Juarez Guimarães
O maior erro de quem hoje luta pela democracia hoje no Brasil seria o de não dar nome, subestimar e banalizar os fenômenos extremos que estão se alastrando na cena política, social e cultural do país.
O dia 7 de abril fechou-se com a notícia do massacre de trabalhadores sem-terra organizado pela PM do governo do PSDB – o mesmo que reprimiu com requintes de violência os professores em greve - em conluio com seguranças de uma empresa. O dia 8 de abril se abriu com a notícia do assassinato bárbaro – a tiro de espingarda na frente de sua filha de um ano - do presidente do PT da cidade paraibana de Mageiro, Ivanildo Francisco da Silva, de 46 anos. Estes assassinatos devem ser inscritos na cena do ódio que a campanha golpista, dirigida pelo PSDB, vem legitimando no país. Em um artigo editado nesta Carta Maior no dia 14 de junho de 2014 – “ Aécio é o novo nome da barbárie na política brasileira “ – comentava-se o modo como o então candidato do PSDB à presidência comemorava o fato de uma multidão de classe média paulistana no jogo de abertura da Copa do Mundo havia, em transmissão para todo o mundo, ofendido a presidenta da República com palavras machistas de baixo calão. “Acho que ela colheu um pouco aquilo que ela plantou nos últimos anos”, disse ele. O fato, depois esclarecido como preparado e estimulado por empresários ligados ao PSDB paulista, era analisado, então, como uma advertência: “ Este ódio, a princípio, não tem limites como todo fenômeno extremo da política. Na cena da abertura da Copa, ele veio à tona”.
Este ódio político foi renovado no dia 30 de novembro pelo candidato derrotado Aécio Neves, em um programa da Globo News: “Na verdade, eu não perdi a eleição para um partido político. Eu perdi a eleição para uma organização criminosa, que se instalou no seio de algumas empresas brasileiras patrocinadas por este grupo político que aí está.” Qual violência seria, então, injustificada para esmagar esta quadrilha?
“Dilma não deve ser salva”, afirmava FHC em uma entrevista, seguida por uma charge na capa de O Globo, de Chico Caruso, mostrando a presidente prestes a ter a cabeça cortada por um extremista do estado islâmico. O chargista gravaria na primeira página do mesmo jornal, no dia 4 de agosto, a charge com José Dirceu atrás das grades afirmando: “Agora, só falta você”. A imagem de Lula preso passou a frequentar a imagem e a publicidade da campanha golpista logo após FHC em uma entrevista à revista alemã Capital, reproduzida na agência de notícias Deutsche Welle, afirmar: “ Se o merecer, quem dirá será a Justiça e é de se lamentar porque teria jogado fora ( coisa que vem fazendo aos poucos) sua história”. Com o apoio massivo das TVs, rádios, revistas e jornais, esta campanha do ódio se abismou no cotidiano dos brasileiros ao longo de 2015. Já em 9 de dezembro de 2014, o deputado fascista Bolsonaro havia ameaçado no plenário da Câmara Federal ( depois, repetida no jornal Zero Hora) que não estupraria a deputada federal do PT, Maria do Rosário, “porque ela não merece, é muito feia, não faz meu gênero”. Pior: editoriais do jornal O Globo e da Folha de S. Paulo, defenderam o direito do deputado falar tais barbaridades, embora, é claro, não concordassem com o que ele disse. No dia 19 de fevereiro de 2015, o ex-ministro Guido Mantega, em visita a um amigo, foi insultado no Hospital Albert Einstein por uma mulher aos gritos de “Vai pra o SUS!” e “Vai para Cuba!”. No dia 5 de outubro de 2015, no velório do ex-presidente do PT, José Eduardo Dutra, em Belo Horizonte, um carro passou atirando panfletos com os dizeres “Petista bom é petista morto”. Após um primeiro atentado com artefato explosivo ao Instituto Lula, inúmeras sedes do PT, do PC do B e da UNE passaram a ser atacadas, em vários estados do país. A sede do PT de Belo Horizonte foi atacada três vezes, sendo na última vez depredada. As agressões a quem usa roupas vermelhas na avenida Paulista por grupos de extrema direita passaram a ser recorrentes. Até um cadeirante foi espancado. Da última vez, em 16 de março deste ano, uma jovem com bicicleta vermelha foi covardemente espancada aos gritos de “A bicicleta é vermelha, vai para Cuba”, “putinha comunista”. Na manhã do dia 24 de março, o cardeal D. Odilo Scherer, em uma celebração da semana santa, foi agredido por uma mulher aos gritos de que a CNBB era comunista e estava destruindo a igreja. Mas a barbárie não tem limites: no dia 29 de março, o presidente do Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Sul, Paulo de Argollo Mendes, afirmou no jornal Diário Gaúcho sobre a médica pediatra Maria Dolores Bressan, que recusou-se a marcar uma consulta para um bebê por que a mãe era petista: “ Ela tem a nossa admiração!”. Neoliberais e fascistas No dia 9 de dezembro de 2014, publicamos no site Carta Maior o ensaio “O PSDB virou um partido golpista?”. Nele, procurava-se diagnosticar a natureza do movimento político do PSDB: após quatro derrotas sucessivas nas eleições para a presidência, o segundo partido mais influente do Brasil estava, consistentemente, radicalizando o seu programa neoliberal, aumentando a sua organicidade em relação à inteligência do capital financeiro norte-americano, endurecendo o seu discurso na área de segurança pública, adotando o discurso do ódio como central e, principalmente, passando a adotar a desestabilização de um governo eleito como estratégia central. Este primeiro artigo publicado no país em que se documentava, nos termos da ciência política, o diagnóstico de uma nova natureza do PSDB foi amplamente confirmado nos meses que se seguiram. Assim como intelectuais ligados ao chamado “liberal-desenvolvimentismo” haviam dele se afastado nos últimos anos, agora são os seus intelectuais históricos mais ligados a uma cultura democrática e de direitos humanos que se afastam. Está se formulando neste ensaio a noção de uma aliança do PSDB com movimentos e lideranças políticas fascistas a partir de uma frente organizada pelo discurso do ódio. O que isto significa? Não seria extemporâneo chamar de “fascista” a reações inflamadas motivadas por um discurso de ódio, sem organicidade a um projeto de poder? Não seria também demasiado denunciar a aliança de neoliberais com fascistas? Não são fenômenos muito diversos? Movimentos fascistas, como todo fenômeno político, devem ser sempre rigorosamente historicizados e singularizados. O movimento político organizado sob a liderança de Pinochet, no Chile, tinha várias características fascistas mas o seu nacionalismo não era expansivo mas subordinado ao Estado norte-americano desde o início. Também era centralista e repressivo mas não estatista já que fundiu-se com correntes neoliberais radicais na economia. O PSDB, mesmo em seu movimento para a direita, como um partido golpista, não é um partido fascista. Há uma diferença entre uma direita extrema e uma extremismo de direita. Mas o programa neoliberal radical que adotou é incompatível com a democracia brasileira, com a força do PT, do PC do B e dos outros partidos de esquerda, dos movimentos sociais. Daí sua aliança com forças que se organizam identitariamente através do discurso do ódio e pregam a violência aberta contra a esquerda. Estes movimentos e atores políticos de identidade fascista, assim definidos, não têm hoje ainda estrutura, partido, lideranças nacionais com capacidade de dirigir um processo amplo. Mas cumprem um papel importante, destrutivo, de ponta-de-lança, operando a convergência de preconceitos machistas, raciais, contra os pobres ao ódio à esquerda. Por isto – para a vergonha de quem se filia ao PSDB histórico – nenhuma liderança nacional do PSDB veio até agora condenar o ódio e a violência dos fascistas. Pois eles estão, na cena do golpe, de mãos dadas. Por isto, a denúncia do golpe é também e, cada vez mais, a denúncia dos fascistas, daqueles cuja identidade é construída através do ódio e da incitação aberta à violência contra a democracia e seus direitos.
*
|
TERRAS ALTAS DA MANTIQUEIRA = ALAGOA - AIURUOCA - DELFIM MOREIRA - ITAMONTE - ITANHANDU - MARMELÓPOLIS - PASSA QUATRO - POUSO ALTO - SÃO SEBASTIÃO DO RIO VERDE - VIRGÍNIA.
sábado, 9 de abril de 2016
O PSDB de mãos dadas com fascistas - O discurso anti-pluralista do ódio é a linguagem política do golpe ao propagar e legitimar a violência como meio de impor um programa neoliberal radical.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário