quarta-feira, 1 de julho de 2015

Se em 2014 perguntássemos: se os reacionários não forem barrados? 2015 seria a resposta.



Os ataques morais e até físicos contra quem se posiciona (ou se parece) de esquerda tem aumentado, vertiginosamente, desde a campanha eleitoral de 2014.
Ex-ministros de Lula e Dilma, como Guido Mantega e Alexandre Padilha, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, famosos, como Gregório Duviver, Jô Soares e a cantora Pitty, já foram alvos de uma campanha de ódio conservador sem precedentes na história recente do país.
É perturbador o atual cenário político e social.
Aquelas pessoas presentes ao último ataque histérico-reacionário a Guido Mantega, em um restaurante em São Paulo, que nada fizeram para defendê-lo, independente se o prezam ou não, cedem espaços a este perigoso modo operante de um grupo social radicalizado pela disputa política.
Não creio que vivamos um período de maioria fascista na sociedade brasileira.
Parece nítido que muitos embarcam na nau do ódio e da segregação, como parte de um fenômeno que tem ganhado espaço e vigor no cenário político, sem a devida reflexão, desta forma o arrastão da grosseria cresce, ao passo que não se constroem barreiras para limitá-lo e combatê-lo.
Por outro lado, é preciso reconhecer que alguns que se mostram radicalmente reacionários, defensores do preconceito social, racial e de gênero, já pensavam desta maneira, apenas não se sentiam encorajados a professar suas convicções fascistas publicamente. Neste Brasil da difusão do ódio à Dilma, à Lula, ao PT, à quem usar roupas vermelhas em ambientes dominados pelas elites, aos médicos cubanos, à quem se assumir homossexual ou à quem pertencer a uma religião afro brasileira, os radicais de direita saíram do casulo e desfilam confiantes sobre o direito alheio às liberdades políticas, de expressão, de religiosidade etc.
É fato que o Judiciário, o Legislativo federal e a mídia estão contaminados por uma epidemia conservadora, que tomou as rédeas do processo político.
O governo é frágil e está a mercê destes agentes.
Mas isto tem sido possível, porque a sociedade, como dito acima, ou porque está sendo levada a rodo por este tsunami fascista, ou porque estão saindo do armário os reaças radicais de sempre, porém antes discretos, comprou a ideia de que é aceitável agredir aqueles que pensam diferente da “solução final” difundida pela mídia: expurgar esquerdistas e todos aqueles que apoiam este governo.
Dilma não consegue juntar as forças progressistas parara dar uma resposta às crises, política e econômica. Desta forma, se aproxima, em um horizonte próximo, uma crise social ainda mais forte que as duas que já ocorrem.
As pessoas que se calam diante dos grotescos casos de insultos e ataques físicos contra aqueles que os fundamentalistas consideram culpados pelas crises vigentes, assim parecem agir, ou por medo de serem identificados como simpatizantes dos agredidos e também se tornarem alvos da ira de agressores, ou por, no íntimo, acreditarem que um “pequeno castigo” seja até aceitável, devido ao momento de tensão política vivido no país.
Tão ruim quanto a sociedade estar sob os efeitos da ira reacionária coletiva, não pode o Estado ser contaminado pelo sentimento de truculência e desrespeito às leis. No nazismo pré guetos e campos de concentração, judeus e comunistas, por exemplo, podiam ser insultados e agredidos fisicamente por seus detratores nas ruas, que o Estado, quando procurado por essas vítimas, fazia pouco caso destas ocorrências e passavam dois recados simultâneos a população:
Ao agredido, de que se foi atacado é porque o fez por merecer e o poder público lava as mãos quanto ao ato de “justiçamento” efetivado;
Aos agressores, de que podem continuar atacando estes sujeitos, que não serão incomodados pelo Estado, o que se configura em um estímulo do Estado a perpetração de ataques dessas naturezas.
A história nos mostrou qual estágio, de selvageria social, alcançaria o Estado alemão perante o silêncio dos discordantes da política do ódio e daqueles que foram levados a praticar e considerar aceitáveis, as repugnantes práticas de violência aos direitos individuais e à democracia.
Isto, sem qualquer exagero, já acontece atualmente no Brasil, principalmente nos grandes centros do país. Em localidades de grande concentração de pessoas com acesso a educação de qualidade e melhores condições de vida.
A ameaçadora turbulência política que tem debilitado a República, em muito se assemelha, do ponto de vista institucional, ao parlamentarismo adotado, casuisticamente, pelo Congresso, após a renúncia de Jânio Quadros, apenas para que João Goulart não pudesse, de fato e de direito, governar e a direita pudesse ditar seu programa retrógrado. Transformando o presidente em mera peça decorativa.

O governo Dilma, anêmico em suas afirmações e enfrentamentos, parece ter aceito o parlamentarismo informal que as lideranças do atraso já impõe ao país.
Não serão um governo, um partido ou figuras políticas que figurarão como os principais perdedores se o avanço reacionário não for contido. Mas todas as conquistas sociais, obtidas penosamente em lutas históricas do povo, a unidade nacional e o futuro próximo dos brasileiros.
O ódio alimentado, diariamente, por tendenciosas pautas da mídia que movimentam campanhas maldosas nas redes sociais, não é capaz de construir ou gerar energia para melhorar algo em favor da maioria. O ódio é o combustível da desagregação social e força motriz do fundamentalismo, aí tanto faz se religioso ou político, em favor de uma minoria, egoísta e mesquinha.
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