O redator do Notas Vermelhas confessa ser um fã dos filmes de faroeste do diretor Sérgio Leone. Uma das virtudes do genial diretor italiano foi romper com o esquematismo do bandido e mocinho muito bem definidos. Nos seus faroestes nem sempre esta demarcação é clara e o espectador fica com a impressão de que a trama só tem bandido. E realmente, em alguns faroestes não existem mocinhos.Mudando de assunto, o leitor já deve ter tomado conhecimento do intenso tiroteio verbal entre os probos Demóstenes Torres e Ronaldo Caiado (senador, DEM-GO). A pesada troca de acusações entre um ícone do conservadorismo caído em desgraça, Demóstenes, e um antigo campeão do conservadorismo, latifundiário e anticomunista, Caiado, chama a atenção. Convenientemente, entretanto, a mídia hegemônica dá pouca repercussão ao que, pelos padrões vigentes do jornalismo que pratica, devia ser notícia destinada a espaço nobre do noticiário, pois envolve um atual e um ex-membro do Senado da República. Ambos, até há pouco tempo, aliados inseparáveis na luta “contra a corrupção no governo do PT”. Ambos elevados pela mídia ao altar destinado aos santos de pau oco, que enganam fiéis coxinhas e analfabetos políticos de toda ordem, brandindo a bandeira da “ética”. Demóstenes atacou Caiado por sentir-se abandonado e traído, e escreveu um artigo publicado nesta terça-feira (31) no jornal Diário da Manhã, intitulado “Ronaldo Caiado, uma voz à procura de um cérebro”. O senador respondeu no mesmo dia com uma nota intitulada “Apenas mais um bandido que enfrento”. Demóstenes ataca Caiado – Melhores momentos Lista de adjetivos que Demóstenes usa para se referir ao que foi, durante muito tempo, um dos seus principais parceiros políticos, o senador Ronaldo Caiado: “Judas, mitômano (patologia em que a pessoa mente a todo momento), dúbio, tíbio, dissimulado, oportunista, profissional de lupanar (lupanar = casa de prostituição), caráter de Fouché (sem caráter), quadrúpede, oportunista, bravateiro, verme”. O ex-senador do DEM acusa o atual senador do DEM de fazer parte da “rede de amigos” do bicheiro Carlos Cachoeira, e diz que é fácil comprovar a ligação entre os dois: “peguem as contas de seus gastos gráficos, aéreos e de pessoal, notadamente nas campanhas de 2002, 2006 e 2010, que qualquer um verá as impressões digitais do anjo caído. Siga o dinheiro”. Diz ainda que Caiado pediu a interferência dele (Demóstenes) junto a Carlos Cachoeira para ampliar a atividade de um amigo no jogo ilícito. E em um dos últimos insultos, Demóstenes Torres afirmou que o impoluto ruralista Ronaldo Caiado, senador pelo DEM/GO, ativista da passeata do dia 15 de março, “rouba, mente e trai”. Caiado ataca Demóstenes – Melhores momentos Lista de adjetivos que Caiado usa para se referir ao que foi, durante muito tempo, um dos seus principais parceiros políticos, o ex-senador Demóstenes Torres: “bandido, corrupto, mau caráter, sem credibilidade, canalha e bicheiro”. O atual senador do DEM, acusa o ex-senador do DEM, de “de montar dossiês, de perseguir e ameaçar as pessoas, até como fonte de manutenção de seus gastos faraônicos”. Respondendo a uma das muitas acusações de Demóstenes (que trataremos na nota abaixo) Ronaldo Caiado faz uma menção um tanto nebulosa: “de Detran quem entende é Demóstenes e sua turma”. Nota-se, apesar de tudo isso, que a raiva do Demóstenes contra o Caiado parece ser maior do que a raiva do Caiado contra o Demóstenes. E particularmente um fato chama a atenção: Demóstenes, em seu longo artigo, afirma que Caiado só “não está na sarjeta porque eu não tenho vocação para delator” e acusa seu desafeto de ter forjado um documento que teria contribuído para a sua (dele, Demóstenes) cassação. Pois não é que Caiado, mesmo no meio de um mar de impropérios, se preocupa em garantir ao seu acusador que não tem ligação com o episódio do documento forjado: “Demóstenes não precisa criar essas ilações. Não sou homem de fazer este jogo. Sempre joguei limpo”. Será isso uma pequena brecha para um futuro entendimento? Uma mão estendida ao diálogo fraterno, em meio a tanto ódio? Fica nossa torcida neste sentido, afinal, uma amizade tão bonita não pode morrer assim. Sobrou até pro Agripino Maia A troca de tiros entre Demóstenes e Caiado teve até bala perdida, como é comum em tiroteios. A vítima foi o também senador do DEM, Agripino Maia. Agripino, mais um entusiasta da passeata do dia 15 de março, já responde a inquérito por corrupção passiva na Operação Sinal Fechado. Agora é acusado por Demóstenes Torres de ter se beneficiado, com “seus companheiros de chapa em 2010”, do “esquema goiano”, que teria financiado o projeto político de Agripino no Rio Grande do Norte, “com intermediação de Ronaldo Caiado”. Aliás, sobre Agripino, Demóstenes diz que se trata de uma “figura pouquíssimo republicana”. Demóstenes – Um sujeito distraído Na carta em que o ex-senador do DEM, Demóstenes Torres, acusa o atual senador do DEM, Ronaldo Caiado, Demóstenes admite ser amigo do bicheiro Carlinhos Cachoeira. Admite uma tal proximidade que, como vimos em nota anterior, diz que Caiado o procurou para interceder junto ao contraventor para ajudar um amigo a ampliar a participação na máfia dos caça-níqueis. A defesa de Demóstenes é que “simplesmente, disse a ele (ao Caiado), como era verdade, que desconhecia a prática de ilicitudes por parte de Cachoeira”. Este pacato redator do Notas Vermelhas, em defesa de Demóstenes, relata o caso de um conhecido que durante muitos anos foi amigo do Fernandinho Beira-Mar desconhecendo totalmente “a prática de ilicitudes”, por parte do confrade. Quando finalmente Beira-Mar foi preso, desconfiado, indaguei a este meu conhecido: “Como você não sabia nada sobre o Beira-Mar se é de conhecimento público que ele é um grande traficante de armas e drogas? Ninguém ignora este fato”, ele respondeu simplesmente: “pois é, não sei explicar isso, eu o achava tão gente boa, que nunca suspeitei”. Acabei me convencendo que este meu conhecido era um sujeito muito distraído, igualzinho ao Demóstenes. Duelo na praça ao meio dia Um dos trechos mais interessantes da carta em que o ex-senador do DEM, Demóstenes Torres, ataca o atual senador do DEM, Ronaldo Caiado, é quando ele narra que em certa ocasião Ronaldo Caiado mandou um recado, desafiando o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), para resolver uma divergência “no braço, na faca, no revólver”. Demóstenes não titubeou: “Pois agora, Ronaldo Caiado, quero ver se você é homem mesmo. Nos mesmos termos que você mandou oferecer ao frouxo Marconi Perillo, eu me exponho”. Já pensou na cena o amigo leitor? Um duelo na praça ao meio dia, opondo dois titãs da moralidade pública, cada qual tendo em uma das mãos um revólver, na outra a bandeira da ética? Para ficar perfeito, só faltava o Sérgio Leone filmando tudo.
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quinta-feira, 2 de abril de 2015
O faroeste onde só tem bandido e o tiroteio entre Caiado e Demóstenes.
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