terça-feira, 25 de agosto de 2015

Quando as imagens explicam melhor a política do que as palavras.


Se reunissem todas as análises que têm sido escritas desde o começo do ano sobre o momento político e as razões das manifestações contra o governo Dilma Rousseff, provavelmente esses escritos lotariam as prateleiras da Biblioteca Real de Alexandria.
Há alguns meses, porém, circulam pela internet – a meu ver, timidamente – duas fotos que, justapostas, são muito mais eficientes para explicar o processo político-ideológico em curso no país do que todas essas análises juntas.
foto 2015
51 anos separam a foto tirada neste ano nas manifestações contra o governo de 12 de março da foto tirada em 19 de março de 1964, a menos de duas semanas do golpe militar que instituiu uma ditadura de 21 anos no país.
Antes que alguém venha contra-argumentar que há diferenças fundamentais entre os dois momentos da vida nacional, quero dizer que concordo. O país em que vivemos hoje impede que essa gente que saiu às ruas em 1964 dizendo as mesmas bobagens que hoje obtenha os mesmos resultados que obteve cinco décadas atrás.
As instituições e as garantias constitucionais são muito mais sólidas, apesar de combalidas pelas prisões arbitrárias e pelo uso da lei de forma seletiva que têm sido vistos nos últimos dois anos e pouco.
Não existe hoje no mundo condições para um país da importância do Brasil sofrer uma quartelada sem se isolar dramaticamente da comunidade internacional – um golpe militar, hoje, afundaria o país, que seria alijado de todas as instâncias multilaterais do mundo.
Então para que serve comparar essas fotos?, perguntará o leitor. Será só pela coincidência perfeita entre as frases que exibem?
Em primeiro lugar, não há coincidência. Quem manufaturou a faixa vista nas manifestações antigoverno deste ano certamente inspirou-se em dizeres que foram levados às ruas nas marchas “da família com Deus pela liberdade” de meio século atrás, as quais, paradoxalmente, levaram o país à maior falta de liberdade que sofreu no século XX.
Uma falta de liberdade que durou 21 anos, diga-se.
Em segundo lugar, a comparação serve para explicar a motivação de quem está protestando contra o governo.
Mais uma vez, outra comparação de imagens mostra que atribuir “repúdio à corrupção do PT” como razão para protestar, não passa de balela.
fotos cunha
Mas se repúdio à corrupção não é a verdadeira motivação dessas manifestações antigoverno, então o que move essa gente?
Aí é que entram as duas fotos que encabeçam este texto. Tanto em 1964 quanto hoje, o que move essa uniformidade étnica e de classe social que quer derrubar o governo é a preservação da desigualdade que essas pessoas conseguiram ampliar ao longo de 21 anos de ditadura.
O aumento da desigualdade durante os anos do Milagre Econômico foi tema de diversos estudos de economistas. Veja o que especialistas escreveram, naquela época, sobre a concentração de renda no país.
Alberto Fishlow, professor da universidade de columbia.
Em 1972, escreve artigo publicado na ‘American Economic Review’, mostrando o aumento da concentração de renda no Brasil entre 1960 e 1970. Era o período que a repressão do regime militar alcançava seu auge.
— De certa maneira (Carlos) Langoni replicou meu artigo, mas não utilizou as rendas maiores e mostrou uma situação um pouco melhor dos habitantes — afirma.
Carlos Langoni, doutor pela Universidade de Chicago.
A pedido do então ministro da Fazenda Delfim Netto, ele fez um estudo sobre o tema e concluiu que a educação era fator preponderante para explicar a piora na distribuição de renda:
— Todos reconhecem que a educação é um fator fundamental para reconciliar desenvolvimento com melhoria da distribuição de renda — afirma o ex-presidente do Banco Central Carlos Langoni.
Rodolfo Hoffmann, doutor em Economia Agrária /USP.
No Brasil, na mesma época que Fishlow, Hoffmann também constatou o aumento da desigualdade.
—Todos nós deduzimos, matematicamente, que (o aumento da concentração) tinha a ver com a ditadura. O espantoso no livro do Langoni é que ele não fala do golpe. É o erro básico, como se o mercado funcionasse independentemente da política.
Vale ressaltar que quem diz isso não é este blogueiro, mas o jornal O Globo.
Assim, recorremos de novo a uma imagem para explicar por que a extrema-direita, após mais de 50 anos, voltou a protestar com virulência ímpar contra um governo brasileiro.
concentração de renda
O que preocupa o autor desta análise, pois, é que quando imagens explicam melhor a política do que as palavras é porque a sociedade abandonou o campo do diálogo e mergulhou no da imposição de vontades.
É simples assim.
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http://www.blogdacidadania.com.br/…/quando-as-imagens-expl…/

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Ué, mas a crise internacional não tinha acabado?


jornal nacional

O telespectador do Jornal Nacional – entre outros noticiários picaretas que embromam o país –, caso só se informe pela mídia corporativa, por certo ficou sem entender nada ao fim da edição do primeiro dia útil desta semana daquele telejornal.
Há meses que a mídia e a oposição ao governo Dilma Rousseff vêm desmentindo a presidente da República quando ela diz que as dificuldades econômicas do país se devem à crise internacional.
O blogueiro da Globo Ricardo Noblat, por exemplo, escreveu, recentemente, que “a crise internacional não existe mais”.
Também recentemente, Gustavo Franco, que pilotou o Banco Central durante o governo Fernando Henrique Cardoso, afirmou que a crise econômica do Brasil “não vem de fora” e que ela foi “autoinfligida” – ou seja, não existiria crise internacional. A crise seria só brasileira.
A Editora Abril, claro, não poderia se furtar, através da revista Exame, a espalhar a farsa de que só o Brasil estaria em crise enquanto o resto do mundo já teria se recuperado.
Mas o mentiroso mais ousado, sem dúvida, foi o economista Armínio Fraga, que teria sido nomeado ministro da Fazenda caso Aécio Neves tivesse vencido a eleição presidencial do ano passado; ele afirmou que “a crise econômica mundial acabou em 2009″.
A mentira colou. A grande maioria dos brasileiros desaprova o governo Dilma porque acreditou na mídia e na oposição quando disseram que os problemas do Brasil não são causados por crise internacional, pois esta não existiria mais.
As pessoas, então, por certo ficaram perdidas ao assistir à edição do JN de 24 de agosto de 2015.
O telejornal começou informando que a Bolsa de Nova Iorque chegou a cair mais de 6% no primeiro dia útil desta semana porque a China representa 15% da economia do planeta e seu crescimento vem despencando ano a ano.
A causa disso foi explicada pelo JN e essa explicação por certo foi o que mais deve ter espantado quem acreditou na Globo e na oposição quando disseram que não havia mais crise econômica internacional.
“Se a China cresce menos, é ruim para as multinacionais que ganham dinheiro lá. E para as empresas que exportam pros chineses. Eles são os maiores compradores de matérias-primas do mundo – e os principais clientes do Brasil”, diz o telejornal da Globo.
O JN disse, também, que “A Europa continua patinando”… Como assim, “Continua”?! A Europa já não tinha saído da crise, segundo Noblat, Gustavo Franco, Armínio Fraga etc.?!
Ao fim da matéria, o maior telejornal do país diz que o professor de economia norte-americano Sanjay Reddy opinou que os Estados Unidos não têm como baixar suas taxas de juro – que estão negativas desde 2009 – porque isso poderia “agravar ainda mais a crise nesses países”, ou seja, nos EUA, na Europa, na própria China e na América Latina.
Aí é que o público que se informa (mal) pela mídia corporativa não entendeu nada mesmo. Que crise “nesses países”? Ela não tinha acabado no mundo inteiro, menos no Brasil?
Assista, abaixo, à matéria do Jornal Nacional em questão. E espante-se também. Ou não…
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