O Supremo Tribunal Federal (STF) acolheu pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot e decidiu abrir inquérito contra o presidente nacional do DEM, senador José Agripino (RN).
O parlamentar potiguar é acusado de receber R$ 1 milhão em propina, em 2010, para favorecer um esquema de corrupção no serviço de inspeção veicular em seu Estado, conforme denúncia feita em delação premiada pelo empresário George Olímpio, do Rio Grande do Norte. Agripino participou em Brasília do protesto do dia 15 pp. contra a corrupção e o governo Dilma.
O esquema do qual ele é acusado de favorecer é investigado pela Operação Sinal Fechado desde 2011, mas o caso só chegou agora ao STF. A ministra relatora, Carmem Lúcia decidiu mandar abrir inquérito. Segundo o autor da ação inicial, o Ministério Público do Rio Grande do Norte (MP-RN), Olímpio montou um esquema que envolvia as principais autoridades locais para aprovar uma lei que criava o sistema de inspeção veicular no Estado.
Mas, segundo a denúncia, a lei foi votada sem obedecer aos trâmites legais. Aos promotores, o empresário George Olímpio denunciou que faziam parte do esquema, também, a ex-governadora e atual vice-prefeita de Natal, Wilma de Faria (PSB); o filho dela, Lauro Maia; o presidente da Assembleia Legislativa, Ezequiel Ferreira (PMDB); e o ex-governador Iberê Ferreira (PSB). Todos negam envolvimento no caso. Iberê morreu de câncer em setembro pp.
Acusado defende-se afirmando que apuração já foi arquivada uma vez
No depoimento em delação premiada o empresário detalhou que o acerto com Agripino foi feito em Natal, na cobertura residência do senador. “A informação que temos é que você deu R$ 5 milhões para a campanha do Iberê”, teria dito Agripino, na época candidato à reeleição. Olímpio disse ter respondido que doou R$ 1 milhão e prometeu entregar R$ 200 mil imediatamente ao senador do DEM e outros R$ 100 mil na semana seguinte. “Aí ficam faltando R$ 700 mil”, teria retrucado Agripino. O empresário interpretou o comentário como “chantagem”. “O R$ 1,15 milhão foi dado em troca de manter a inspeção”, alegou Olímpio.
Ontem o senador Agripino disse desconhecer a abertura de inquérito no Supremo para invesrtigá-lo. “Não fui comunicado de nada e o que eu posso lhe dizer é que se trata de um reposicionamento por parte de alguém que foi a cartório declarar o contrário do que se supõe estar declarando agora. Trata-se de um processo que já foi apreciado na Procuradoria-Geral da República e arquivado. Eu não tenho informação sobre as razões que estariam levando à reabertura desse assunto”, afirmou.
Quando foi divulgado (pelo Fantástico, da rede Globo, no início do ano) o vídeo da delação premiada, o presidente do DEM confirmou ter recebido Olímpio tanto em sua cobertura em Natal quanto em seu apartamento em Brasília porque o empresário é “parente de amigos” de seu pai. Agripino nega ter cobrado ou recebido propinas do empresário. “Ele não me deu R$ 1 milhão coisíssima nenhuma. Eu nunca pedi nenhum dinheiro, nenhum valor, conforme ele próprio declarou em cartório”, disse Agripino depois da exibição do vídeo. “É uma infâmia.”
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*** *** JORNALISTAS MOSTRAM O QUE HÁ POR TRÁS DE MANCHETES ACUSATÓRIAS A JOSÉ DIRCEU.
Por serem auto-explicativos, este blog publica, sem mais comentários ou análises, textos dos jornalistas Luís Weiss e Luciano Martins Costa veiculados no portal Observatório da Imprensa. O texto do Weiss é sobre a chamada comumente “forçada de barra” da Folha de S.Paulo, com sua manchete principal da 1ª página no último domingo afirmando delatores na Operação Lava Jato haviam afirmado que pagamentos feitos à consultoria do ex-ministro José Dirceu (por serviços prestados pela empresa)”eram propina”.
O jornal reconheceu ontem, em sua seção Erramos que “diferentemente do informado no título da manchete (da edição do domingo) “Dirceu recebia parte de propina paga ao PT, afirmam delatores” e da reportagem “Pagamentos a Dirceu eram propina, dizem empreiteiras”, apenas o presidente da UTC, Ricardo Pessoa, disse isso em suas conversas com investigadores da Operação Lava Jato”.era parte de dinheiro desviado pelo PT.
Quer dizer, generalizou e ampliou atribuindo a vários uma acusação que teria sido feita por uma única pessoa. Mas ao contrário da acusação, que foi a principal manchete do jornal do domingo, o desmentido e reconhecimento do erro ocupava apenas um diminuto espaço escondido no jornal.
O texto do Luciano Martins Costa é sobre como muitas vezes o jornalismo é feito de forma irresponsável no Brasil. E sobre a blindagem que a Rede Globo estabeleceu para proteger o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para não mencioná-lo no noticiário sobre a Operação Lava Jato. O texto de Luciano não menciona a forçada de barra da Folha, mas sua leitura leva a entender melhor o comportamento do jornal no caso dessa manchete acusatória contra Dirceu no domingo. Vejam, abaixo, os textos de Luciano e de Luís Weiss:
O falso plural dos jornais
Por Luiz Weis em 25/03/2015 / Reproduzido da página do autor no Facebook, 24/3/2015
A edição de terça-feira (24/3) da Folha de S.Paulo reconhece que errou a dar em manchete que “delatores” disseram a investigadores da Lava Jato que José Dirceu recebia parte da propina paga ao PT.Foi um só, o empreiteiro Ricardo Pessoa, presidente da UTC, se corrige o jornal (ver aqui).
Mas o noticiário político – e não só na Folha – vive coalhado de plurais que o leitor não tem como saber se de fato o são. Dia sim, o outro também, os jornais dão que anônimas “fontes do Planalto” confidenciam (ou informam, revelam, admitem, relatam ou o que se queira) que a presidente ficou irritada (ou contrariada, surpresa, preocupada, alegre ou o que se queira) com algo.
Pode-se apostar que muitas vezes a fonte é uma só – ainda que não seja necessariamente a mesma.O plural indevido, nessa imprensa sem goleiros para não deixar passar mentiras ou meias verdades, tem duas serventias. Uma para dentro, outro para fora. Para dentro, como forma de mostrar serviço aos chefes. Para fora, a fim de dar mais sustança à notícia.
O que, além de fraudulento, é uma bobagem. Dependendo do informante e da posição que ocupe no governo, a sua palavra singular pode valer mais do que a de dois outros, sem o mesmo acesso aos segredos do poder.Sem falar na hipótese de que eles abram o jogo sobre o que não conhecem, afinal de contas, como fazem crer. Só para se mostrar mais do que são aos jornalistas que os procuram.
Salsichas e notícias
Para combater a praga da notícia sem pai nem mãe, o New York Times adota uma prática de respeito ao leitor diante do que aqui se chama, barbarizando o idioma, “informação em off”. Primeiro, o repórter tem de perguntar à fonte por que ela não pode assumir o que lhe conta – e a resposta acaba fazendo parte da matéria. Segundo, preservado o sigilo do vazador, o texto tem de incluir o máximo de pistas possíveis sobre a sua identidade. O NYT baniu faz tempo o velho e cômodo “fonte(s) bem informada(s)”.
Mas quem liga para isso nestas bandas? Bismarck dizia que o povo ficaria revoltado se soubesse como são feitas as leis e as salsichas. Assim também o leitor brasileiro se soubesse como são feitas as notícias que consome.
Luiz Weis é jornalista
A receita da salsicha
Por Luciano Martins Costa em 25/03/2015 – Comentário para o programa radiofônico do Observatório da Imprensa.
“Os cidadãos não dormiriam tranquilos se soubessem como são feitas as leis e as salsichas.” A frase, atribuída ao chanceler do império germânico Otto von Bismarck (1815-1898), poderia receber uma paródia muito a propósito: “Os cidadãos dormiriam mais tranquilos se soubessem como é feito o jornalismo”. Seria uma maneira de dizer que o noticiário pessimista induzido pela imprensa diariamente teria menos efeito no ânimo dos cidadãos se eles soubessem como é produzido.
Eventualmente, um vacilo da redação torna pública a manipulação de reportagens e entrevistas,como aconteceu no dia 8 de fevereiro deste ano, quando circulou nas redes sociais cópia de mensagem enviada pela diretora da Central Globo de Jornalismo, Silvia Faria, recomendando aos chefes de núcleo da emissora que retirassem qualquer referência ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso do noticiário sobre o escândalo da Petrobras.
Segundo o jornalista Luís Nassif, que divulgou o fato em seu site noticioso, o texto trazia como assunto: “Tirar trecho que menciona FHC nos VTs sobre Lava a Jato” (sic) e alertava: “Revisem os vts com atenção! Não vamos deixar ir ao ar nenhum com citação ao Fernando Henrique”.
A confissão explícita de que o mais influente telejornal da emissora que domina as audiências é condicionado de cima para baixo não surpreende quem sabe como a salsicha é feita: o Grupo Globo deve ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso o saneamento de suas dívidas, obtido com um empréstimo do BNDES, no valor de R$ 600 milhões, concedido em 2002, no fim do seu segundo mandato.
Além disso, a parceria tem outras raízes: a jornalista que constrangeu o ex-presidente com um filho que não era dele – e que FHC, inadvertidamente, reconheceu num cartório da Espanha – era funcionária da TV Globo e foi premiada com um exílio na Europa há 20 anos.
A vida privada de políticos não deveria interessar ao jornalista, desde que os eventos particulares não interfiram nos fatos públicos. Não é o caso: a cumplicidade entre a principal emissora do país e um ex-presidente que segue influenciando a política e a economia nasce de ato indecoroso do então ministro do governo Itamar Franco, acobertado pela empresa de comunicação e que, possivelmente, criou as condições para uma decisão de Estado – o favorecimento num empréstimo do banco estatal de desenvolvimento.
Autobiografia terceirizada
Nesta semana, as entranhas da salsicha midiática voltam a ser expostas à visitação pública por um ato falho do correspondente-chefe da agência de notícias Reuters, Brian Winter, que em sua edição brasileira publicou entrevista com o ex-presidente, na qual Fernando Henrique Cardoso afirma que seu sucessor, Lula da Silva, tem mais responsabilidade no escândalo da Petrobras do que a atual presidente, Dilma Rousseff.
Às 9h08 de segunda-feira (23/3), a entrevista assinada por Brian Winter trazia uma afirmação de Fernando Henrique segundo a qual a corrupção se tornou mais intensa durante o governo Lula. Mas logo adiante, no sexto parágrafo, podia ser lido o seguinte: “Entretanto, um dos delatores do esquema, o ex-gerente de serviços da Petrobras Pedro Barusco, disse que o esquema de pagamento de propinas começou em 1997, durante o governo tucano”.
A pérola é o que se segue – entre parênteses, quando o autor faz uma ressalva ao editor: “(Podemos tirar, se achar melhor)”. Ou seja, o jornalista inseriu informação que relativizava a declaração do entrevistado e, em seguida, recomendou que a referência à origem da corrupção na Petrobras, durante o governo FHC, fosse cortada do texto final.
Após alguma repercussão nas redes sociais, o site da Reuters republicou a entrevista,sem a recomendação de Winter, mas deixava uma pista também entre parênteses: “(Reenvia texto publicado originalmente na segunda-feira para excluir nota do editor no fim do 6º parágrafo)”.
Este observador pediu explicação à agência de notícias e até a manhã de quarta-feira (25/3) não obteve resposta. O correspondente Brian Winter, no Brasil desde 2010, publicou quatro livros, três dos quais são biografias: uma de Pelé, outra do ex-presidente colombiano Álvaro Uribe, e a terceira de Fernando Henrique Cardoso. O livro intitulado O improvável presidente do Brasil, publicado em 2007, originalmente em inglês, foi ditado pelo ex-presidente ao jornalista Brian Winter, que aparece como coautor, o que permite ao modesto sociólogo falar de si mesmo na terceira pessoa.
Deu para entender como é feita a salsicha?
Luciano Martins Costa é jornalista.
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EM RESPOSTA AO VALOR, EMPRESA DE DIRCEU REPUDIA ILAÇÕES DE SEUS CONTRATOS DE TRABALHO.
A JD Assessoria e Consultoria repudia qualquer ilação sobre suposta ilegalidade em seus contratos e nos trabalhos de consultoria para as empresas investigadas na Operação Lava Jato. Nenhum serviço prestado pela JD tem relação com a Petrobras. Mais uma vez, a notícia se baseia em “fontes ligadas à investigação” e não apresenta provas juntadas aos autos do processo. As construtoras investigadas também já se manifestaram publicamente, confirmando que a JD foi contratada e trabalhou na prestação de serviços no exterior, o que contradiz e fragiliza o argumento dos investigadores.
Trata-se, portanto, de especulações e informações não oficiais que visam tão somente tentar criminalizar a atuação da empresa de consultoria e vincular o ex-ministro José Dirceu à Operação Lava Jato. Há uma clara campanha em curso com o objetivo de influenciar a opinião pública para que José Dirceu seja denunciado e condenado mais uma vez sem que uma única prova seja de fato produzida contra ele. Reportagens sem base nos autos servem apenas como balão de ensaio para as teses da polícia e dos procuradores.
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TERRAS ALTAS DA MANTIQUEIRA = ALAGOA - AIURUOCA - DELFIM MOREIRA - ITAMONTE - ITANHANDU - MARMELÓPOLIS - PASSA QUATRO - POUSO ALTO - SÃO SEBASTIÃO DO RIO VERDE - VIRGÍNIA.
quinta-feira, 26 de março de 2015
STF abre inquérito contra presidente nacional do DEM acusado de receber propina.
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