domingo, 30 de setembro de 2018

Votamos pelo bolso ($) ou pelo discurso? - Por que votamos em quem votamos? Já vi pelo menos quatro teses que pretendem responder essa pergunta e que valem a pena serem analisadas.

 






Por que votamos em quem votamos?A pergunta que vale um milhão no momento é: quem vai ganhar as eleições para presidente? Para responder essa pergunta precisamos ter certeza de como funciona o comportamento do eleitor no Brasil. O problema é que raramente existe certeza quanto ao comportamento humano. Precisamos saber qual o motivo mais forte dos eleitores, em sua maioria, votarem em determinado candidato. Já vi pelo menos quatro teses que pretendem responder essa pergunta e que valem a pena serem analisadas.

A primeira é uma ideia elitista: as pessoas votam pelo discurso. Ou seja, aquele que tiver o melhor plano de governo, as melhores ideias para solucionar o problema da economia e da corrupção e outros problemas, vai ser o escolhido pelo eleitor. A segunda é que votamos naquele que fala mais alto: Aquele que é mais fala com mais certeza, que fala que “vai lá e vai colocar ordem na casa” será o escolhido. Tanto é que a maioria dos nossos presidentes durante a democracia tinham discursos incisivos. Eles acusavam os outros, etc.

A terceira é que eles eram lembrados por uma proposta fácil de ser entendida, a proposta mais popular. Alguns presidentes eram chamados de populistas por terem um discurso que as massas entendiam. Assim Vargas (era conhecido por ser o pai dos pobres), Jango (reforma agrária), JK (ia fazer o país crescer 50 anos em 5), Collor (caçador de marajás) e Lula (combate à fome). 

Com a união do populismo e a teoria do que fala mais alto vemos que começa uma guerra de discursos: de um lado alguém fala que a melhoria de vida, mais concursos públicos só aconteceram por causa do LULA e a crise econômica é por causa da crise mundial. Do outro lado eles invertem, falam que a vida melhorou por que a economia mundial estava crescendo e a crise é aconteceu por causa do governo da Dilma que gastou demais. Se o discurso é verdade ou mentira, não vêm ao caso. Tudo gira em torno de criar uma ideia de causalidade que o maior número de eleitores entenda. Criar uma ideia que seja absorvida desde o analfabeto até o pós-doutorado. Nas pesquisas estamos vendo quem convence mais. 

Não é surpresa que o candidato que fala que “armar o cidadão de bem é a solução para a segurança” esteja na frente enquanto o candidato que fala da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) e do           aumento da competitividade das empresas” tem baixa intenções de voto e não cresce. O discurso do Alckmin não é fácil, logo não é entendido. 

Votar pelo bolsoA última ideia é que a população vota pelo bolso, quando digo bolso me refiro ao dinheiro na carteira. Pois, uma parte significativa da população, pelo menos um QUARTO sabe o que é viver sem muita expectativa de ascensão social. Uma a cada quatro pessoas faz parte de uma família que recebe Bolsa Família. Essa mesma população, depois de 8 anos de um governo de esquerda, ver o filho chegar à faculdade, o pai de família faz um empréstimo, depois reforma a casa, compra um carrinho ou uma moto, o filho arruma um emprego. E esses acontecimentos ficam na memória da família, é muito difícil esquecer isso tudo e votar em um candidato de extrema direita. Não estou me referindo apenas à população do Nordeste, mas a população de baixa renda de todas as regiões do Brasil. 

Agora perguntamos novamente: Por que votamos em quem votamos? Ou qual motivo é o melhor? A resposta é todos. A população com maior escolaridade vai analisar as proposta e votar naquele que tem o melhor discurso enquanto os com menos escolaridade votam no que tiver a proposta mais popular. E por ai vai atendendo a diversidade do povo Brasileiro. 

A chegada da primaveraContudo tem um motivo que se sobressai: O voto pelo bolso. O fato de ter melhorado de vida e essa melhora ser associada a determinado governo é muito difícil de sair da memória da população. A razão de ser da força dessa memória vem de uma característica do nosso país:  a Desigualdade. O Brasil é um país muito desigual tanto na renda que as pessoas recebem quando nas oportunidades que existem para uns e simplesmente não existem para outros. Segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas o Brasil foi considerado o décimo país mais desigual no Ranking. 

Vejamos como isso influencia com um exemplo do que aconteceu em 2014 nas eleições presidenciais. A grande mídia mostrava escândalos de corrupção e apontava o governo do PT como uma quadrilha (uma forte propaganda contra o PT). Lembremos a capa da veja de setembro daquele ano mostrando uma delação apontando muitos envolvidos e a cor vermelha em suas páginas. A operação lava jato investigava esquemas envolvendo o governo. Um candidato a presidência morreu em um trágico e misterioso acidente, deixando apenas uma candidatura de direita para conquistar os votos contra o PT. Com tudo isso o povo foi lá e elegeu a Dilma. O povo votou pelo bolso, pela melhoria de vida. O povo passava fome durante o último governo FHC, o Brasil sofreu apagões de energia, o real estava desvalorizado e os preços aumentaram, o desemprego aumentou, etc. não importa se isto foi por causa do governo, a tendência é que seja associado àquele governo. Por mais ódio do PT que parte da população tenha elas vão lembrar. As pessoas vão lembrar o que aconteceu depois que o Temer assumiu: os cortes do bolsa família, aumento do preço dos combustíveis, uma greve de caminhoneiros que parou o país, os institutos federais que fecharam, dos hospitais que entraram em greve, os cortes das bolsas dos estudantes universitários, etc. Como o ex-presidente falou: “Os poderosos podem matar uma, duas, ou 3 rosas, mas jamais conseguirão deter a chegada da primavera”. 

José Jaime da Silva é Economista formado pela UFPE-CAA e mestre em estatística pela ENCE, atualmente é assistente de pesquisa no IPEA


CARTA MAIOR

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