terça-feira, 18 de novembro de 2014

NO MEU POEMA, PARA GOLPISTAS, NÃO HÁ VAGAS!

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Foto: Manifestação Popular por Reforma Política em São Paulo na semana passada.

Autor: Sandro Ari Andrade de Miranda.

Seria interessante investigar o que acontece com os intelectuais que ingressam na Academia Brasileira de Letras – ABL. É bem verdade que os critérios de escolha de muitos dos atuais ocupantes da Academia caçoam o ideal de Machado de Assis, como a presença de Merval Pereira, um jornalista comum, sem nenhuma contribuição significativa para a literatura, e que de relevante apenas possui uma coluna reacionária no Jornal o Globo. No mesmo caminho o podemos colocar Marco Maciel, um político sempre vinculado às antigas oligarquias e ao regime militar.
Mas se de Merval e de Marco Maciel já se sabe o que (não) esperar, existem outras pessoas que poderiam contribuir de alguma forma para um fortalecimento da cultura brasileira, como o próprio Fernando Henrique Cardoso. Não falo do político FHC, que levou o país à bancarrota, mas do intelectual Fernando Henrique, da sua teoria da dependência e da denúncia ao escravismo na região meridional do país.
Pois as últimas falas do príncipe dos sociólogos envergonham a sua trajetória como intelectual e como político, inclusive a obtusa entrevista à Folha de São Paulo quando reforçou preconceitos das classes médias paulistas contra nordestinos, pobres, beneficiários do programa bolsa família, e outros grupos sociais vítimas históricas da xenofobia e do ódio de classe.
Mas seguindo a trajetória descendente da ABL, Ferreira Gullar, o mesmo poeta que afirmava não caber o preço do feijão no verso do poema, ex-militante do Partido Comunista, que viveu exilado na União Soviética, na Argentina e no Chile durante a ditadura militar, publicou uma coluna na Folha de São Paulo que deixaria qualquer teórico da “ditadura comissária” em estase.
Numa matéria, que entristece todos aqueles que um dia se dedicaram a ler a sua obra com alguma ênfase, o poeta maranhense afirma, referindo-se às manifestações de junho de 2013:

“Um ano se passou, e chegaram as eleições. A campanha eleitoral contribuiu para que aquele descontentamento se definisse e ganhasse rumo: tirar o lulapetismo do poder já seria um passo adiante no rumo das mudanças que se fazem necessárias. Nessa conjuntura, o papel desempenhado por Aécio Neves, como candidato da oposição ao governo petista, fez dele o intérprete desse descontentamento e, possivelmente, o líder da luta pela mudança.
Claro que a mudança que se faz necessária tem que contar com o apoio não apenas da opinião pública – que é decisiva – mas de forças políticas consideráveis, que ainda estão ligadas ao governo. De qualquer modo, não se trata de buscar soluções antidemocráticas mas, sim, ao que tudo indica, mudar para preservar a democracia.”

Não sei o que é pior do texto de Ferreira Gullar, se a interpretação equívoca dos movimentos de 2013, ou a pregação descarada do Golpismo Parlamentar. O mesmo poeta que declarava a atitude subversiva da poesia, agora resolve se aliar à ordem conservadora.
Na prática Gullar defende um golpe brando, por via parlamentar, pelo uso institucional do ressentimento dos grupos derrotados no processo eleitoral de 2014. Uma prova dessa prática, com todo respeito ao nobre poeta, golpista e antidemocrática, foi o ataque à Política Nacional de Participação Social perpetrada no mês passado na Câmara, por meio de um Decreto Legislativo inconstitucional.
Seguem no mesmo caminho do Decreto Legislativo, a manifestação clara de setores do Parlamento contra qualquer tentativa de Reforma Política por meio de consulta pública, ou ainda a pregação de Gilmar Mendes pela reativação da “emenda da bengala”, que estende, sem nenhuma justificativa moral, o mandato dos Ministros do Supremo Tribunal Federal.
Tais movimentos demonstram a urgência de reação popular contra a tentativa de golpe ao estilo paraguaio no Brasil, quando um grupo de parlamentares das classes dominantes resolveu derrubar um Presidente, democraticamente eleito, não por condutas ilegais ou imorais, mas sim porque o governante adotou medidas inclusivas em favor dos grupos mais pobres do país.
A afirmação de Dilma Rousseff no G20, de que não existe mais espaço no Brasil para impunidade, “doa a quem doer”, é uma resposta bastante direta às principais forças do Golpismo. Só que esta não é uma luta apenas de Dilma, mas de toda a sociedade brasileira, razão pela qual a direção do Partido dos Trabalhadores deve abandonar a sua posição tímida e começar a mobilizar a sociedade para a defesa da Democracia.
Como já afirmei anteriormente, o PT, como partido, é o principal responsável pelas transformações sociais brasileiras nos últimos 12 anos, bem como pela consolidação da nossa jovem Democracia. Deve, portanto, assumir o seu papel de liderar as Reformas que o Brasil realmente precisa (Política, Tributária e de Mídia), seja no Parlamento, seja na rua, com mobilização popular.

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