segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Não é porque a eleição acabou que Aécio está livre de explicações sobre coisas como o aeroporto e suas rádios.

Num debate
Num debate.

O comportamento triunfal de Aécio na dupla derrota – perdeu o Brasil e Minas nas eleições – é uma aberração.
O que Aécio deveria fazer – além de dar expediente no Senado, coisa para a qual recebe um bom salário do contribuinte – é explicar tudo que ficou mal contado em sua campanha.
Primeiro, o aeroporto de Claudio. Não é porque a mídia o poupou, e as eleições passaram, que este caso está resolvido.
Não está.
Até aqui, ele não deu uma única explicação convincente. O máximo que fez, na campanha, foi chamar Luciana Genro de leviana quando ela tocou no assunto.
Outro ponto vital que exige transparência são os meios de comunicação de propriedade da família Neves em Minas.
Em si, é um absurdo um político ter rádios, o que aliás a Constituição – teoricamente – proíbe.
A proibição é driblada por políticos de baixa taxa de escrúpulos com diversas gambiarras jurídicas de legalidade amoral. Uma delas é colocar um dono de araque na papelada. Outra é você constar na documentação não como dono, mas como sócio.
Que os órgãos públicos não consigam impedir esse assalto à Constituição conta muito sobre o que Darcy Penteado definiu como o maior problema do Brasil: um pequeno grupo que trata de manter, a que preço for, mamatas e privilégios.
A questão das rádios de Aécio tem um complicador que ficou em aberto.
Quanto o governo de Minas, sob ele e depois sob seu pupilo Anastasia, colocou em publicidade nelas?
A Folha levantou esse ponto, mas – como tantas vezes ocorre com o jornal – frustrou os leitores ao não fazer o serviço completo.
A Folha simplesmente esqueceu o assunto.
Lembremos: no comando das verbas publicitárias de Minas com Aécio estava a “voluntária” Andrea Neves.
Ela que trabalha muito sem ganhar nada, como disse Aécio, ao contrário do irmão de Dilma, Igor.
Segundo afirmou Aécio num debate, Igor “ganha muito para não trabalhar nada”.
Apenas depois das eleições o Estadão se dignou a ver como vivia Igor, o alegado marajá. O jornal encontrou ali uma espécie de Mujica, um homem simples, dono de um carro velho numa cidadezinha do interior, avesso a qualquer coisa que o identifique com a irmã poderosa.
E mesmo assim, com uma infâmia dessas, Aécio ainda ousou falar em “desconstrução” como arma de campanha de Dilma – e não dele mesmo.
O debate em torno da “desconstrução”, aliás, é uma das maiores estupidezes da política nacional contemporânea.
Algum candidato “constrói” o adversário? Elogia-o, enche-o de palavras generosas?
Ora, faça-me o favor.
Marina, a coitadinha, já chegou dizendo que os adversários eram a “velha política” e ela a “nova”. O que é isso senão desconstruir?
Será uma decepção se o novo governo de Minas não trouxer à cena informações que permitam aos brasileiros conhecer melhor Aécio.
As rádios da família e o dinheiro público posto nela, por exemplo.
Há ainda um assunto particularmente complicado nos arredores de Aécio: o helicóptero com 450 quilos de pasta de cocaína de propriedade de um de seus maiores amigos, Perrela.
Ninguém é culpado pelo que os amigos fazem, é verdade. Mas a sociedade tem que pelo menos saber com clareza o que fazem os amigos diletos de candidatos à presidência.
Aécio, em suma, tem muita coisa a explicar antes de posar como um herói da República do alto de sua dupla derrota.
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Como ficarão os direitosos que seguem Lobão depois que ele abandonar o barco de vez ?

Enquanto isso, na Paulista
Enquanto isso, na Paulista.

A última passeata pelo impeachment de Dilma ficou marcada pelo quórum baixo, pela declaração ridícula de Rachel Sheherazade de que “milhões” haviam saído às ruas, pela presença em São Paulo do senador Aloysio Nunes — e, sobretudo, pela defecção de Lobão, o grande “líder” da coisa.
O cantor chegou à Avenida Paulista, ponto de encontro da passeata, e deu de cara com um caminhão de som com pessoas pedindo a intervenção militar. Ficou irritado e deu marcha à ré, indignado com o que entendeu como não cumprimento do suposto combinado.
Lobão acha que essa reivindicação, especificamente, não cabe nos protestos. Olavo de Carvalho, seu guru, considera que, para tirar o PT, vale até o PCC. O deputado eleito Eduardo Bolsonaro, que levou uma pistola à manifestação passada, desta vez disse que tinha gente armada por ele (??). O Coronel Telhada desfilou e lembrou que “lugar de bandido é na cadeia, e não governando”.
Lobão acabou se encaminhando, mais tarde, para a praça da Sé, mas sua atitude provocou um tsunami entre seu povo escolhido. O ex-artista, eventualmente, deve estar se perguntando onde se meteu.
Sua surpresa ao ver malucos pedindo o retorno dos militares não tem lógica. Não existe almoço grátis. Não faz sentido apregoar o ódio, a obsessão, o golpismo, a histeria, a paranoia e ficar surpreso quando monstros aparecem.
Ainda vai ser objeto de estudo o que leva alguns milhares de brasileiros a tê-lo como chefe de seja lá que movimento seja. “Fale o que devemos fazer e nós faremos”, escreveu-lhe uma senhora no Twitter.
Abusando da Lei de Godwin, há um paralelo com os alemães sob o nazismo. Um bom livro sobre essa relação controversa é “Apoiando Hitler: Consentimento e coerção na Alemanha nazista”, do canadense Robert Gellately. Ele reforça a tese de que os alemães, ao contrário do que crê uma corrente, era cúmplice do führer e sabia de tudo.
“Hitler prometeu ‘limpar as ruas’, e a maioria das pessoas aprovou a medida. Algumas acreditavam de fato. Outras queriam proteger seu país e lutar como nacionalistas e patriotas”, disse o autor numa entrevista. “E provavelmente a maioria lutou para manter distantes os russos e os comunistas, que eram amplamente temidos e odiados no país”.
Não faz muito tempo, o neonazi Ernst Zündel lançou alguns panfletos. Num deles, chamado “O Hitler que Amamos e Por quê”, são elencados alguns motivos para curtir o velho Adolf. Um deles: “Nós o amamos porque ele falava de tal maneira que todos pudessem entender. Ele não simplificava demais os nossos problemas. Ele os esclarecia. Ele não deu ‘garantia’ de um mundo melhor. Ele nos pediu para lutar por isso”.
“Lobão tornou-se forte, querendo ele ou não é um dos pilares do movimento, visto por muitos como grande patriota”, escreveu um sujeito nas redes sociais. O roqueiro pode inventar alguma fuga do teatro que inventou, mas a malta que resolveu transforma-lo em liderança não lhe dará sossego.
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