quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Irritadíssimo com a derrota, Aécio insiste em linha dura.

Aecio_Bravo01

A radicalização não é a praia do presidente do PSDB, senador Aécio Neves. Pesquisa realizada pelo PMDB do Rio de Janeiro apurou que, logo após o debate televisivo em que o então presidenciável Aécio Neves dirigiu-se a presidente Dilma Rousseff como “mentirosa” e “leviana”, o candidato tucano apresentava cerca de 400 mil votos a menos do que na véspera. Antes daquela reação, Aécio contava, segundo os organizadores da chapa Aezão, com 1,4 milhão de intenções de votos no Estado, mas fechou a jornada com cerca de 800 mil. Em outras palavras, o ataque direto a Dilma foi um péssimo negócio eleitoral para ele.
Dali para a frente, o certo é que Aécio deu de ombros para as pesquisas e não parou mais de bater. Em frases soltas, entrevistas, discursos e notas oficiais, ele passou a desenvolver uma estratégia de confronto que, para muitos, resvala no questionamento do próprio sistema democrático.
No fim da manhã de quarta-feira, dia 3/12, depois de aquiescer contra presença de baderneiros nas galerias do Congresso na véspera, Aécio ocupou o microfone de apartes para despejar nova carga de bílis sobre Dilma.
– Hoje a presidente coloca de cócoras o Congresso ao estabelecer que cada um aqui tem um preço. Fala-se em R$748 mil. Essa é uma violência jamais vista nesta casa, disse o senador mineiro.
Baderneiros pagos.
Sabe-se que há outra versão, mais plausível, para explicar a votação que estava em curso, sobre a derrubada da obrigatoriedade de feitura de superávit fiscal em 2014 e, em seguida, a liberação de emendas parlamentares com recursos no Orçamento. Numa atitude que pode ser dura, mas tem justificativa financeira, o governo resolveu condicionar a liberação de emendas a desobrigação do superávit. Afinal, com gastos extras estimados em quase R$500 milhões, como o governo poderá fazer o superávit?

Além da conta que não fecha, o carnaval que a oposição faz em torno da derrubada do superávit está em conflito com o que acontece no mundo. Entre os 20 países mais ricos do planeta, que compõe o G20, nada menos que 16 não tem a obrigação de fazer superávit. A alegação do governo é que a obrigatoriedade deixaria o Orçamento dentro de uma camisa de força e, para evitar essa situação, busca usar de sua maioria parlamentar, construída em eleições livres, para aprovar sua proposta.
Para Aécio, no entanto, o jogo de a maioria parlamentar aprovar matérias com as quais a minoria não concorda parece ter se tornado antidemocrática.
– Esta é a casa do povo, e o PT tem de aprender a conviver com o povo novamente nas galerias, insistiu Aécio, em nota divulgada pelo PSDB.
O senador preferiu desconhecer que há fortes suspeitas de que militantes políticos teriam sido pagos para, a partir das galerias, tumultuar a sessão. O que se sabe é que a balbúrdia impediu na noite da terça 2 a votação do projeto, enquanto hoje os parlamentares votaram, em maioria, para o exame e o voto da matéria sem acompanhamento do público.
– Escondidinho, definiu Aécio.
Mesmo que tenha justificativa na derrota eleitoral de outubro, a postura do senador e presidente do PSDB está espantando os meios políticos.
– Eu não estou reconhecendo o Aécio, resumiu o governador do Ceará, Cid Gomes, do PROS.
Incoerência histórica.
Mais do que uma provocação, a estupefação de Cid também é de outros analistas. Historicamente, a partir da entrada na política pela mão de seu avô Tancredo Neves, Aécio sempre foi um político cordial e de diálogo. Como o avô, ele sempre marcou com nitidez as suas posições, mas nunca escolheu a radicalização. Em 1964, talvez na votação mais dramática do Congresso Nacional, o então deputado Tancredo Neves, do referencial PSD, votou contra a declaração de vacância da Presidência da República, o que abrir as portas do Congresso ao golpe militar. Nos anos seguintes, sempre pela oposição, Tancredo foi um batalhador pela volta da democracia, ainda que não saísse pelas ruas xingando os militares ou participando de ações de luta armada. Em 1983, de mãos dadas com colegas que haviam apoiado o regime militar, Tancredo reconduziu com sua candidatura o País à democracia, culminando uma trajetória de crença na política e ojeriza à violência. Aécio, então um jovem com pouco mais de 20 anos, o acompanhava.

– Em Minas, todos reconhecem Aécio como um herdeiro do que o PSD tinha de melhor, mas ele tem-se comporta como um radical da UDN, analisa o deputado federal Leonardo Picciani, do PMDB fluminense, que fez campanha para Aécio em seu Estado. Não se tem notícia, até agora, de um gesto de agradecimento, por parte de Aécio, da mobilização feita em torno da chapa Aezão.
O nervosismo de Aécio pode estar ligado a dois fatores. Um deles está no STF. Caso o relator Gilmar Mendes, das contas eleitorais da presidente Dilma, as rejeite, Aécio acredita que poderá sair na liderança de um pedido de impeachment contra ela.

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