terça-feira, 5 de maio de 2015

O FEIO PAPEL DE MARTA SUPLICY.

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Num partido que ajudou a aprovar a terceirização na Câmara, anti-petismo radical de ex-prefeita mostra até onde ela pretende ir para dar sua contribuição para o massacre ideológico do Partido dos Trabalhadores.

Fui eleitor de Marta Suplicy sempre que ela se candidatou a cargos majoritários e nunca tive motivos para arrependimento. Até onde se pode avaliar, Marta teve uma atuação coerente como liderança de um partido que, com falhas e defeitos conhecidos, construiu um compromisso real com os trabalhadores e a população mais pobres.
Marta também demonstrou coragem para defender os direitos das mulheres e dos gays, confrontando preconceitos de uma cultura patriarcal e provinciana.
Ao trocar o Partido dos Trabalhadores por uma vaga de candidata a prefeita de São Paulo pelo Partido Socialista Brasileiro, Marta Suplicy assumiu um discurso agressivo e fora de medida para quem permaneceu 33 anos no partido. Pela melodia e regularidade, o radicalismo nas críticas não é fruto do acaso. Deixa claro quais votos Marta pretende conquistar e até onde pretende ir para tentar derrotar Fernando Haddad e dar sua contribuição ao massacre ideológico sofrido pelo PT.
Prefeita de São Paulo, deputada e senadora, nos últimos oito anos Marta foi ministra do Turismo e depois da Cultura. Nos dois casos, foram nomeações de caráter político, que sempre representam generosas oportunidades para o ocupante reforçar o próprio cacife político.
Como lembrou o colunista Carlos Melo (Estadão, 5/3/20/15): “A senadora não pode fugir à responsabilidade.”
Na conjuntura atual, bem diferente daquela de ascensão de Lula e do PT, em que Marta construiu a carreira política, ela deixou de ser objeto de críticas. As mesmas forças que passaram três décadas em seu encalço, inclusive pela divulgação de anedotas ofensivas e vergonhosas, agora fazem o possível para não criar embaraços de nenhum tipo.
Em 2015, num país polarizado, onde é possível enxergar vestígios dos velhos conflitos entre classes sociais nas disputas entre tucanos e petistas, Marta precisará de ajuda e compreensão para convencer os eleitores que não só mudou de partido — o que teria ocorrido também se tivesse por exemplo preenchido a ficha do PC do B — mas foi muito além e trocou de lado.
A partir de agora ela caminhará de braço dado com as mesmas forças que a chamaram de Martaxa, batalham pelo impeachment de Dilma, estimulam a caçada a Lula e, em São Paulo, combateram os CEUS como artigo de luxo, e o Bilhete-Único como desperdício.
Em 2016, seu papel será somar o respeitável cesto de votos que possui num frentão anti-Haddad, anti-PT, anti-Lula e anti-Dilma. Seu novo partido não só integra a parte sólida da base de sustentação do governo Geraldo Alckmin e do PSDB paulista. Tem um horizonte nacional, planeja unificar-se com o PPS — tropa de choque do impeachment e da Lava Jato — e enxerga 2016 como uma etapa intermediária para 2018.
Considerando a própria origem, no berço mais aristocrático da elite brasileira, a mudança de Marta pode ser interpretada — sociologica e politicamente — como uma volta às origens. A cena é a seguinte: a companheira de viagem — que desempenhou um papel elogiável e relevante em vários momentos — tomou o rumo de casa.
Como todos se recordam, a grande contribuição programática do PSB para a campanha presidencial de 2014 foi relançar a velha bandeira da independência do Banco Central, a mais cara reivindicação do capital financeiro. Rachada, sua bancada no Congresso assegurou 21 votos preciosos para a aprovação do PL 4330, da terceirização. Se tivesse votado contra, o projeto deteria sido derrotado.
Marta também tem invocado razões éticas para a mudança de partido. Parece uma alegação eleitoralmente conveniente em tempos de Lava Jato, mas cabem duas observações.
Não convém, para quem deixou o PT há menos de uma semana, fingir que este partido é o único que enfrenta o problemas éticos mais graves e profundos do que seus adversários. Um eleitor mais atento logo irá se perguntar o que ela fez ali, durante três décadas de campanhas financeiras, eleições — e denúncias sem fim. A verdade é que hoje nem os jornais dos grandes grupos de comunicação, adversários assumidos do governo federal, deixam de reconhecer que a oposição tem recebido um tratamento benigno e mesmo generoso nas poucas vezes em que denúncias que podem comprometer seus dirigentes chegam à Justiça e ao Ministério Público. Depois do mensalão PSDB-MG, do metrô paulistano e do helicóptero com 400 quilos de cocaína, prepara-se uma nova operação-abafa nas delações da Lava Jato, conforme Folha de S. Paulo de hoje. Nem o PSB está a salvo dessa situação, convém recordar. O doleiro Alberto Yousseff disse em depoimento que, por recomendação do corrupto confesso Paulo Roberto Costa, entregou uma propina de R$ 10 milhões a Eduardo Campos, então líder máximo e chefe absoluto do PSB, para que ele “não criasse problemas na construção” da usina Abreu e Lima, em Pernambuco. Outro fato é que até hoje não se esclareceu a compra do jato em que Eduardo Campos viajava no momento em que ocorreu a tragédia que lhe tirou a vida.
Psicanalista de profissão, Marta entrou no PT pelo andar de cima, como celebridade de um programa de educação sexual da TV Globo e na condição de primeira dama na casa de Eduardo Suplicy. Teve acesso a Lula e logo frequentou o altar das grandes decisões do Partido. Podia falar e era ouvida.
Fora do PT, está livre dos ataques desleais, preconceituosos e deselegantes que a perseguiram por três décadas. Seus deslizes serão perdoados. Os pecados mais graves serão esquecidos.
Não porque suas ideias passaram a ser aceitas — o que seria ótimo — mas porque a política bem feita precisa de prioridades.
Justamente por ter sido quem se tornou, Marta Suplicy hoje é um instrumento precioso para elite dirigente avançar na meta que se propôs a partir de quatro derrotas presidenciais: derrotar, por todos os meios, inclusive ilegais, o partido que, de modo muito parcial, num processo com muitas falhas e que merece correções, construiu a mais ampla política de distribuição de renda e combate à desigualdade da história do país.

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