Lula aplaude a iniciativa de retomada das relações diplomáticas entre Cuba e EUA.
Em um vídeo divulgado nas redes sociais, neste sábado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva elogiou a decisão conjunta de Cuba e EUA de retornar à mesa de negociações, na tentativa de colocar fim ao bloqueio comercial e político que os norte-americanos impõem à nação cubana, há mais de meio século.
Lula, na mensagem, afirma que o fato é relevante também para “aquelas pessoas que têm complexo de vira-lata”, que dizem que “o Brasil não pode financiar Cuba, não pode financiar Venezuela. As pessoas têm que entender que o Brasil não ‘tá’ dando dinheiro, as pessoas têm que entender que o Brasil está exportando tecnologia, engenharia, coisas fabricadas aqui no Brasil”, ressalta.
Ainda neste sábado, o presidente cubano, Raúl Castro, afirmou que “o povo cubano agradece a justa decisão” do Presidente norte-americano, Barack Obama, de reatar as relações diplomáticas entre os dois países. No entanto, “falta resolver o essencial”, recordou Castro, referindo-se ao embargo económico imposto pelos EUA à ilha.
Três dias depois do anúncio do restabelecimento das relações bilaterais entre os Estados Unidos e Cuba, Raúl Castro discursou perante a Assembleia Nacional, em Havana, para fazer um balanço do ano prestes a terminar. Entre os feitos da economia interna – que o governo prevê crescer 4% no próximo ano – Castro quis aclarar algumas questões relativamente à reaproximação entre Cuba e os EUA.
O líder cubano reconheceu a “justa decisão” de Obama que permite retirar “um obstáculo às relações” entre os dois países. Fazendo eco do que o presidente norte-americano já havia dito, Castro afirmou que “se pode abrir uma nova etapa entre os EUA e Cuba”.
Porém, o irmão de Fidel lembrou que “falta resolver o essencial, que é o fim do bloqueio econômico, comercial e financeiro contra Cuba” e aproveitou para lançar um apelo direto:
– Esta será uma luta grande e difícil, que irá requerer a mobilização internacional e da sociedade norte-americana para que continue a reclamar o levantamento do bloqueio.
Assista ao vídeo em que Lula aplaude a iniciativa de Castro e Obama:
Sobre o reatamento das relações EUA–Cuba.
Nessa luta, Raúl Castro apontou os primeiros obstáculos que já surgem, referindo as “violentas críticas” recebidas por Obama “por parte de forças como legisladores de origem cubana e líderes de grupúsculos contra-revolucionários”. Castro refere-se às reações dos senadores republicanos Ted Cruz e Marco Rubio, ambos descendentes de cubanos que fugiram ao regime castrista.
Numa entrevista à Fox News, logo após o anúncio de Obama, Rubio, senador pela Florida, acusou o presidente de fazer “carinho em ditadores e tiranos”. Já Ted Cruz afirmou que a reaproximação apenas irá “agravar” a falta de liberdade na ilha. No seu discurso, Castro garantiu que os críticos “farão todo o possível para sabotar o processo”.
– De nossa parte, primará uma conduta prudente, moderada e reflexiva, mas firme – afirmou Raúl.
Poucos dias após o anúncio da reaproximação, Obama disse que “Cuba irá mudar”, mas reconheceu que “essa mudança não será feita da noite para o dia”. Neste sábado, Raúl também falou em mudanças, mas para garantir que vão ocorrer “sem renunciar a um só” dos princípios vigentes.
– Não se deve pedir que Cuba renuncie às ideias pelas quais lutou mais de meio século – declarou o presidente cubano.
Castro pediu “respeito mútuo” para que os dois países possam avançar para uma reaproximação efectiva e manifestou disponibilidade em dialogar com os EUA “sobre qualquer assunto”.
A remoção de Cuba da lista de países que apoiam o terrorismo internacional elencada pelo Departamento de Estado norte-americano também foi saudada por Raúl Castro, que considerava a inclusão “injustificável”.
– Cuba jamais organizou, financiou ou executou qualquer ato terrorista contra pessoas ou território dos EUA, nem o permitirá – garantiu.
Em nível diplomático, Raúl Castro fez questão de assegurar os seus aliados de que Havana pretende prosseguir uma política externa condizente, “numa base de fidelidade inamovível” aos princípios que a têm guiado. A mensagem destinou-se diretamente à Venezuela – país que se tornou no principal parceiro económico e diplomático de Cuba – com quem o presidente cubano garantiu a política de oposição às “tentativas de interferir” com o governo de Nicolás Maduro.
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http://correiodobrasil.com.br/…/lula-quem-nao-tem-…/744702/…
*** *** *** Cuba vence queda de braço com EUA.
Che Guevara, Raúl e Fidel Castro, na comemoração pela vitória da Revolução Cubana, em 1959.
A decisão do presidente norte-americano, Barack Obama, de reatar relações diplomáticas com o Estado cubano e amenizar sanções econômicas, somente tem paralelo histórico com a Guerra do Vietnã.
Os Estados Unidos acreditaram, entre 1960 e 1975, que seu poderio militar e financeiro seria suficiente para subjugar os soldados de Ho Chi Minh e Giap. Mas as derrotas no campo de batalha, a mobilização pela paz dentro de suas próprias fronteiras e o desgaste internacional levaram o governo Nixon à capitulação.
A mesma soberba imperialista determinou o comportamento da Casa Branca frente à revolução cubana. Sucessivos presidentes, desde o triunfo liderado por Fidel Castro, acreditaram que seria possível estrangular o novo regime através da sabotagem, da intervenção armada e do bloqueio.
Há décadas era visível que esta estratégia, mais uma vez, estava fadada à derrota. Mas o peso da comunidade cubano-americana, associado às heranças ideológicas da Guerra Fria e à cultura hegemonista do capitalismo norte-americano, impedia o reconhecimento do fracasso.
Obama entrará para a história, com ajuda do papa Francisco, por ter tido a coragem de assinar rendição inevitável. Uma frase sua serve de síntese ao episódio: “estes cinquenta anos mostraram que o isolamento não funcionou, é tempo de outra atitude.”
Giro de Obama.
Praticamente na metade de seu segundo mandato, sem preocupações eleitorais, o primeiro negro a ocupar o Salão Oval parece estar empenhado em reconstruir sua imagem junto aos setores progressistas que o apoiaram e se sentiam traídos por uma administração capturada pelo establishment.
O decreto que legaliza cinco milhões de imigrantes ilegais foi o primeiro passo relevante desta jornada de resgate biográfico. A declaração de reatamento das relações diplomáticas com Cuba, o segundo.
Lembremos que o bloqueio não está anulado, pois depende da decisão de um Congresso controlado pelos republicanos. Ser á batalha complicada e provavelmente prolongada. Obama optou, de toda forma, por ir ao limite de sua jurisdição política, como no caso dos imigrantes, peitando correlação desfavorável de forças no Parlamento.
Mesmo que o embargo ainda seja situação pendente, continuando a sufocar o funcionamento da economia cubana, é fato que o presidente norte-americano deu passo fundamental para enterrar a velha política de seu país acerca da ilha caribenha.
Os paradigmas imperialistas, registre-se, não foram alterados.
Basta ver a pressão que os Estados Unidos continuam a exercer, através do surrado cardápio de punições e sabotagens, contra governos que colidem com seus interesses, a exemplo da Venezuela.
No caso de Cuba, porém, a realidade se impôs.
Análises equivocadas.
Não falta, é claro, quem prenuncie o colapso da revolução e seu sistema político-econômico em função do cenário de distensão: o socialismo cubano sucumbiria ao contato com recursos financeiros, valores e oportunidades oferecidos, a partir de agora, pelos Estados Unidos.
Repetem aposta feita no passado.
Diziam que Cuba não resistiria ao bloqueio e seus cidadãos, depois de alguns meses sob penúria e escassez, derrubariam Fidel Castro.
Quando o cavalo do embargo despontava como páreo perdido, veio o colapso da União Soviética. O regime liderado pelo Partido Comunista seria varrido logo mais, como ocorrera em outros países socialistas.
Outro erro dos clarividentes opositores, que deveriam ter aprendido a ser mais modestos em suas eloquentes previsões.
A revolução cubana, ainda que em meio a gigantescas dificuldades e graves erros, logrou sobreviver, construir alternativas e desenvolver notável capacidade de auto-reforma.
Aos poucos, com a vitória de partidos progressistas em diversas nações latino-americanas, o isolamento continental se reverteu e Cuba retornou a seu espaço natural, oxigenando a economia e a sociedade.
Os investimentos brasileiros e venezuelanos, entre recursos de diversas origens, são reveladores da capacidade cubana de erguer pontes e sair do casulo pós-soviético.
Talvez o porto de Mariel, financiado pelo BNDES, seja o empreendimento mais representativo e promissor desta etapa de reinserção. Poderá se constituir, com certa rapidez, na conexão do país e seus parceiros com o mercado mundial, além de pólo para a reindustrialização local e a consolidação de coalizão com a Am érica do Sul.
A despeito das sanções e arreganhos norte-americanos, a lenta recuperação cubana vem se afirmando através da integração regional, de forma autônoma e consistente.
Quem passou a ser assolado pela praga da solidão, a bem da verdade, foi o velho inimigo.
Os Estados Unidos, que no passado haviam colocado o subcontinente contra Fidel, passaram a conhecer forte tensão ao sul, abalando sua influência e alianças.
Uma das razões era exatamente a orientação discriminatória contra Cuba.
A gota d’água para a falência da geopolítica isolacionista materializou-se no impasse durante a preparação da Cúpula das Américas, prevista para julho de 2015, à qual os cubanos estavam convidados pelos Estados meridionais ao Rio Grande e vetados apenas pela Casa Branca.
Futuro.
Os obstáculos no novo ciclo, é certo, serão imensos.
A ampliação dos fluxos comerciais e financeiros, além da disputa política e cultural, poderá afetar a estrutura do país mais igualitário da região, fundada sobre a universalização de direitos sociais.
Tradicionais adversários da revolução não pouparão esforços para minar a credibilidade e o funcionamento do sistema cubano, tentando impor mudanças que alterem profundamente a organização política e econômica.
Também buscarão se aproveitar da troca geracional, com o grupo dirigente de Sierra Maestra escrevendo o epílogo de sua jornada.
A direção castrista, vencido o bloqueio, paulatinamente terá que substituir o anti-imperialismo, como narrativa dominante, pelo convencimento prático e cultural, principalmente junto às gerações mais jovens, acerca da superioridade de seu sistema em comparação ao capitalismo.
A tarefa será complexa: não se trata apenas de provar que o socialismo à cubana tem maior capacidade de preservar inegáveis conquistas sociais, mas também sua permeabilidade a ajustes que permitam impulsionar um longo ciclo de desenvolvimento econômico e o aprofundamento da participação popular na política.
Apesar destes fantásticos desafios, os últimos acontecimentos, com Golias se curvando à resistência de Davi, deveriam servir de alerta para os oráculos do apocalipse cubano.
Há povos e dirigentes, em determinadas etapas da história, que não se curvam nem sequer diante dos mais duros sacrifícios para defender sonhos e projetos. Mesclam, ademais, vocação de resistir com inventividade para encontrar soluções adequadas.
A chegada dos últimos cubanos que estavam presos nos Estados Unidos desde 1998, julgados por espionagem, é recado humano e simbólico desta vontade nacional que a revolução, goste-se ou não de seus resultados, foi capaz de construir.
Não havia festa e alegria nas ruas pelos 53 prisioneiros que Raul Castro ordenara libertar, fruto da negociação com Obama, considerados de “interesse dos Estados Unidos”.
O júbilo era pelos compatriotas cujo retorno representa célebre vitória sobre o gigante que, há mais de cinqüenta anos, ameaça a autodeterminação de Cuba.
Breno Altman é jornalista, diretor de Redação do site Opera Mundi.
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segunda-feira, 22 de dezembro de 2014
Lula: Quem não tem ‘complexo de vira-lata’ apoia investimentos em Cuba.
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