileiros, estamos agora montando nossa área comercial.
O modelo de negócio dos sites, em todo o mundo, se consagrou como baseado em publicidade.
Estamos, neste momento, apresentando o DCM a agências e anunciantes – privados e estatais.
É uma batalha dura.
No âmbito das estatais, a concentração de anúncios nas mídias tradicionais é avassaladora. A partilha não reflete a brutal migração de público para a internet.
Só recentemente a Secom, que supervisiona a publicidade federal, determinou que fosse dada mais atenção à mídia digital, para acompanhar o movimento de uma sociedade que cada vez mais se informa e se entretém pela internet.
Quem vem se beneficiando deste descompasso são exatamente empresas como a Globo, de Noblat.
Todos os anos, as estatais têm colocado cerca de 600 milhões de reais na Globo – uma cifra que se mantém a despeito das sucessivas quedas de audiência da emissora.
No bolo da publicidade, a internet hoje tem cerca de 20% do total no Brasil. É bem menos do que em países como Estados Unidos e Inglaterra, nos quais já se passou da marca de 40%.
Na maior parte das estatais brasileiras, os investimentos em publicidade digital ainda estão na casa dos 5%, ou até menos.
Logo, se há empresas que se dão bem com publicidade governamental, elas são exatamente aquelas simbolizadas por colunistas como Noblat.
Não vou falar aqui em outras formas tradicionais de angariar dinheiro público, municipal, estadual ou federal, como a venda de livros.
Vou passar ao largo também de financiamentos de bancos públicos, uma prática corriqueira na história da mídia nacional.
Se há um setor para o qual se impõe um “desmame” oficial, para usar a expressão de um mentor econômico de Marina, é exatamente a mídia.
Não bastassem todas as vantagens, as empresas nacionais gozam ainda de uma absurdamente anacrônica reserva de mercado. Se Murdoch decidisse investir no Brasil, toparia com uma legislação que lhe vedaria o controle de uma companhia jornalística.
Num antológico artigo em que defendeu a reserva, o então advogado da associação que faz o lobby da Globo Luís Roberto Barroso, hoje no STF, afirmou que com ela, a reserva, evitaríamos o risco de uma emissora chinesa instalada no Brasil fazer propaganda do maoísmo.
Disse, também, que a reserva protege o patrimônio cultural representado pelas novelas.
Sobre a entrevista em si dos blogueiros com Dilma, ela não foi mais amistosa que a do Bom Dia Brasil com Marina, definitivamente.
E nem o objetivo era o conflito. O propósito era ouvir Dilma sobre pontos importantes da agenda nacional, e não estabelecer uma competição sobre quem falava mais, como fizeram em diversas ocasiões jornalistas da Globo.
Neste sentido, foi a primeira vez que Dilma se pronunciou, com clareza, sobre a regulação da mídia. Se você não admite monopólios e oligopólios em todos os setores da economia, por que na mídia é diferente?
A Globo, pelas suas variadas mídias, fez sucessivas sabatinas com Dilma. Nenhum jornalista – repito: nenhum – perguntou sobre a regulação.
Só isso, este silêncio sepulcral sobre um tema vital para a sociedade, já justificaria um exame profundo sobre o papel e os limites da mídia.
Noblat talvez não saiba, mas parte do dinheiro que a Globo lhe paga – e a outros colunistas como Jabor, Merval e Míriam Leitão – deriva do governo.
Por tudo isso, a melhor coisa que ele poderia fazer sobre a conversa de Dilma com blogueiros independentes – fora assistir – é manter um espesso silêncio.


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Como foi a entrevista com Dilma.


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Na última sexta-feira, você sabe, o DCM participou de uma entrevista com a presidente Dilma Rousseff. Estive lá com mais sete blogueiros. Foram aproximadamente duas horas e meia no Palácio do Alvorada. O combinado era uma hora.
Muita estultice já foi disparada sobre o assunto. O insofismável Ricardo Noblat, por exemplo, o mesmo que matou Ariano Suassuna antes da hora e garantiu que Lula seria candidato no lugar de Lula, ele mesmo – chamou a coisa de “farsa” (?).
Não se sabe muito bem o que isso significa, apenas que é fruto de uma mistura de leviandade, ciúme, burrice, maldade e falta do que fazer.
(A passagem foi paga por nós, caso interessar possa. Fui e voltei no mesmo dia de uma calorenta e seca Brasília. Mas nada disso interessa. Adelante.)
Se você não viu a entrevista, eis a íntegra =

#DilmaEaNovaMídia: Encontro Dilma e blogueir@s.

Em linhas gerais: Dilma começou com a regulação econômica da mídia, respondendo ao questionamento de Altamiro Borges. “Não é controle de conteúdo”, frisou, antecipando a histeria dos suspeitos de sempre.
“Onde há concentração de poder econômico dificilmente haverá relações democráticas”. Citou a certa altura o papa Francisco, que condenou três pecados (“dois deles, seculares”) do mundo de hoje: a calúnia, a difamação e a desinformação.
Sobre saúde, aposta no fortalecimento do SUS, embora acredite numa convivência entre o sistema público e o privado. Fez algumas blagues. Comentou que, numa visita a um hospital, pôde monitorar uma área por uma câmera. As pessoas ali não tinham ideia que, do lado de lá das lentes, estava a presidente da república.
Acredita que um plebiscito seja necessário para levar adiante a reforma política. A respeito das acusações de “bolivarianismo”, recordou que Arnold Schwarzenegger convocava frequentemente plebiscitos na Califórnia quando era o governador.

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Respondendo a Renato Rovai sobre violência policial, falou dos autos de resistência — que, na verdade, “servem para encobrir o assassinato”. Duvidou de uma pesquisa que dizia que 76% dos policiais são a favor da desmilitarização. Admitiu que a “política de cárcere do Brasil é cega: nem certa, nem errada, ela não sabe para onde vai”.
O discurso na ONU, em que teria pregado um “diálogo” com Estado Islâmico, foi distorcido deliberadamente, segundo ela. “O Conselho de Segurança não aprovou os bombardeios dos Estados Unidos na Síria”, afirmou.
“Não é possível que alguém acredite que depois da invasão ao Iraque, da guerra na Síria, na Líbia, e após Israel, que os conflitos são resolvidos por invasão aérea. Tem de ser muito ingênuo ou desconhecedor da história dos últimos quatro ou cinco anos”.
Como eu disse, o relato completo do encontro está disponível neste link.
O que você não viu?
Nós aguardamos Dilma por 20 minutos, sentados à mesa de 16 lugares. Da entrada do palácio, com um espelho enorme que dá a sensação estranha de estar encontrando uma turma parecida vinda do nada (Paulo Moreira Leite disse que não consegue se acostumar com aquilo), até o salão onde ocorreu a conversa são mais ou menos 300 metros de ambientes com sofás, poltronas e mesas de centro.
Dilma foi anunciada pelo ministro das comunicações Thomas Traumann. Estava com um terninho vermelho (certamente uma propaganda subliminar ou, mais do que isso, uma referência às ciclofaixas socialistas paulistanas).
À cabeceira, o primeiro assunto debatido, antes do streaming iniciar: a crise no Sistema Cantareira de São Paulo. Segundo Dilma, ela conversou com Alckmin, há meses, sobre uma possível seca. Explicou, usando as mãos, qual seria o tamanho de uma peça usada numa obra nesse tipo de intervenção.
Queixou-se da secura do ar da capital e do que isso causava a sua garganta e ao seu fôlego. Não à toa, havia umidificadores de ar na sala.
Apesar disso, nada que transparecesse cansaço ou desânimo. Parecia bem humorada, traço que tem marcado alguns debates e certas sabatinas, aliás. Perguntei a um membro do estafe se o bom humor se devia a alguma nova pesquisa. Não, foi a resposta.
Horas depois seria divulgado o Datafolha em que ela aparecia 13 pontos à frente de Marina e, pela primeira vez, liderando no segundo turno. Na despedida, fez algumas piadas com os nomes de alguns dos sites.
A entrevista terminou para outra começar. Em vans, jornalistas chegavam para a coletiva de todos os dias, naquele mesmo cômodo, com a candidata à reeleição.
Do lado de fora, o clima estava seco e quente.

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