quinta-feira, 2 de abril de 2015

PT e governo se preparam para sair da defensiva - A ideia é voltar ao clima pós-eleitoral, dar discurso à militância e acenar para uma ação integrada com todas as forças progressistas.

Ricardo Stuckert / Instituto Lula


Maria Inês Nassif


“Ajustar o ajuste fiscal”, de forma a torná-lo mais palatável para as esquerdas, e ao mesmo tempo produzir uma agenda, negociada com os movimentos sociais, que minimize seus efeitos sobre as camadas mais pobres da população, são as duas ações simultâneas que estão sendo articuladas por setores do governo e do PT, com o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Esta seria uma tentativa de retroceder a novembro, quando a presidenta Dilma Rousseff venceu o segundo turno eleitoral constituindo-se num razoável consenso entre camadas mais pobres da população e os setores progressistas, e de retirar a militância do acuamento a que foi submetida por uma agressiva saída do armário de grupos de direita.
 
Se tiver êxito, uma articulação como esta dá perspectiva às inúmeras iniciativas de debate sobre a constituição de uma frente de esquerdas que, num modelo uruguaio, possa agregar não apenas partidos progressistas, mas militância sem carteirinha, isto é, simpatizantes do projeto de governo de esquerda que não são filiados a partidos políticos.  
 
A negociação de uma agenda política de esquerda com os movimentos sociais proveria setores comprometidos com as classes mais pobres da população – e interessados na manutenção de um projeto político de esquerda no poder – de um discurso capaz de conter o efeito da agressividade de uma “minoria de direita” sobre as camadas da população que votaram em Dilma, e de reverter o clima de insatisfação que rapidamente contaminou o ambiente político.  
 
A mobilização dos setores progressistas não descarta, mas complementa os esforços feitos junto à base aliada no Congresso, em especial ao PMDB, para recompor a maioria parlamentar. A avaliação é a de que o maior partido da base governista tem interesses consolidados, mas é muito susceptível à opinião pública. Se é impossível cooptá-lo para um projeto político, será mais fácil convencê-lo a ajudar – e não atrapalhar – a governabilidade se a popularidade do governo Dilma, hoje em baixa, for revertida.  
 
Unir as esquerdas e fazer o PMDB voltar a ser sustentação e não oposição ao governo não são tarefas fáceis. Mas a avaliação que se faz é que, por parte das forças de esquerda, há um razoável consenso de que deixar a presidenta Dilma à deriva compromete o projeto de todos. Se o governo não conseguir reverter o quadro político, reconhecidamente desfavorável, e se essas forças deixarem Dilma  “sangrar” como pregam figuras da oposição, ou ainda se for permitida qualquer quebra na legalidade e interrompido o seu mandato, as chances de retomada de um projeto de poder no campo progressista serão remotas e longínquas.
 
Outra vertente das articulações de setores do governo, ex-presidente Lula e PT é para revitalizar o partido. Segundo diagnóstico que é comum entre todos os envolvidos nos esforços, o partido perdeu a capacidade de liderança, quer devido a sucessivos escândalos políticos, cujas apurações policiais, sentenças judiciais e repercussão midiática estão concentradas no partido, quer pelo descolamento da militância e perda de quadros.
 
A reunião do ex-presidente Lula com a direção nacional e os diretórios regionais do partido, na terça-feira, definiu alguma estratégia para tirar o partido da defensiva, como a proposta para que a legenda deixe unilateralmente de receber financiamento empresarial, mesmo se não for aprovada a lei que proíbe isso para todos os partidos políticos.

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