domingo, 30 de novembro de 2014

600 pessoas na Paulista: o “movimento” pelo impeachmente está morto, mas falta avisar os coveiros.

Impeachment

Durou pouco mais de um mês o “movimento” pedindo o impeachment com base em teorias estapafúrdias e alimentado por paranoicos.
A última marcha reuniu, segundo a PM, 600 gatos pingados na Avenida Paulista. No Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, a coisa micou mais ainda. No resto do Brasil, não aconteceu nada.
Em São Paulo, o primeiro protesto já dava sinais claros de insuficiência cardíaca. O deputado eleito Eduardo Bolsonaro, filho de Jair, apareceu com uma pistola na cintura no alto de um carro de som. Formou uma parceria com o deputado não eleito Paulo Batista. Juntos foram ao velho Danilo Gentili vender seu peixe.
Batista teve seus 3 minutos de semicelebridade do B com vídeos da campanha eleitoral, como um em que sobrevoava uma cidade disparando um “raio privatizador” de seus olhos.
Uma semana depois da manifestação de 15 de novembro, ele já estava sendo acusado de ser — sim, você leu direito — comunista por um certo Marcello Reis, criador da conta Revoltados Online no Facebook.
Desta vez, manifestantes que pediam “intervenção militar” foram expulsos da marcha, com a ajuda da polícia militar. Lobão apontou o dedo e humilhou o pessoal, acusando aqueles homens e mulheres de bem de ser — isso mesmo — de “extrema direita”. O empresário Ricardo Roque, que levava um megafone, foi afastado pela polícia. Estava vendendo camisetas e bonés sob medida para corpinhos fascistas.
Como sempre, cenas patéticas. Um ambulante foi chamado de “vagabundo” e “drogado”. Duas pessoas foram presas.
O “movimento” deu seu estertor hoje, vítima de sua própria inconsistência, entre outras doenças. Bateu as botas um dia depois do ator mexicano Roberto Bolaños. Como diria o Chaves, teria sido melhor ir ver o filme do Pelé.

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A marcha das tiazinhas: o DCM no ato contra Dilma na Paulista.

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Na página do Facebook do Revoltados Online (!) que convocava para a manifestação de sábado estava escrito que na primeira edição haviam comparecido 10 mil pessoas! Que na segunda foram 50 mil!! E que neste sábado (29) seriam 500 mil !!!
Com muito boa vontade dá para chutar que eram mil. Um mil e quinhentos talvez.  Segundo a PM, 600. Concentrados no vão do MASP, repetiram o roteiro de sempre: cantaram o hino nacional (ali e depois mais um par de vezes), rezaram a ave-maria, pediram ‘fora PT’, ordenaram ‘Lula cachaceiro, devolve meu dinheiro’.
A faixa que puxaria a procissão continha os temas ‘não ao Marco Civil’, ‘não às cotas raciais’, ‘não à reforma política’, ‘liberdade de imprensa’. As cartolinas escritas à mão pediam ‘fora Dilma’, ‘impeachment já’, ‘façam o diabo com Cuba, não com o Brasil’.
Se na manifestação anterior apenas um décimo da quantidade inicial conseguiu chegar à praça da Sé, dessa vez o percurso foi adaptado e reduzido ao máximo. Muito em razão também da faixa etária daqueles manifestantes, foi feito um zerinho na Paulista.
Saindo do MASP, fizeram o retorno na Praça do Ciclista e, na outra ponta, na avenida Brigadeiro. Circuito típico de fórmula Indy, na velocidade de Rubinho Barrichelo. Para senhoras, senhores e alguns cachorrinhos já está bom.
No início, Lobão falou. Novamente criticou a presença dos manifestantes que pediam intervenção militar e chegou a pedir auxílio da PM para a retirada do que classificou de “alienígenas”. No microfone os discursantes se revezavam. “Dizem que somos coxinhas. Se ser coxinha é trabalhar duro, pagar altos impostos, então somos coxinhas sim”.
Os organizadores fizeram questão de parar alguns minutos defronte ao prédio em que há escritórios da Petrobrás para mais discursos sobre a roubalheira. Alguém sobre o caminhão de som lembrou que estavam em frente também a um prédio ‘símbolo da mídia comprada pelo governo’. Era o da Gazeta. Estudantes de jornalismo da Casper Líbero que estavam sentadas na escadaria caíram na risada.
Ao final, um advogado explicou quais seriam os próximos passos. “O primeiro é a petição para o impeachment. Mas para isso de fato acontecer é muito importante o segundo passo ser iniciado de imediato: o abaixo-assinado. O terceiro passo é o mais importante de todos, alertou o advogado: o povo precisa estar na rua.”
Ou seja, a primeira etapa deveria ocorrer depois da segunda e, a terceira… bem, a terceira etapa já estava acontecendo naquele momento antes das duas primeiras. Entendeu? Então… melhor ir ao cinema, não é mesmo?
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O fim melancólico da revista INFO.

INFO
Trabalhei por um pouco mais de dois anos na editora Abril. Entrei lá com 21 anos. Queria trabalhar com tecnologia desde o início. Sonhava em ingressar na revista INFO, mas acabaram me levando ao site da EXAME, emprego no qual aprendi muito sobre economia e negócios.
Tive contato com muitos ex-jornalistas da INFO. Pessoas brilhantes, com enorme capacidade de compreender tecnologia e ciência.
Nunca fui assinante, mas comprei e li freneticamente entre 2006 e 2011. E já era seu leitor antes disso, quando a internet começou a ganhar popularidade em nosso país.
Alguns de meus textos e contribuições foram reproduzidos no site da INFO, e são matérias de que me orgulho. Por este motivo, fiquei triste ao deparar com a notícia do fim da edição impressa.
A revista sai de circulação em fevereiro do ano que vem e passar a existir ter apenas em sua versão digital e no site. É um fim melancólico.
INFO surgiu em março de 1986, há 28 anos, com o nome de EXAME Informática. Tornou-se INFO EXAME e, depois, apenas INFO. Sempre esteve antenada com a internet.
Com a INFO, aprendi a configurar programas de computador, a desmontar máquinas, a fotografar e a gostar de tecnologia. Houve um tempo em minha vida em que pensei em cursar engenharia ao invés de jornalismo, e a publicação me ajudou muito nessa busca.
Ela reunia tanto jornalistas quanto programadores e designers competentes. Nos anos 2000, foi criado o INFOLab, um espaço para testes de produtos tecnológicos. O primeiro iPhone e o primeiro iPad passaram por ali, além de muitos outros PCs, videogames e diferentes aparelhos.
Os jornalistas da INFO não iam apenas atrás de fatos corriqueiros, mas pesquisavam sobre a qualidade da internet brasileira, apuravam sobre o real funcionamento dos aparelhos e tinham uma equipe de técnicos que ajudava a trazer as informações mais precisas.
Nos últimos anos, houve problemas com o próprio público. A maioria dos leitores consome sites. Desta forma, a INFO tentou diversificar suas pautas, considerando até mesmo a cultura pop e a ciência.
O problema da Abril transformar a INFO em uma “revista digital” é deixá-la como uma mera extensão de sua página na internet, que já dá certo sozinha.
A internet é o futuro e a revista é um produto obsoleto. No entanto, foi a INFO que ajudou inúmeros brasileiros a usarem os recursos do mundo online.
A INFO foi uma escola de jornalismo para quem trabalha seriamente com tecnologia no Brasil, com suas resenhas, análises e entrevistas. Foram eles que entrevistaram Bill Gates e vários nomes do setor que mudaram o mundo da computação, das redes sociais e da internet.
Eu discordo profundamente de alguns jornalistas que acham que não existirá editoria de tecnologia num futuro próximo. Esses assuntos prosseguem como importantes, sobretudo para brasileiros que querem aprender a criar inovações para seu próprio país.
A revista INFO sobreviverá em novos formatos e nas edições velhas que guardo aqui em casa, além da gratidão que tenho com os profissionais de lá nos meus anos de Abril.

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O envelhecimento da Veja na metáfora musical de seu diretor.

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A queda pode ser corajosa, pode ser digna, pode ser épica.
Ou pode ser cômica e patética.
A queda da Veja vai pelo segundo caminho.
Um episódio é particularmente revelador do anedotário que cercará a transformação de uma grande revista, na Era do Papel, para uma revistinha nos tempos digitais.
Considere.
O presidente da Abril, Fabio Barbosa, procurou o diretor de redação da Veja, Eurípides Alcântara, para tratar de um assunto que o preocupara: o envelhecimento dos leitores da revista.
Este é um drama para qualquer publicação. Nos anos 1980, o Estadão perdeu uma liderança centenária para a Folha exatamente pelo envelhecimento de seus leitores.
Leitor jovem, como qualquer tipo de consumidor jovem, é tudo que os editores querem: isso costuma garantir fidelidade por muito tempo. E é um excepcional fator de atração de anunciantes, também eles em busca de jovens, com seu imenso apetite por consumir, consumir e ainda consumir.
Para jornais e revistas, há um drama adicional: leitores velhos não demoram muito a morrer. É triste, mas é a vida como ela é.
Posto diante do problema do envelhecimento dos leitores, Eurípides se saiu com a seguinte resposta: “Somos que nem o Charles Aznavour. Sempre vamos ter o nosso público.”
Não ficou claro se Fabio Barbosa comprou a resposta. Mas uma frase dessas, numa corporação, jamais morre numa única conversa. Não se sabe bem como, ela passou a ser contada como piada entre os executivos da Abril.
Não é a única.
Gargalhadas explodem quando é rememorada a primeira reunião de Alexandre Caldini, comandante da divisão de revistas da Abril, com os novos subordinados. “Nosso negócio é revista”, disse ele. “Quem não acredita em revista pode levantar e ir embora.” Só faltou, para a perfeição, o fecho justo: “O último apaga a luz, por favor.”
De volta a Aznavour.
Não é algo que possa ser usado como arma de vendas pela equipe de propaganda, naturalmente. Quem anuncia quer um público interessado em consumir mais que bengalas e medicamentos diversos.
O público que lota as exibições de Taylor Swift é mais auspicioso, aos olhos do chamado mercado, do que os veteranos que prestigiam Charles Aznavour.
Fora da comédia, como a Veja se rejuvenesceria para ganhar público jovem?
É a chamada missão impossível.
O conteúdo teria que ser outro, capaz de captar o espírito do tempo. E a mídia, em si, também: o papel morreu.
Dito tudo isso, é divertido imaginar os funerais da Veja com a trilha sonora de Charles Aznavour.
Dance in the old fashioned way.
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