Odiojornalista.
Está confirmado: o governo de Dilma não vai mais anunciar na Veja.
Paulo Henrique Amorim deu primeiro essa informação.
É uma decisão ao mesmo tempo tardia e acertada.
É absurdo você colocar dinheiro público – e quanto, e há quanto tempo – numa publicação nociva à sociedade.
A melhor definição para o que a Veja faz veio de uma acadêmica da UFRJ, Ivana Bentes: “odiojornalismo”.
O ódio que a revista semeia com tanta obsessão se refletiu, recentemente, em coisas como as manifestações criminosas, nas redes sociais, contra os nordestinos.
Diogo Mainardi,o primeiro “odioarticulista” da Veja, há poucos dias chamou os nordestinos de “bovinos” num programa de televisão que vai se tornando igual à revista, o Manhattan Connection.
O blogueiro da Veja Augusto Nunes, o gênio cosmopolita de Taquaritinga, acha que está sendo engraçado ao tratar Lula como o “presidente retirante” e Evo Morales como “índio de topete”.
Em 2006, ainda militando na mídia impressa, escrevi um texto que dizia que Mainardi “mainardizara” a Veja. Sua má fé, sua falta de princípios jornalísticos – tudo isso saiu de sua coluna e se espalhou pela revista, notei então.
Agora, passados alguns anos, é possível dizer que a Veja “mainardizou” toda a grande mídia. Mainardis e derivados infestam jornais, revistas, rádios, tevê.
O “odiojornalismo” não pode, naturalmente, ser patrocinado pelo dinheiro público.
O anunciante privado que quiser prestigiar este tipo de pseudojornalismo tem inteira liberdade para fazer isso.
Mas o dinheiro público não pode ser torrado numa coisa tão predadora.
É patética a dependência do “odiojornalismo” do Estado. Patética porque essa dependência é a negação do espírito capitalista, tão defendido pelas grandes empresas de jornalismo.
Empresas genuinamente capitalistas não se alimentam do Estado. Isto é um fato.
Se houver mercado para o “odiojornalismo” – mercado, não dinheiro público – que ele financie “jornalistas” como Reinaldo Azevedo, Arnaldo Jabor, Rodrigo Constantino, Pondé, Merval, Noblat etc.
O dinheiro público é sagrado. Deve ser usado para construir escolas, hospitais, portos e todas aquelas coisas que compõem uma sociedade digna.
Anunciantes e investidores privados podem e devem patrocinar o “odiojornalismo”, se entenderem que isso é bom para o país.
É um direito deles. Assim como será um direito dos consumidores eventualmente retaliar, se considerarem que certas marcas estão bancando causas ruins.
Mas esta é outra história.
Parar de queimar dinheiro público na Veja foi um passo importante – ainda que, repito, tardio, dado o comportamento criminoso da revista.
Mas é preciso mais.
O “odiojornalismo” não se limita à Veja. Onde ele estiver, os recursos dos contribuintes não podem estar.
Silvio Santos tratou de manter calada Sheherazade, outra “odiojornalista” bancada por tanto tempo pelo dinheiro público.
Ele sabe que quebra se o governo cortar a verba do SBT – 150 milhões de reais por ano.
Caso decida dar voz novamente a ela, Silvio Santos que vá procurar outros anunciantes que compensem um eventual corte da publicidade do governo.
Seja capitalista, em suma, se puder e se souber.
É disto que o Brasil precisa: um choque de capitalismo na mídia.
É hora de passar a um estágio superior de mídia no capitalismo nacional — sem a “Estadodependência” de empresas tão dedicadas ao “odiojornalismo”.
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*** *** Como a polícia brasileira mata tanto num país em tempo de paz ?
O Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulga nesta terça-feira um relatório atestando que policiais brasileiros mataram pelo menos 11.197 pessoas nos últimos cinco anos. Como comparação, a polícia norte-americana precisa de 30 anos para abater o mesmo contingente.
O dado “pelo menos 11.197” traz essa imprecisão devido a maioria dos estados brasileiros não ter um controle das mortes praticadas por policiais em serviço (em serviço, nem vamos considerar as mortes no mercado paralelo). Apenas 11 dos 27 estados apresentaram levantamentos aos pesquisadores do fórum. “A maioria das polícias do país não tem a prática de fazer acompanhamento na letalidade policial. Há uma subnotificação. Sabemos que é bem maior do está registrado”, disse a diretora-executiva Samira Bueno.
Como se chega a números estarrecedores como esse num país em tempos de paz?
Há uma guerra não declarada contra a pobreza, travestida de guerra contra a criminalidade. Os números apontam claramente para um alvo da periferia, masculino, negro e jovem. Estudo sobre Violência e Administração de Conflitos da UFSCar já divulgado aqui, aponta que 61% das vítimas da polícia são negras, 97% são homens e 77% têm de 15 a 29 anos. Dados referentes a São Paulo que certamente não se alteram muito nos demais estados.
A despeito de todo o debate sobre o treinamento que as polícias recebem, é evidente que chegou-se a um patamar de violência envolvendo policiais que torna urgente discutir e implementar mudanças severas na disposição da sociedade. A questão é tal forma complexa que passa inclusive pelo problema de moradia. A maioria das mortes ocorre na periferia, longe dos olhos e das lentes das câmeras. Uma melhor ocupação e distribuição das moradias em áreas mais centrais colaboraria para atenuar o problema. Ou alguém duvida que um PM não se sinta intimidado numa situação onde centenas de pessoas estão testemunhando, ou que ele possa atingir sem querer um bacana?
Vide as diferenças de repercussão quando uma reintegração de posse ocorre com truculência numa área central e quando ocorre na periferia. Vide a repercussão de agressões ocorridas por PMs em manifestações em locais como a avenida Paulista em comparação aos tiros disparados na periferia. E lá as balas não são de borracha. Logo nos primeiros minutos do filme “Colors”, clássico dos anos 80 sobre a violência entre gangues em Los Angeles, um ainda jovem policial Sean Penn aborda uma possível testemunha de um assassinato que se nega a dizer o que viu. Seu parceiro, Robert Duvall, decreta “vamos embora, deixe ela em paz, ela precisa viver aqui”. Quando se atinge esse grau de descontrole, cria-se um círculo vicioso e uma lacuna de poder a ser preenchida. Essa segregação geográfica tem sido mortal.
Um outro aspecto determinante nessa guerra cuja política necessita de um debate mais atualizado e franco é o da criminalização das drogas. Carl Hart, neurocientista escreve em seu livro “Um preço Muito Alto” que “a histeria emocional decorrente da péssima informação a respeito das drogas encobre os verdadeiros problemas enfrentados pelas pessoas marginalizadas, o que também contribui para graves equívocos na utilização de recursos públicos já bastante limitados”.
Seu livro, indispensável, demonstra como o estigma criado na sociedade arrebenta no lado mais fraco da corda, com estudos que contestam desde o grau de criação de dependência até os efeitos de uma detenção em idade precoce.
Essa batalha não pode mais ser travada dessa maneira, ela é obviamente favorável apenas à industria armamentista. Não tem nenhuma preocupação com a saúde (apenas para ilustrar, utilizo mais um dado do livro de Hart que aponta um aumento de 3.500% nos gastos de combate às drogas entre 1970 e 2011 nos EUA e isso em nada alterou o consumo de maconha, cocaína e heroína). Apenas cria situações que entram para as estatísticas como crimes relacionados ao tráfico e consumo de drogas. Seria como creditar toda a violência ocorrida dirante os anos da lei seca nos EUA ao alcoolismo.
Os casos como do pedreiro Amarildo ou do menino Douglas Rodrigues que tornou célebre a frase “por que o senhor atirou em mim?” são emblemáticos de um quadro que não pode ser ignorado como vêm sendo. O tema enseja uma centena de dúvidas e exaltará os ânimos entre alas conservadoras e progressistas. Mas única certeza é a de que, como está, não pode continuar.
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*** *** Com 20 anos do PSDB em São Paulo e vários alarmes, faz sentido Alckmin pedir água ao governo federal.
Alckmin é a exceção que confirma a regra de que você pode enganar algumas pessoas por algum tempo, mas não todo o mundo o tempo todo.
O governador de São Paulo pediu 3,5 bilhões de reais a Dilma Rousseff para combater a crise hídrica. O nível dos seis mananciais que abastecem a região metropolitana apresentou nova queda na segunda-feira.
O problema mais grave diz respeito ao Sistema Cantareira, que opera atualmente com 11,3% da capacidade, percentual que inclui as duas cotas do famigerado volume morto.
São oito obras. O próprio Geraldo afirma que não se trata de solução imediata, já que algumas levariam nove meses para ficar prontas e outras até 60. Um grupo de trabalho foi montado com gente do governo estadual e do governo federal.
Alckmin abusa de uma espécie de bloqueio retórico-mental. Sua negação de uma série de fatos, porém, funciona como afirmação. Primeiro, insiste que não há racionamento. Depois, ao responder se a eleição atrasou uma tomada de atitude, falou que “o palanque acabou. Vamos trabalhar juntos para o benefício da população”.
Ou seja, enquanto o palanque estava montado, o interesse da população foi posto de lado. Por quê? Porque é assim que funciona.
É assombroso que em mais de duas décadas de continuidade do PSDB — alternância de poder, alguém? – no estado a questão da água tenha chegado a esse nível dramático. Esse é o choque de gestão?
O alarme soou para o Cantareira em 2004, quando ele era governador. Num documento de concessão de outorga à Sabesp, estipulava-se a necessidade de “estudos e projetos que viabilizem a redução da dependência do sistema”.
Em 2008, o Plano Diretor de Recursos Hídricos para a Macrometrópole Paulista apontava que o atual sistema de abastecimento das 180 cidades deixaria pelo menos 79, entre elas São Paulo, Campinas, Piracicaba e Santos, com falta de água se houvesse “cenário equivalente ao da pior seca da história, entre 1951 e 1956″.
O estudo registrava que a região “não dispõe de dispositivos hidráulicos capazes de garantir o suprimento quando da ocorrência de eventos críticos de escassez.” O relatório apontava que teriam de ser investidos de 4 bilhões a 10 bilhões em novos reservatórios, captações e sistemas de transferência.
O que Geraldo entregou em 2004? Duas promessas: o fim das enchentes na Marginal Tietê e, veja que maravilha, a possibilidade de navegar no rio defunto. O aprofundamento da calha, no valor de 688 milhões de reais, seria acompanhado da construção de jardins floridos. “Teremos um Tietê muito mais saudável”, disse ele.
Dez anos depois, enchentes continuam parando o trânsito na marginal, aquele esgoto continua obsceno, a situação do Cantareira piorou, Alckmin passou o chapéu em Brasília e os paulistanos não ficarão sequer a ver navios porque não haverá água para tanto.
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TERRAS ALTAS DA MANTIQUEIRA = ALAGOA - AIURUOCA - DELFIM MOREIRA - ITAMONTE - ITANHANDU - MARMELÓPOLIS - PASSA QUATRO - POUSO ALTO - SÃO SEBASTIÃO DO RIO VERDE - VIRGÍNIA.
terça-feira, 11 de novembro de 2014
O “odiojornalismo” não pode ser patrocinado pelo dinheiro .
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