terça-feira, 5 de julho de 2016

A relação da 31ª fase da Lava Jato com a nova rodada de privatizações que vem aí.

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Por Pedro Breier, correspondente policial do Cafezinho.
A semana começa com a 31ª (sim, trigésima primeira) fase da operação Lava Jato. Foram expedidos um mandado de prisão preventiva, quatro de prisões temporárias, sete de condução coercitiva e vinte e três de busca e apreensão. O único mandado de prisão preventiva é destinado ao ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira, que já havia sido preso no último dia 24, na operação Custo Brasil, "filial" da Lava Jato em São Paulo. Mandar prender preventivamente quem já está preso virou mais um padrão de autoritarismo made in Curitiba. A manchete envolvendo alguém do PT para figurar em destaque nos sites da mídia monopolizada está garantida. Sérgio Moro acumula as funções de juiz, herói coxinha e editor de portal.
A mais nova operação da Lava Jato foi batizada de "Abismo". A PF explica: "Abismo é uma referência utilizada para a identificação desta nova fase da operação policial e remete, dentre outros aspectos, às tecnologias de exploração de gás e petróleo em águas profundas desenvolvidas no CENPES, mas também à localização das instalações (Ilha do Fundão) e a demonstração que esquemas como estes identificados levaram a empresa aos recantos mais profundos da corrupção e da malversação do dinheiro público".
A parte do "recantos mais profundos da corrupção" é somente sensacionalismo rasteiro e ridículo. Mas a referência às tecnologias de exploração de gás e petróleo em águas profundas permite-nos uma boa reflexão. A Petrobras é referência mundial nesse tipo de exploração. Por meio da tecnologia de exploração em águas profundas desenvolvida pela estatal brasileira foi descoberto o pré-sal, maior reserva de petróleo encontrada no século XXI no planeta.
A PF batizar uma operação policial fazendo referência a um dos grandes méritos da Petrobras é simbólico da falta de responsabilidade de Moro, PF e MPF. Enquanto na Europa e nos EUA a punição a grandes empresas envoltas em corrupção se dá com todo o cuidado em relação aos possíveis efeitos sociais e na economia do país - por isso o foco é em multas e punição dos executivos -, a Lava Jato simplesmente tenta destruir as empresas investigadas. Boa parte da queda no PIB nacional e do aumento do desemprego foi causada pela operação. A sanha punitivista irresponsável é tanta que até a tecnologia de ponta desenvolvida pela Petrobras vira referência para nome de operação policial.
É apenas o mais recente capítulo da campanha de desmoralização da estatal empreendida há anos pelo conservadorismo brasileiro. Essa tentativa recorrente de diminuir o valor das instituições públicas perante a sociedade deve ser vista no contexto da estratégia clássica da direita tupiniquim: desmoralizar tudo que é público para vender a ideia de que a única solução possível é a privatização. O velho neoliberalismo, criticado até pelo FMI há poucos dias, não sai de moda no Brasil. Temer já avisou que vai privatizar tudo, "na medida do possível". Caso o golpe seja consumado no Senado podemos esperar mais uma rodada de negociatas escusas e derretimento do patrimônio público. Bem-vindos aos anos 90.
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