Uma das obsessões da mídia é intrigar Lula e Dilma.
Lula cansou de dizer, antes e durante a campanha presidencial, que ele era Dilma, Dilma e ainda Dilma.
Não foi suficiente.
Jornais e revistas continuaram a publicar artigos segundo os quais Lula estaria prestes a substituir Dilma na chapa do PT e aliados.
Até a data em que a substituição poderia ocorrer era continuamente citada.
Como Lula tantas vezes falara, e ao contrário do que mídia tanto apregoara, Dilma saiu candidata.
E com um brutal apoio de Lula venceu.
Quais eram as fontes citadas por jornais e revistas para sustentar o conflito entre Lula e Dilma?
Era tudo “off”, que no jornalismo significa anonimato. “Altas figuras” do PT falavam em “off”, segundo jornais e revistas.
Bem, lembrei tudo isso a propósito de uma controvertida reportagem da revista Piauí que retorna ao tema Lula versus Dilma.
Nem Lula e nem Dilma quiseram conceder entrevista à repórter que fez o artigo, Daniela Pinheiro.
Mas isso não a impediu de dissertar longamente sobre os problemas entre Lula e Dilma.
Até a primeira dama entrou na matéria. Teria dito na casa de Lula, numa pizzada, que Dilma é “ingrata” etc etc.
Por coincidência, li nestes dias, na mídia inglesa, um artigo sobre o caso das artimanhas utilizadas pelos tabloides de Murdoch para obter informações e depois repassá-las ao público.
Uma coisa, especificamente, me impressionou.
Alguns textos publicados pelos tabloides, e agora sujeitos a investigações criminais, diziam coisas assim. “Segundo uma fonte graduada da Scotland Yard”, e depois vinham os alegados fatos.
Um jornalista foi instado a dizer qual era a “fonte graduada”.
Ele respondeu que aquele era um artifício usado amplamente por jornalistas para embelezar uma matéria e impressionar os chefes.
Isto na Inglaterra, onde se faz um dos melhores jornalismos do mundo, se não o melhor.
Daniela Pinheiro tem boa reputação, e não sei se chegaria a tanto. Imagino que não.
Mas quantas vocês este tipo de recurso não terá sido empregado – inventar fontes e afirmações – por jornais e revistas empenhados em minar Dilma na disputa pela presidência?
E não é só isso.
Ainda que Daniela mesmo não tenha criado fonte nenhuma. Como ela poderia estar segura de não estar sendo usada por alguém para disseminar cizânia?
Quando você se esconde por trás do “off”, pode falar o que quiser sem consequências.
Jornalistas, ao longo dos tempos, têm sido frequentemente usados por pessoas de intenções escusas para, sob o anonimato, publicar coisas destinadas a atingir desafetos e promover os próprios interesses.
Um caso clássico, antológico neste capítulo é o de Cachoeira com a Veja.
Os fatos não autorizam a versão de que Dilma e Lula não se entendem. Ela sabe muito bem que sem Lula não teria sido eleita e nem reeleita, a despeito de seus méritos.
Por isso, o artigo da Piauí soa bizarro.
Daniela Pinheiro não agiu por má fé, diz minha intuição.
Mas foi ingênua, foi tola, foi mal orientada e mal editada por seu chefe.
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Uma breve reflexão sobre as pessoas que ¨desistiram do Brasil¨ e estão indo para Miami.
A designer Malu Guerra e o marido, o consultor José Arnaldo Navarro, com os filhos, preparam a mudança para Miami.
Está na coluna de Mônica Bérgamo, na Folha.
A designer Malu Guerra e seu marido, o consultor José Arnaldo Navarro, desistiram do Brasil.
Vão morar em Miami, decepcionados com a derrota de Aécio.
Tenho um certo problema com textos como o de Mônica, que não quantificam as coisas e apontam tendências com base em nada.
Um recurso clássico de jornalistas sem estatísticas é este: “Cresce o número de”.
Se entendi bem a coluna, “cresce o número” de pessoas de classe média alta que estão indo embora do Brasil, rumo ao “paraíso” americano.
Como a crise econômica nos Estados Unidos se arrasta desde 2008, sem dar mostras de que vá arrefecer, tenho dúvidas sobre as oportunidades que brasileiros desiludidos encontrarão lá.
Miami, por exemplo.
Num levantamento recente feiro pelo site 24/7 Wall St, Miami apareceu como a quarta cidade americana mais malgovernada.
A taxa de desemprego, de 10,3%, é uma das maiores dos Estados Unidos, apontou o site. E o índice de pobreza, 31%, é o dobro da média americana.
Aproximadamente um de cada dez empregos em Miami é relativo a construção, mais que a vasta maioria das grandes cidades americanas.
Empregos em construção requerem baixa qualificação, e não são exatamente promissores.
Mas não é sobre isso exatamente que quero falar.
Eu queria comentar a atitude de pessoas como o casal Malu e José.
Você não constrói um país decente com gente com este tipo de mentalidade.
Nas palavras de Darcy Ribeiro, o problema do Brasil é um pequeno grupo de pessoas que impede qualquer tipo de mudança que ameace os privilégios e mamatas de que desfrutam há décadas, séculos.
Aqueles que lutam contra isso são os indispensáveis.
O Brasil pode ser uma Escandinávia ensolarada, libertária, igualitária, em que as oportunidades sejam iguais para todos.
Mas para que isso ocorra a estrutura viciada de que Darcy Ribeiro falava tem que ser desfeita.
Desejo boa viagem e boa sorte ao casal Malu e José, mas francamente: não é com pessoas assim que seremos uma Escandinávia.
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*** *** Gilmar Mendes, o Juiz da Lei Seca e Deus são a mesma pessoa ?
João Carlos de Souza Correa, aka Deus.
O juiz que mandou prender a fiscal da Lei Seca porque ela ousou lembrar que ele não era Deus não é uma exceção, mas uma regra no Brasil. Nos últimos dez dias tivemos provas incontestes da onipotência e onisciência da categoria.
João Carlos de Souza Correa já havia se envolvido em outras encrencas e é sintomático que, até hoje, nada lhe tenha acontecido. Em dezembro de 2007, por exemplo, quis entrar no free shop de um navio de cruzeiro.
Diante da negativa do comandante, obrigado a declarar que as lojas atendiam apenas os passageiros, ele chamou a Polícia Federal. Naquela ocasião o estratagema deu errado — mas não é difícil supor quantas vezes Correa deve ter passado em branco com uma carteirada desse tipo.
Correa foi investigado pelo Conselho Nacional de Justiça por causa de decisões em processos sobre disputas de terra em Búzios. A mais grave das denúncias fala num favorecimento de um advogado numa disputa de terras. Sete anos atrás, ele ordenara a prisão de uma jornalista que escreveu uma carta aberta sobre seus desmandos no litoral fluminense.
A única palavra de solidariedade a Correa partiu da ex-mulher, Alice Tamborindeguy, advogada e ex-deputada estadual pelo PSDB, irmã de Narcisa Tamborindeguy, a coisa mais próxima da caricatura de uma socialite cabeça oca que pode existir.
O período eleitoral serve para que juízes aprovem benefícios em causa própria sem ser notados. Um desses casos foi o auxílio moradia de 1 bilhão de reais. São 4,4 mil por mês para cada um deles, independentemente, claro, de o sujeito já ter casa.
Numa participação no Jornal da Cultura, o desembargador José Roberto Nalini, presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, deu uma resposta cândida sobre a premência da medida. “Hoje, aparentemente o juiz brasileiro ganha bem, mas ele tem 27% de desconto de Imposto de Renda, ele tem que pagar plano de saúde”, disse, elencando dramas comuns a virtualmente todo brasileiro.
“Ele tem que comprar terno e não dá para ir toda hora a Miami comprar terno. Cada dia da semana ele tem que usar um terno diferente, ele tem que usar uma camisa razoável, um sapato decente, ele tem que ter um carro.” O aumento é necessário para que o profissional “fique um pouquinho mais animado, não tenha tanta depressão, tanta síndrome de pânico, tanto AVC”.
Curiosamente, essa montoeira de absurdos foi dita diante do âncora e do filósofo Luiz Felipe Pondé, que não mexeram uma sobrancelha. Pondé, especialmente, sorria como se lhe declamassem um poema. Se Nalini houvesse falado em “bolivarianismo”, talvez Pondé se ajeitasse naquela cadeira.
Coube a Gilmar Mendes mencionar numa entrevista à Folha o risco do STF se transformar numa corte bolivariana. Gilmar tem medo de que a instituição passe a “cumprir e chancelar” vontades do Executivo. “Isto tem de ser avisado e denunciado”, afirmou.
Gilmar é o oposto do que se espera de um juiz — ou exatamente o que se espera, dependendo do grau de realismo do espectador. Fala sem pensar, não mede consequências, ofende quem quer etc etc.
Faz isso porque sabe que não acontece nada. O doutor Correa está correto: eles são deuses. O presidente do TJ-SP resumiu a questão naquela conversa na televisão. “No momento em que a população perceber o quanto o juiz trabalha, eles vão ver que não é a remuneração que vai fazer falta: se a justiça funcionar, vale a pena pagar bem o juiz”.
Você não poderá pegar seu dinheiro de volta porque não existe onde pegar seu dinheiro de volta.
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TERRAS ALTAS DA MANTIQUEIRA = ALAGOA - AIURUOCA - DELFIM MOREIRA - ITAMONTE - ITANHANDU - MARMELÓPOLIS - PASSA QUATRO - POUSO ALTO - SÃO SEBASTIÃO DO RIO VERDE - VIRGÍNIA.
segunda-feira, 10 de novembro de 2014
Lula e Dilma versus a revista Piauí.
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