Naira Hofmeister
O jornal gaúcho Zero Hora, do Grupo RBS – afiliada da Globo no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina – protagonizou, nesta semana, nova polêmica no Estado ao publicar uma inédita retratação por um erro cometido em uma charge, assinada por Marco Aurélio.
No desenho, veiculado na edição da última sexta-feira (15), o cartunista ironiza o pagamento de US$ 100 milhões em propina ao governo Fernando Henrique Cardoso, mencionado pelo ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró em depoimento para a Procuradoria Geral da República. A notícia veio a público no dia 11 de janeiro. Só que a caricatura que ilustra a charge não é de Fernando Henrique Cardoso, mas do também ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que nada teve a ver com o episódio. “O chargista Marco Aurélio trocou Fernando Henrique Cardoso por Lula na charge de sexta-feira. Zero Hora pede desculpas a seus leitores”, dizia o texto publicado na segunda-feira seguinte à “barriga” do jornalista. “É uma situação inusitada, um fato inédito no mundo: o jornal pede desculpas por um erro em uma charge! Uma charge pode ser ruim, agressiva, equivocada. Mas não existe uma charge errada, porque não é possível um jornal errar a opinião”, surpreende-se o também chargista e presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Celso Augusto Schröder.
Embora Marco Aurélio ocupe um espaço de opinião, o desenho desinformava o leitor. “É como um erro grave de um médico, é inadmissível”, complementa o presidente da Fenaj.
Procurado pela Carta Maior, o grupo RBS não explicou a que se deveu o equívoco e nem por quantas pessoas o desenho passou antes de finalmente ser impresso no corpo do jornal. Mas afirmou, por e-mail, que vai tomar “providências para que o episódio não volte a acontecer”, sublinhando que o jornal mantém “um rígido processo de checagem das informações, que está em constante aprimoramento”. O Instituto Lula, por sua vez, ironizou o episódio. Ao ser questionado sobre a avaliação do ex-presidente diante do desenho e da errata publicada, a instituição, também por e-mail, resumiu: “Lula não lê Zero Hora”. Não há definição sobre uma eventual ação jurídica diante do caso. Desenho original segue publicado na página web Apesar de ter admitido a falha no jornal impresso, Zero Hora não registrou a errata na internet. Pelo contrário, sua versão digital seguia apresentando o desenho original na editoria de opinião, sem nenhuma menção à troca de personagens, até a tarde do dia 20 de janeiro. A reportagem pediu esclarecimentos sobre esse fato, mas a empresa não respondeu. Mesmo que houvesse publicado o texto alertando o leitor sobre o erro, Schröder avalia que seria preciso retificar a charge, republicando-a com o personagem correto. De fato, usualmente as erratas em jornais impressos tem como regra jamais reproduzir o texto original, apenas referi-lo para então afirmar: “diferentemente do que publicado na edição” – é uma maneira de evitar que o erro se propague. Mas Zero Hora fez diferente neste caso, e republicou o desenho original junto com o texto indicando o equívoco em uma seção extraordinária chamada “Correções” – foram registrado outros dois problemas editoriais na coluna, naquele dia. “Ao reproduzir o desenho com Lula, o jornal reforça uma mensagem”, lamenta Schröder. Cartunista sofre críticas também por mau gosto Embora tenha sido a primeira vez que um desenho de Marco Aurélio tenha gerado uma errata no corpo do jornal, o cartunista é frequentemente criticado por leitores e por colegas de profissão. Dono de um traço um tanto grosseiro, não raras vezes o desenhista é alvo de contestações por piadas consideradas sem graça e até de mau gosto – caso de uma caricatura que insinuava que a presidenta Dilma Rousseff estava gorda (no desenho, Lula dizia que teve que carregar muito peso ao mencionar as férias na praia da mandatária brasileira). Em outro episódio, a secretaria estadual de mulheres do PT chegou a lançar uma nota de repúdio por um desenho que ironizava os panelaços contra Dilma – só que a chefe do Executivo brasileiro era apresentada com marcas de agressão junto a outras mulheres em uma fila da delegacia da mulher. “Esse cartunista é muito ruim, não consegue desenhar, pensar, e agora tem tido dificuldade até em manter o bom senso. E temos muitos desenhistas de primeira linha em Porto Alegre que poderiam ocupar esse espaço nobre. Ou seja, ele não está lá pela qualidade do trabalho, mas por outros interesses”, condena Schröder. Há muitas menções no mercado jornalístico gaúcho de que Marco Aurélio contaria com a proteção da família Sirotski, que comanda o grupo. Em todo o caso, não é a primeira vez que um erro de informação envolve o ex-presidente Lula em falsas acusações na imprensa. “Acontece muito”, afirma o Instituto Lula. “Se a falha se deveu à ignorância do cartunista, se ele não sabia que quem havia sido acusado de receber propina era outro ex-presidente, isso evidencia a linha ideológica que é visível no jornal: parecia lógico que fosse Lula, porque é o que se lê o tempo todo”, conclui o presidente da Fenaj.
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TERRAS ALTAS DA MANTIQUEIRA = ALAGOA - AIURUOCA - DELFIM MOREIRA - ITAMONTE - ITANHANDU - MARMELÓPOLIS - PASSA QUATRO - POUSO ALTO - SÃO SEBASTIÃO DO RIO VERDE - VIRGÍNIA.
sexta-feira, 22 de janeiro de 2016
Chargista troca FHC por Lula e provoca inédita errata em Zero Hora - Desenho fazia referência a entrega de propina, mas vinculou o crime ao ex-presidente errado.
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