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Por Erick da Silva
15 de novembro, dia da Proclamação da República, foi "simbolicamente" escolhido por grupos e setores contrários a reeleição de Dilma para irem as ruas pedirem, entre outras coisas, o impeachment da presidenta e uma "intervenção militar".
A toada destas manifestações seguiu-se muito similar as que ocorreram na semana seguinte ao segundo turno, com a sensível diferença de uma radicalização ainda maior dos participantes, seja pelo apelo mais explicito por um retorno a ditadura militar ou ainda pelos tristes incidentes de violência registrados contra pessoas que "ousaram" demonstrar sua contrariedade as proposições dos manifestantes.
São Paulo foi a maior das manifestações, as fontes registram que houveram algumas milhares de pessoas presentes. A radicalização pró-golpe do protesto paulista foi tão intensa que até mesmo figuras notórias da direita acabaram "abandonando a barca", como o caso do cantor Lobão, que noTwitter, chamou a manifestação de “cilada infame” e de “palhaçada” e sugeriu aos seus seguidores “não compactuem com essa imoralidade”. O cantor ainda desmentiu o boato de que a conta tinha sido hackeada. “Meu Tuiter não foi invadido, gente!!!! Estou relatando exatamente o que está acontecendo!”
No Rio, a marcha golpista contou com a ilustre presença do insuspeito "Batman do Leblon", (não conhece a figura? Confira aqui), que retorna em sua luta em defesa da "justiça e da democracia" nas ruas de Gotham City, ops, digo Rio de Janeiro. O "Batman do Leblon" talvez seja a expressão maior de um tipo de ativismo que ganhou mais força deste os protestos de junho de 2013. Sem qualquer bandeira ou projeto político mais claro, sem objetivos de médio prazo e sem uma mínima articulação coletiva prévia, o que parece ser o objetivo principal é o caráter performático da ação. A performance, a forma, passam a ser mais importante que os resultados e o conteúdo. Assim, fica fácil tal disposição sincera por "fazer algo" ser facilmente manipulada por interesses menos "nobres".
O circo da marcha golpista repetiu-se em Porto Alegre, com uma proporção muito inferior e impactos irrelevantes. No mesmo dia, outro ato, chamado de "Bloco da Diversidade" foi as ruas em resposta defendendo mais democracia e direitos, contando uma participação significativamente maior. Seguramente o caráter propositivo deste ato pareceu mais atrativo para os porto-alegrenses.
Muito mais preocupante é a manifestação ocorrida neste domingo (16/11) pelo jornal Estado de S. Paulo, da família Mesquita, onde prega abertamente a cassação da presidenta Dilma Rousseff. O editorial “Crime de responsabilidade”, cujo título já é autoexplicativo, afirma, por exemplo que:
“Somente alguém extremamente ingênuo, coisa que Lula definitivamente não é, poderia ignorar de boa fé o que se passava sob suas barbas. Já Dilma Rousseff de tudo participou, como ministra de Minas e Energia e da Casa Civil e, depois, como presidente da República. Devem, todos os envolvidos no escândalo, pagar pelo que fizeram – ou não fizeram.”
A mensagem é clara: a família Mesquita aderiu ao golpe e irá trabalhar pela queda de uma presidente reeleita há menos de um mês.
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Recentemente, um dos herdeiros do grupo conservador, Fernão Lara Mesquita, foi às ruas com um cartaz onde se lia: “Foda-se a Venezuela”, (foto acima) Para os Mesquita, o Brasil também seria “bolivariano", o novo mantra da direita herdeira da guerra fria, que sem uma URSS para evocar em seus discursos de medo, passaram a mirar para a nossa vizinha Venezuela.
Esta postura do Estadão, acompanhada por atitudes similares - mas menos explicitas - de outros veículos de comunicação podem ser o inicio de uma perigosa escalada golpista no Brasil. O tema do escândalo de corrupção da Petrobras, dependendo dos desdobramentos que venha a tomar, pode ser utilizado para se tentar recriar uma nova "República do Galeão", como bem alerta o jornalista Paulo Moreira Leite:
"Em 1954, quando o major Rubem Vaz, da Aeronáutica, foi morto num atentado contra Carlos Lacerda, um grupo de militares da Aeronáutica abriu um IPM a margem das normas e regras do Direito, sem respeito pela própria disciplina e hierarquia. O saldo foi uma apuração cheia de falhas técnicas e duvidas, como recorda Lira Neto no volume 3 da biografia Getúlio, mas que possuía um objetivo político declarado — obter a renúncia de Vargas. Menos de 20 dias depois, o presidente da República, fundador da Petrobras, dava o tiro no peito."
O ambiente para se recriar uma trama golpista atualmente é bastante diverso daquele de 1954, mas as intenções e as aspirações destes que marcharam nas ruas e de algumas "velhas raposas" do poder oligárquico brasileiro seguem os mesmos.
Os golpistas mostraram suas armas neste feriado da Proclamação da República: querem acabar com a "democracia" para salvar a "democracia".
Os verdadeiros democratas irão assistir a isto em silêncio?
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*** *** País sofre déficit de democracia e de respeito a diversidade.![]()
Por Laurindo Leal Filho
A angústia que tomou conta dos eleitores de Dilma Rousseff ao final da tarde de domingo, 26 de outubro, poderia ter sido evitada. A margem tão estreita de votos obtida pela presidenta diante de um candidato fraco, dono de um currículo de realizações paupérrimo e com propostas voltadas para o retrocesso, só foi possível graças ao trabalho intenso desenvolvido pelos meios comunicação. Sem essa interferência, a disputa poderia ter sido decidida no primeiro turno. A escalada intensificou- -se às vésperas do segundo, e ganhou ares de guerra nos três dias que antecederam a eleição final, chegando ao ápice entre a noite de sábado e o domingo, depois da divulgação das últimas pesquisas. Assim se explica o estreitamento da margem de votos entre os dois candidatos verificado nas urnas em relação ao que anunciavam os institutos de pesquisa. Os quatro ou seis pontos previstos foram reduzidos ao final para 3,2.
Dois fatos alardeados pela mídia no sábado à noite e durante todo o domingo contribuíram para essa alteração. Uma manifestação diante do prédio da Editora Abril foi o álibi usado pelo Jornal Nacional para ampliar a denúncia de corrupção feita no dia anterior pela revista Veja, sem qualquer respaldo nos fatos. No domingo, ainda com um grande número de eleitores indecisos, rádios, TVs e internet não se cansavam de especular a respeito do doleiro delator que teria sido “envenenado” pelo PT. Chegava-se ao auge da irresponsabilidade.
Nada disso é novo na história do Brasil, variando apenas o seu grau de intensidade. Assumido como partido de oposição, o conjunto dos meios de comunicação nunca poupou os governos populares de duros e constantes ataques, ao longo de todos os mandatos. Com a aproximação dos períodos eleitorais a prática se intensifica e a verdade, quase sempre, é deixada de lado. Em 2014, no entanto, a mídia se superou. A campanha foi crescendo ao longo do ano, tendo como tema a corrupção, sempre apresentada de forma seletiva e dirigida a desgastar apenas o nível federal de governo, e apenas um partido.
Em qualquer democracia, propostas e mensagens partidárias chegam à população pelos meios de comunicação. Aqui dá-se o contrário: é a mídia que oferece à oposição os seus motes de campanha. Dão o tema e os partidos correm atrás. Exemplo maior foi o candidato do PSDB responder a uma pergunta sobre a corrupção, no último debate televisivo, dizendo que o problema se resolveria tirando o PT do poder. Um dos principais déficits de democracia existente hoje no Brasil é de diversidade de opiniões e visões de mundo circulando pelos meios de comunicação. Sem superá-lo não chegaremos à democracia plena e seguiremos sujeitos a eleições em que a mídia interfere abertamente na decisão do eleitor.
Em 2007, o documento final do 3º Congresso Nacional do PT propunha “a imediata revisão dos mecanismos de outorga de canais de rádio e TV, concessões públicas que vêm sendo historicamente tratadas como propriedade absoluta por parte das emissoras de radiodifusão. Essa atualização passa pelo cumprimento da lei, haja vista a flagrante ilegalidade em diversas emissoras, por maior transparência e agilidade nos processos e pela criação de critérios e mecanismos para que a população possa avaliar e debater não somente a concessão, mas também a renovação de outorgas. (…) O PT deve se juntar à luta da sociedade organizada para concretizar os preceitos da Constituição de 1988 que estabelecem a proibição do monopólio na mídia e definem como finalidade do conteúdo veicular a educação, a cultura e a arte nacionais”.
A resposta dada pela presidenta Dilma Rousseff às inverdades publicadas pela revista Veja foi um alento. Alimenta a esperança de que, em seu segundo mandato, a Lei de Meios seja posta em discussão com a sociedade e que o governo venha a se empenhar para transformá-la em realidade.
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TERRAS ALTAS DA MANTIQUEIRA = ALAGOA - AIURUOCA - DELFIM MOREIRA - ITAMONTE - ITANHANDU - MARMELÓPOLIS - PASSA QUATRO - POUSO ALTO - SÃO SEBASTIÃO DO RIO VERDE - VIRGÍNIA.
segunda-feira, 17 de novembro de 2014
Do Batman do Leblon ao Estadão: golpistas mostram as suas armas.
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