terça-feira, 4 de agosto de 2015

Sem provas contra Dirceu e Anastasia, um é preso e outro “inocentado”


Dirceu foi preso de novo, como já era amplamente esperado. E, como já se sabia que ocorreria, sem que ninguém conheça a razão. E antes que o fascismo hipócrita venha com “mimimi” sobre corrupção, lembremo-nos, aqui, de que o partido dessa gente, o PSDB, acaba de fazer uma conta que a Folha de São Paulo chamou de “pragmática”.
O moralismo demo-tucano-midiático, a estas horas, está costurando discursos sobre a prisão de José Dirceu. Porém, segundo o jornal, esses hipócritas decidiram “não abandonar Eduardo Cunha” porque o peemedebista ficará no cargo mesmo se for denunciado por Rodrigo Janot, pelo menos até o STF decidir se abre ação penal.
“Basta uma canetada dele para abrir o processo de impeachment”, diz um cacique tucano. Para o PSDB, o desgaste que o partido pode sofrer por oferecer sustentação ao enrolado presidente da Câmara é menor do que o desgaste que este pode causar a Dilma Rousseff. Desse modo, dane-se a corrupção de Cunha.
Mas não é só o PSDB que mandou às favas os escrúpulos e está apoiando Eduardo Cunha a despeito das delações premiadas que o acusam de ter “lavado a égua” em termos de propinas de empreiteiras. A imprensa mais moralista se derrete de amores por ele.
Vejam só o moralista-mor da imprensa nacional, o pitbull de Veja e Folha, Reinaldo Azevedo. Há pouco tempo, escreveu que Ódio a Cunha é ódio à democracia. E que se danem os 5 milhões de dólares que os mesmos que delataram Dirceu dizem que Cunha recebeu.
Para o moralismo hipócrita da direita midiática, crime só é crime se for cometido pela esquerda. Crimes de direitistas estão liberados.
O que se quer, neste Blog, é que haja tratamento isonômico para gregos e troianos. Se ao lado de Dirceu todos os outros acusados do campo político oposto estivessem sendo presos, poderíamos questionar essa medida de exceção para todos, mas, pelo menos, saberíamos que a lei vale para qualquer um da mesma forma.
O que causa sobressalto é que sob indícios idênticos alguns são presos sem nem mesmo ter sido julgados e condenados e outros são liberados sob o argumento de que faltam provas definitivas, apesar de que o mesmo ocorre com os que foram presos.
Essa é uma característica das ditaduras: a lei vale para punir os inimigos políticos, mas é ignorada quando os acusados são amigos.
Talvez pior do que o caso de Cunha seja o caso do ex-governador mineiro Antonio Anastasia. Hoje, pelos jornais, ficamos sabendo que o Ministério Público deixará de investigá-lo apesar de haver uma delação contra ele, de um ex-policial que afirma ter lhe entregado uma mala cheia de dinheiro.
Contra Cunha, Anastasia e Dirceu pesam acusações de pessoas que foram presas por envolvimento em crimes. Porém, enquanto que os dois primeiros não sofrem sequer um constrangimento enquanto recebem apoios da mídia, do PSDB e do resto da fascistada que atira bombas “caseiras” nos adversários políticos, o último vai em cana.
Quem acha que está acima desse tipo de distorção das leis e do uso do aparato policial do Estado apesar de ser do campo político que a direita midiática quer exterminar, engana-se redonda e fatalmente.
O Brasil está caminhando para se tornar um Estado policial que irá reprimir todo aquele que se identificar com o pensamento de esquerda e tiver chance de ganhar apoio popular.
Há setores da esquerda que se regozijam com a destruição do PT porque depois que ele for dizimado a “verdadeira esquerda” se tornará uma opção. Pobres diabos. Acreditam mesmo que o problema quanto ao PT é a corrupção.
Se quem prega a destruição do PT estivesse mesmo preocupado com a corrupção estaria pregando o mesmo para todos os partidos que dividem o poder federal ou nos Estados e municípios, pois todos têm problemas dessa natureza.
Após dizimar o PT, qualquer esquerdista que sobressaia será abatido pelos mesmos métodos.
A diferença de tratamento gritante para acusados de crimes parecidos de acordo com a posição política de cada um mostra que todo esse aparato policial montado pelo Ministério Público, pela Polícia Federal, pela Justiça e pela Mídia será desmontado assim que o objetivo for atingido, ou seja, assim que todas as principais lideranças de esquerda forem desmoralizadas e, se possível, presas.
Estamos vendo tudo isso acontecer logo após um legítimo atentado político ter sido cometido na semana passada contra um ex-presidente da República sem que o ato de terror tenha sido objeto sequer de um editorial de um grande jornal.
A polícia paulista, sem investigar nada, divulga que o atentado foi “ação de baderneiros” e dá a entender que não gastará tempo com o ato terrorista, o que, por certo, incentivará novos ataques.
O que se entende menos ainda é como Dirceu, caído em desgraça já no terceiro ano do governo Lula, poderia ter tido influência naquele governo e, sobretudo, no governo Dilma Rousseff, que fugiu dos envolvidos no mensalão como o diabo foge da cruz.
Tanto os governos do PT quanto a cúpula do partido afastaram-se de Dirceu. Ele foi deixado à própria sorte junto com os outros envolvidos no escândalo do mensalão. Acreditar que ainda assim ele pudesse interferir na gestão da Petrobrás chega a ser cômico.
Contra Dirceu pesa tão-somente o que pesa contra políticos do campo oposto, como Cunha e Anastasia. Estes também são acusados de receber propina, mas, à diferença de Dirceu, sobre eles o que dizem delatores não é considerado nem para abrir processo, quanto mais para prender.
Como escrevi em 2012, quando Dirceu, Genoino e companhia foram presos pela primeira vez, agora, no Brasil, são quatro os pês passíveis de prisão: pretos, pobres, prostitutas e petistas. O problema é que não são apenas esses que podem infringir a lei. Crime é crime. Não há pobre ou rico, esquerdista ou direitista acima de suspeita.
Após a direita midiática dizimar o PT, a mesma máquina usada hoje para transformar suspeitas em condenações transformará suspeitas em absolvições. Essa máquina, porém, manterá uma tecla para lhe inverter a rotação. Se algum esquerdista ascender no cenário político, bastará mudar a chave que meras suspeitas voltarão a condenar.
http://www.blogdacidadania.com.br/…/sem-provas-contra-dirc…/

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JN deu um jeito de vincular Lula à prisão de Dirceu.

jn
Chega a ser inacreditável o que está acontecendo no país. José Dirceu e Eduardo Cunha foram acusados pelo delator Julio Camargo. O primeiro está preso, o segundo sai distribuindo ameaças, sofre acusações de pressionar testemunhas e nada acontece.
O Estado de Direito não existe mais. Pessoas são presas sem flagrante, sem provas, sem julgamento, sem juiz e sem júri.
O absurdo é tanto que José Dirceu conseguiu ser preso enquanto cumpre pena de prisão, ainda que domiciliar, mas tendo telefones grampeados, visitas e locomoção controlados, sem qualquer possibilidade de interferir em nada.
Mas se alguém pensava que o auge do absurdo tinha sido atingido, o impensável aconteceu. Na edição do Jornal Nacional desta segunda-feira, 3 de agosto de 2015, uma “reportagem” trata de vincular o ex-presidente Lula a Dirceu.
Em reportagem sobre o ex-ministro, o repórter da Globo pergunta ao procurador do MPF Carlos Fernando Lima:
— O Lula pode ser investigado? Como é que está essa questão?
Resta saber que “questão” é essa… Há alguma acusação contra Lula? Por que ele deveria ser investigado? O Ministério Público deu alguma indicação de que Lula é suspeito, para a Globo mandar seu pau-mandado perguntar se o ex-presidente “pode ser investigado”?
Abaixo, o trecho da reportagem em que o JN deu um jeito de implicar Lula em rede nacional.
Em rede nacional, o procurador dá esse olhar significativo após a forma como foi feita a pergunta. Virou esculhambação. O que você acaba de assistir, leitor, foi a um diálogo ensaiado e encenado para ser apresentado em horário nobre.
Neste momento, só o que importa no Brasil é restaurar a democracia. Enquanto a lei continuar sendo usada de formas diferentes dependendo da orientação política das pessoas, podemos ter certeza de que o Brasil deixou de ser uma democracia.
Mais uma vez, este Blog insiste em que a única forma que resta para impedir que este país se transforme em uma ditadura midiático-policial-jurídica será pedindo observadores internacionais para a política interna do país.
Como, quando e por quem isso será feito, não sei. Mas é bom que seja feito o quanto antes. No ritmo em que caminha, o golpe ocorrerá em agosto.

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