quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Vermelho, verde-oliva ou a escuridão.




por Sergio Saraiva




Não importa que pesquisa seja feita, Lula está liderando. E seria virtualmente eleito no primeiro turno se pudesse concorrer – a pesquisa Datafolha de 22 de agosto de 2018 aponta Lula com 45% dos votos válidos; quando descontados os votos brancos, nulos e não sabe. Com a margem de erro a seu favor pode chegar a 47% de intenção de votos válidos.

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Mas Lula está preso e, malgrado as determinações da ONU e as preces do Papa, é bem possível que assim permaneça até as eleições.
As atenções então se voltam naturalmente para Haddad – sucessor apontado pelo próprio Lula.
Aos pouco está se formando o consenso de que Haddad herdará os votos de Lula para chegar, pelo menos ao segundo turno. E os dados de duas pesquisas correlacionadas confirmam isso.
A primeira – a pesquisa XP-IPESPE de 17 de agosto de 2018 - aferiu diretamente o potencial eleitoral de Haddad quando o apresentou aos pesquisados como o “candidato de Lula”. As intenções de voto de Haddad assim somaram 15% - colocando-o no segundo turno contra Bolsonaro, que tem 21% de intenções de voto.
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Essa pesquisa mostra ainda uma consistente subida de Haddad, a partir da 4ª semana de julho de 2018.
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Temos agora, em 22 de agosto de 2018, a pesquisa Datafolha. Nela, Haddad, no cenário sem Lula, cai para a 5ª posição com “apenas” 4% de intenções de voto. E a Folha comemora:
“o nome ungido por Lula para substitui-lo em caso de inabilitação, o de seu candidato a vice, Fernando Haddad, não tem uma largada muito promissora na missão de herdar votos do mentor: tem apenas 4%, empatado com o senador Álvaro Dias (Podemos), no cenário sem o ex-presidente”.
Puro wishful thinking. Nessa pesquisa, faltou a Folha combinar com os “russos” que Haddad é o candidato de Lula.
Isso porque, quando a Folha avalia a capacidade de transferência de votos de Lula, 49% dos pesquisados respondem que votariam ou poderiam votar em um candidato apoiado por Lula. A Folha, em mais um delírio de wishful thinking, prefere dar destaque em sua chamada para os 48% que não votariam nesse candidato – optaram por olhar o meio-vazio do copo.
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Ora, quando, em um cálculo simplório, se aplica esse potencial de transferência (49%) ao índice de intenção de votos de Lula (39%), chega-se a um hipotético índice de 19% de intenções de voto para o “candidato de Lula” – Haddad ainda não apresentado à totalidade do eleitorado petista.
Assim, o Datafolha (19% para o “candidato de Lula”) acaba indiretamente concordando com a Pesquisa XP-IPESPE (15% para "Haddad – candidato de Lula”).
Mais uma vez, o segundo turno se desenha entre Bolsonaro e Haddad. Aparentemente, há pouca dúvida de que Lula transferirá votos a Haddad e de que o piso dessa transferência parece estar mesmo em torno dos 15% de intenção de votos.
Como os outros candidatos estão muito distantes disso – com 6 pontos percentuais abaixo, Alckmin com 9% é o terceiro na pesquisa XP- IPESPE e, com 11 pontos percentuais abaixo, Marina Silva com 8% é a terceira colocada na pesquisa Datafolha, no cenário com Lula – é difícil que o prognóstico Bolsonaro X Haddad mude. Até porque, a pesquisa XP-IPESPE mostra que apenas Haddad cresce, todos os outros candidatos, incluindo Bolsonaro e Alckmin, estão estacionados.
Resta agora apenas uma incógnita – o horário eleitoral no rádio e televisão – onde Alckmin é um latifundiário com 40% do tempo disponível.
O problema de Alckmin é que terá de vencer pelo menos um candidato de dois candidatos que não precisam do horário gratuito. PT e Bolsonaro têm militância e eleitorados consolidados.
Há, no entanto, ainda uma margem de 25% do eleitorado, no cenário sem Lula, que declara votar “nulo, branco ou não sabe”. Esse é o território de caça em disputa na campanha eleitoral. Na melhor das suas hipóteses, Alckmin teria de conquistar 1 em cada 4 desses eleitores - e Haddad nem um – para ir para o segundo turno contra Bolsonaro. Missão nada fácil.
Isso talvez explique o “nervosismo do mercado”. E talvez os nervos à flor da pele do TSE. No STF, já houve mesmo quem defendesse a jurisprudência do "cada macaco no seu galho".
A questão que desponta, a partir de agora é: depois do investimento em um golpe que derrubou uma presidente eleita sem crime de responsabilidade e prendeu um ex-presidente sem provas e do custo de se indispor internacionalmente com setores influentes que defendem a volta da normalidade democrática no Brasil com a participação de Lula nas eleições, suportarão ver tudo se acabar em Bolsonaro e Haddad?
Em 15 dias, com o horário eleitoral começado, teremos a resposta.

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