OS DIVERGENTES
Um reducionismo comum nas eleições 2018 é creditar o protagonismo de Jair Bolsonaro (PSL) exclusivamente ao antipetismo. Por este viés, o capitão da reserva apenas personifica a oposição ao PT.
A carapuça interessa aos dois principais contendores no pleito hodierno. Ao próprio e a seu principal adversário, Fernando Haddad (PT), escolhido por Lula para representá-lo diante dos eleitores.
Para Bolsonaro é oportuno ser visto como o único capaz de impedir nova ascensão petista ao poder, pois agrega em torno de si a massa antipetista. No caso de Haddad, a motivação é mais ampla.
O receio em relação ao candidato do PSL, que atingiu 46% de rejeição na última pesquisa Datafolha, vai além do lulismo. Bolsonaro, por nunca ter ocupado o Executivo, configura-se uma incógnita maior do que a do PT.
O PT no poder não é um desconhecido. Pode representar a volta da esquerda conservadora, que prega receitas recessivas com espasmos de prosperidade mas sem soluções duradouras & que flerta com o autoritarismo, mas não será uma surpresa completa.
No poder, o PT sempre adotou ao extremo o pragmatismo político com o intuito de se manter no comando eterno da Nação. Para tanto, amalgamou-se com os mais reles dos políticos desde que tivessem votos.
Novo mundo
Diferente do lulismo, mais sofisticado ideologicamente e flexível politicamente, o bolsonarismo não tem experiência alguma no poder. Resume-se ao voluntarismo de um personagem tosco.
Economista Paulo Guedes. Foto André Valentim/Divulgação
Bolsonaro é uma incógnita maior. Pode adotar a agenda liberal de seu guru econômico, Paulo Guedes. Ou não.
Lula, que será o presidente oculto do Brasil – a menos que a criatura se rebele contra o criador como fez Dilma Rousseff (PT) -, deverá aperfeiçoar o modus operandi. Talvez seja mais inflexível, mas provavelmente manter-se-á politicamente pragmático.
Como política não é linear, Bolsonaro, em que pese ser um político mal-acabado, representa estamentos expressivos da sociedade brasiliana. Há lideranças intelectualmente preparadas à direita, mas sem a capacidade de arregimentar multidões.
Desprezar esta evidência é afrontar a complexidade social e política do Brasil. As mudanças profundas pelas quais passa o mundo todo após o cataclismo que sepultou a sinistra afligem todas as democracias.
À dualidade EUA x URSS que predominou no século XX sobreveio a pluralidade de pensamento do século XXI. Como este novo mundo está em formação, vivenciamos as dores do parto.
O que antes seria uma anormalidade, passa a viger como normalidade, por mais espanto que provoque.
Assim, vemos gays de direita. Banqueiros de esquerda. Cristãos abortistas. Direita e esquerda estatizantes. Esquerda e direita liberais.
Bolsonaro representa uma parcela expressiva dos brasileiros que defendem valores tradicionais e soluções distintas daquelas apregoadas pelo PT. Ele pode não ser o melhor representante, mas é o que está à mão.
Cansaço
Entre outras características, seus simpatizantes cansaram-se do Estado gigamenso e opressor. Cansaram-se do culto à miséria e a criminalização da riqueza. Cansaram-se de leis que sobrecarregam empresários.
Cansaram-se dos militantes de direitos humanos, majoritários na mídia, que pregam a vitimização de marginais e a demonização das polícias. Cansaram-se de professores doutrinadores e que bloqueiam o pensamento direitista.
Cansaram-se da pregação em favor do aborto, quando a maior parte da população é contrária à sua liberação. Cansaram-se do desprezo com valores cristãos tradicionais.
Cansaram-se da política como meio para a ladroagem. Cansaram-se, enfim, de ver um partido fazer do Brasil uma extensão de seus diretórios.
Provavelmente esta parcela de brasileiros está iludida ao eleger Bolsonaro como a redenção de suas vidas. Certamente muitas são as contradições dentro desta multidão que pode chegar a um terço dos brasileiros.
Não interessa. Os que veem Bolsonaro como o messias vão além do antipetismo, pois vêm o mundo de um jeito diferente independente do candidato.
“O advento sólido da democracia, parida há 33 anos,
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segunda-feira, 1 de outubro de 2018
Os votos de Bolsonaro vão além do antipetismo.
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