sexta-feira, 4 de março de 2016

O governo vai resistir às conspirações midiático-judiciais?

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Análise Diária de Conjuntura - 03/03/2016
O jogo para desestabilizar a população, em todos os sentidos, inclusive emocional, é extremamente pesado.
Tanto a Lava Jato como os grandes grupos de mídia, desde algumas semanas, entraram numa espiral golpista aparentemente sem volta.
A estratégia já foi definida: a delação premiada, como método; o governo, como objetivo.
Falta agora encontrar alguém fraco ou desonesto o bastante para sucumbir às chantagens e métodos modernos de tortura do sistema judiciário.
De vez em quando, a república do paraná faz um estardalhaço: encontrei!
A bola da vez é o senador petista Delcídio Amaral, preso após cair numa cilada um tanto bizarra montada pelo filho de Cerveró.
Ainda não se sabe até que ponto ele cederá (ou se já cedeu) às ameaças dos meganhas da Lava Jato, os quais parecem já ter uma narrativa fechada, e trabalham para subsidiá-la com fatos e depoimentos, não importa se verídicos ou confiáveis.
Carlos Fernando, um dos chefes da Lava Jato no Ministério Público já praticamente confessou o objetivo: derrubar o governo.
Todos os movimentos passaram a convergir violentamente na direção do governo, Lula e Dilma.
A notícia de que Gilmar Mendes assumirá a presidência do TSE dentro de algumas semanas atiçou a fúria da besta.
Os golpistas morrem de medo de que um período de relativa estabilidade política possa fortalecer o governo e reativar a economia.
A mídia, por sua vez, parece mais desesperada do que nunca.
A queda violenta de seu faturamento, as demissões em massa de jornalistas, mostram um setor em crise terminal, cuja única e derradeira esperança é um golpe de Estado, mal disfarçado sob as togas pretas de meganhas midiáticos.
A presidenta da república, Dilma Rousseff, fez um bom discurso hoje.
Trechos: "(...) o combate à corrupção continua sendo uma prioridade do meu governo. Nenhum governo realizou um enfrentamento tão duro e eficiente à corrupção como o meu. E continuará sendo assim. (...) Continuaremos defendendo que o princípio da presunção de inocência vale para todos por ser um instrumento fundamental de nossa democracia (...) “A presunção de inocência não pode ser substituída pelo pressuposto da culpa, nem tampouco dar lugar à execração pública sem acusação formal e à condenação sem processo por meio de vazamentos ilegais e seletivos”.
Em poucas palavras, resumiu tudo.
Evidentemente isso não basta. A guerra contra o governo Dilma é semiótica: vem na forma de imagens, áudios, vídeos, capas, memes.
O contraponto não pode ser uma manifestação pontual. Tem de ser sistemático. Tem de ser uma estratégia organicamente vinculada à gestão administrativa do governo.
Mas isso já cansamos de dizer.
O que os leitores devem estar se perguntando é: a delação premiada de Delcídio - se é que aconteceu - tem o potencial de derrubar o governo?
Eu responderia, com toda a calma do mundo: não tem.
Não sou nenhum oráculo de Delfi. Não sei o que acontecerá.
Na minha humilíssima opinião, porém, o governo Dilma vai resistir a mais esse ataque.
Por que vai resistir?
Aí a minha resposta pode ser um pouco decepcionante para o leitor. Por milagre. Vai resistir por milagre.
O governo Dilma é uma espécie de milagre. Ganhou miraculosamente as eleições e se mantém miraculosamente no poder. Digo miraculosamente porque nenhum governo no mundo jamais ganhou uma eleição em circunstâncias tão difíceis, nem se mantém no poder por tanto tempo sob ataques tão violentos de praticamente todos os grandes meios de comunicação do país.
Todos os governos progressistas, em outros países, obtém apoio e legitimidade dos grandes meios de comunicação. Aqui na América Latina, onde a mídia sempre se pôs a serviço da reação, os governos criaram formas alternativas de se comunicarem, o que lhes permitiu alcançar uma estabilidade relativa ao longo de mais de uma década.
No Brasil, o governo progressista sobrevive por milagre.
O problema da Lava Jato e da mídia é que a sua violência contra o governo é tanta, e os métodos usados tão sujos, que eles conseguiram a proeza de transformar exatamente aqueles que a mídia tenta pintar como monstros, em vítimas. E os heróis, por sua vez, os representantes da lei e da ordem, converteram-se em vilões.
A esquerda brasileira, e nisso ela partilha da mesma opinião de boa parte da população mais pobre, jamais confiou nas autoridades da repressão. Sempre desconfiou que a sua função social, em nossa história, é a de servir ao poder econômico.
Hoje em dia, isso nunca esteve tão claro.
As conspirações judiciais já foram mais discretas. Hoje se movimentam com uma parcialidade gritante. Os empresários só são incomodados quando as narrativa golpista precisa de vilões ricos para enfiar na história contada à opinião pública.
Sempre se soube que o PT não poderia se manter eternamente no poder. E que, um dia, perderia as eleições presidenciais.
Entretanto, os setores herdeiros do autoritarismo histórico da nossa sociedade, exercendo cargos oficiais de autoridade (e que, na falta de uma cultura democrática, usa privadamente), parecem ter perdido a paciência com o processo democrático. Não é a primeira vez, em nossa história, que testemunhamos sua impaciência.
É um erro deles, contudo.
O golpismo redime o PT de uma série de erros políticos.
Foram tantos erros cometidos pelo PT/governo que seria cansativo enumerá-los. Apenas observo que não refiro aos "desvios ideológicos", essas concessões políticas que os partidos de esquerda, em qualquer democracia, precisam fazer ao centro e à direita para poder governar.
Isso é normal. Faz parte do jogo.
Os erros de que falo são outros: indicações equivocadas para tribunais superiores; falta de investimento em estratégias de comunicação, contrainformação e inteligência; ausência de perspectivas em matéria de mobilidade humana.
Construir trens não é coisa de direita ou esquerda. Mas é revolucionário de qualquer forma, e em vários sentidos, a começar pela criação de um novo pólo de empregos industriais.
Entretanto, ao ser vítima de um processo golpista, o PT se redime, além de permitir que o partido se recupere politicamente com mais rapidez.
Hoje o IBGE divulgou os números do PIB de 2015.
O crescimento econômico ficou negativo em 2016, em - 3,8%. Mas os números trimestrais sinalizam recuperação gradual da economia. O auge da crise aconteceu no segundo trimestre de 2015, quando o crescimento foi negativo em 2,1% sobre o mesmo período anterior. Esse número caiu para 1,7% no terceiro trimestre e para 1,4% no quarto.
Os agentes do mercado, segundo o Boletim Focus, estimam uma queda no PIB este ano de 3,4%, mas retomada do crescimento em 2017, para quando esperam crescimento de 0,5%.
Os agentes também estão prevendo que o investimento estrangeiro direto no país se manterá estável. Tanto para esse ano como para 2017, espera-se 55 bilhões de dólares por ano. Isso é um sinal importante.
As exportações agora estão efetivamente crescendo, fazendo com que a balança comercial se mantenha superavitária não apenas por causa da queda nas importações, como vinha acontecendo.
Em fevereiro, as exportações cresceram 5% na comparação com o mesmo mês de 2015, com ênfase na indústria.
Voltando à política, precisamos considerar ainda a possibilidade de que estejamos numa daquelas fases de "instabilidade criativa".
Claro que qualquer forma de instabilidade política, principalmente num país onde um grande número de famílias vive em situação de extrema fragilidade financeira, produz angústia e medo.
O estado de sítio psicológico imposto pela mídia gera uma sensação de insegurança extremamente desconfortável.
O debate político, por sua vez, acontece num ambiente de polarização emocional que estimula o preconceito. Não há,  aparentemente, um debate, porque os contrários se rejeitam com virulência radical.
Nas camadas mais profundas da consciência social, porém, um debate silencioso, intuitivo, continua acontecendo normalmente, quiçá com mais intensidade que antes.
Para a esquerda, por exemplo, nunca ficou tão claro a importância da questão propriamente política, tanto na acepção de diálogo e embate com forças políticas diferentes de si, quanto, sobretudo, o diálogo e o embate com a opinião pública.
Para isso, naturalmente, é preciso aperfeiçoar os instrumentos de comunicação disponíveis, e estes existem.
A internet tornou-se o que é por causa da política, por causa da demanda profunda, visceral, das sociedades democráticas de fugirem dos carteis midiáticos que, até então, pareciam se tornar cada vez mais poderosos, concentrados e descomprometidos com valores democráticos.
O Brasil, porém, mais uma vez, ficou para trás. Assim como fomos um dos últimos países do mundo a abolir a escravidão, também estamos sendo um dos últimos a entender a questão da comunicação como um fator vinculado à essência da democracia.

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